
Na terra dos relógios, contam-se os minutos para a estreia de Portugal no Euro. Há muitos em Berna. Além dos que se agarram aos pulsos, não faltam aos transeuntes maneiras de consultar o tempo nas fachadas dos edifícios. Variam os tamanhos, o material, os números e os ponteiros. A hora é a única coisa que têm em comum. Talvez por isso os suíços sejam conhecidos por serem tão pontuais como os britânicos.
A Zytglogge, ou Torre do Relógio, poderia passar despercebida por ser mais uma num milhão. Neste caso, não só é uma das primeiras coisas sugerida pelo motor de busca quando se lhe lança a clássica pergunta “o que fazer em Berna?”, como é um dos símbolos da quinta cidade mais populosa da Suíça (talvez não bata a família de três ursos para a qual foi construído um parque que custou 26 milhões de francos).
O edifício vertical ergue um relógio de consulta simples, em que o ponteiro dos segundos roda mais rápido do que o dos minutos e o dos minutos apressa-se mais do que o das horas. A joia está em baixo, onde um relógio astronómico se pavoneia.
A raridade tem 500 anos e, ao contrário de outros do mesmo tipo, este nunca foi modificado desde a sua construção, no século XV, frisa várias vezes uma guia local empenhada em valorizar a autenticidade. Além de nos dar a saber que são 16h e o sol bem que podia começar a piar fininho para alívio dos encalorados, a sobreposição de circunferências informa sobre o pôr do sol, a posição dos astros e até as fases da lua.
O interior da engenhoca, visível subindo à torre, pigarreia um tac-tac-tac. As inextricáveis roldanas não têm amnésia para com nenhum segundo. Além de estar responsável por informar sobre tantos temas que só falta desbocar-se sobre os segredos das estrelas, o idoso mostrador faz-se acompanhar de ornamentos. Ao lado tem um galo que canta, um carrossel que dá o mesmo número de voltas que as horas e um bobo a tocar sinos. São as cerimónias da hora certa num rebuliço que começa três minutos e meio antes da mesma.
Albert Einstein viveu a menos de duas centenas de metros da torre, no número 49 de Kramgasse, e muitas vezes as horas lhe terão sido ditas por aqueles relógios. Entre 1903 e 1905, período em que o Nobel da Física ali residiu, desenvolveu a Teoria da Relatividade e chegou a publicar cinco artigos científicos num só ano.
Dividia casa com a mulher com quem estudou na Universidade de Zurique, uma das primeiras instituições a aceitar alunas. Chamava-se Mileva Marić e ajudou-o a desenvolver a obra que o afamou. O casal morava numa casa humilde, com a casa de banho e a cozinha a serem partilhadas com os vizinhos. Hoje em dia, é uma atração turística.
Portugal jogou no Estádio Wankdorf frente à Espanha, uma zona de Berna mais resguardada de curiosos. Trata-se de um complexo empresarial em que os condutores têm dificuldades acrescidas na interpretação dos sinais de trânsito devido à quantidade de autocolantes afixados do Young Boys, o clube local. O desafio contra as campeãs do mundo não correu bem, mas há, pelo menos, mais dois jogos por disputar no Europeu. E, como dizia Einstein: “A lógica leva-te do A ao B. A imaginação leva-te a qualquer lado.”
* a Tribuna Expresso está na Suíça e no Europeu feminino a convite do Turismo da Suíça.