Ao 16.º dia na Alemanha, o meu Euro vai «terminar». Independentemente do desfecho do Portugal - França, sábado é dia de regressar a casa. O plano estava fechado desde o dia 1 no zerozero. Depois da estadia do Pedro Jorge da Cunha em Leipzig, eu segui para Dortmund, Gelsenkirchen, Frankfurt e Hamburgo, com alguns desvios pelo caminho.

No melhor dos cenários, ficaria até aos quartos de final; e assim foi, com o meu agradecimento a seguir diretamente para a morada de Diogo Costa – obrigado pela noite de Frankfurt, mais uma vez.

Por isso, este “Palavras à Sorte” é a minha carta de despedida, carregada de um desejo ardente de poder passar o «bastão» novamente ao Pedro Jorge da Cunha, que seguirá para Munique e para Berlim – assim o nosso sonho coletivo se concretize.

É uma carta sentida e emocional, como foram todos estes dias na Alemanha. Não poderia ser de outra forma.

Caso não saibam, fui emigrante durante 17 anos. Primeiro na Suíça, depois nos Estados Unidos e, por fim, aqui na Alemanha. Sem a pretensão de soar especial, a verdade é que essa parte da minha história pessoal traz consigo um sentimento profundamente patriótico. E estes 16 dias serviram para o trazer à tona, com poucos filtros e muita emoção.

Vou arrumar já com a questão profissional.

Em Dortmund, no Portugal – Turquia, o golo de Bernardo Silva deu o tiro de partida. Indiferente à bancada de imprensa, saltei que nem uma mola e gritei como um povo inteiro. O cenário repetiu-se – para o bem e para o mal. Na frustração (controlada, em virtude do contexto) de Gelsenkirchen e no sofrimento de Frankfurt. O trabalho saiu, mas as emoções também.

Foi um carrossel, na verdade. Esses momentos, localizados no tempo e no espaço, foram secundados por muitas horas de trabalho desde que cheguei à Alemanha, no dia 21 de junho. Do entusiasmo ao cansaço, dos trabalhos bem-sucedidos à dificuldade em lidar com os contratempos. Viver um Europeu assim, entre a razão e a emoção, desgasta o corpo e a mente, mas deixa memórias inapagáveis.

Ter estado aqui, na Alemanha que tão bem conheço - e que adoro -, a contar histórias e a passear emoções foi das experiências mais imersivas da minha vida – pessoal e profissional. Mas ainda não acabou. Há esse Portugal - França, esta noite. E o coração português (e ainda sentimentalmente emigrante) está acelerado; mais logo, salta-me do peito.

Quis, propositadamente, despedir-me ainda antes do ato final. Amanhã, a mente estaria (ainda mais) toldada. É nesta hora de limbo, entre o regressar a casa e ouvir A Portuguesa, que creio estar mais lúcido para o fazer.

Sobretudo para dizer aquilo que vou escrever.

Não sabem, mas há uma década que o jornalismo não é o centro da minha vida. Dedico-lhe o tempo que posso – e a paixão por completo -, mas é uma espécie de intermezzo na minha vida “real”. E porque o amor é grande – ao jornalismo, ao futebol e ao zerozero - os esforços redobram-se e vai-se fintando o cansaço.

Nestes 16 dias, nas «folgas» mentais deste turbilhão, dei por mim a fazer contas a isso tudo e foi-se entranhando uma ideia tão bela quanto difícil de aceitar. Estará na hora? O corpo diz que sim. E haveria melhor palco para a despedida? Dificilmente. Por isso, os próximos tempos serão de reflexão pessoal e, inevitavelmente, de decisão.

O coração diz-me que não há lugar mais poético para passar o «bastão» do jornalismo. Veremos.