
Emanuel Medeiros foi anunciado este sábado como o nome escolhido pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para liderar o novo Comité de Ética da FPF, uma escolha que deixa o próprio orgulhoso face à aposta num organismo que possa implementar normas anti-corrupção, ética, transparência e boa governação. Em declarações a Record, Emanuel Medeiros, que também é co-fundador e Global CEO da Sport Integrity Global Alliance, explicou como surgiu a oportunidade e lançou as metas para esta aventura.
Desde logo, revela como aceitou o convite endereçado pelo presidente da FPF, Pedro Proença. "Conhecendo o meu trajeto e percurso, e as provas dadas a vários níveis nacionais e internacionais na indústria do futebol e não só, recebi este convite e acaba por ser um virar de uma página. Espero contribuir para uma boa governança e boa reputação e credibilidade da federação para uma dignificação cada vez maior do desporto nacional. Depois de ter feito uma profunda reflexão, sem nunca deixar de sentir o futebol português, que é o meu futebol, sempre expressei visões e propostas que podiam ser aproveitadas para reforçar a sua qualidade e prestígio internacional. Os sistemas só ganham confiança quando as lideranças são independentes e responsáveis. Foram essas as condições que coloquei em cima da mesa para aceitar essa liderança. Tendo sido dada total independência, vi que estavam reunidas as condições para aceitar este desafio. Quem me conhece, sabe que me guio por princípios muito inflexíeis e imune a pressões externas", começou por explicar, antes de abordar os objetivos em questão.
"O comité ainda está numa fase de constituição. Serão necessárias discussões para definir o quadro de transparência. É um órgão consultivo, não sancionador nem tribunal ou de investigação. É seguramente e será, sob minha liderança, será um órgão transparente e pautado por equidistância e pelas melhores práticas e mais elevados padrões em termos internacionais. Não há que inventar a roda. Aceito esta missão com humildade mas com a convicção que tenho as qualidades para respeitar esta missão. O momento que o futebol português atravessa requer mais resultados e menos debates. A minha postura será discreta e sóbria, focada num trabalho complexo, mas com um espírito de missão e total indendência", deixa claro.
Além disso, Emanuel Medeiros, que contará ainda com "três a sete membros com reconhecida experiência em matérias de ética, integridade ou compliance" no Comité de Ética, espera que seja um "espaço de valorização do futebol nacional". Nesse sentido, traça uma análise à situação atual do futebol português.
"Vive um momento delicado. Todo o momento de desenvolvimento em que acentou o futebol profisisonal e não profissional da Europa nos últimos 30 anos está em subdesenvolvimento. O poder decorrente das receitas televisivas, que no fundo inspiraram todos os modelos de de redistribuição de receitas de solidariedade financeira, permitiram aos clubes e federações alcançar mérito desportivo. Todo este quadro que conhecíamos até aqui está nos últimos dias. A partir de 2027 a revolução será visível e não será indolor. Vai haver um acordar de forma sobressaltada para algo que ninguém antevia. Isso vai mexer com tudo. Vai ser um período de convulsão. Mas é importante que o futebol perceba que não pode haver sucesso no terreno de jogo, sucesso comercial e a popularidade que arrasta multidões, sem haver integridade. É preciso e indispensável aproveitar o tempo que resta para haver algo que valorize o futebol português em todos os seus aspetos. Isso implica a convergência, concórdia e intercâmbio de opiniões", concluiu também a respeito da norma que entrará em vigor a partir de 2027.
Recorde-se que a centralização dos direitos televisivos em Portugal está agendada para entrar em vigor na época de 2027/28, com o objetivo de conciliar a comercialização dos direitos das transmissão dos jogos da 1ª e 2ª divisões do futebol nacional. Este processo resulta, de resto, de um acordo entre a FPF e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), com o governo a aprovar o decreto-lei que o concretiza.