Era Lamine Yamal um recém-nascido quando Jesús Navas já se tinha consagrado como jogador. Mesmo com diferenças geracionais, no último verão, ambos estiveram juntos na seleção espanhola. O ponto de maturação em que conquistaram o Euro 2024 diz muito da precocidade de um, mas diz ainda mais sobre a longevidade do outro, que na Alemanha ergueu o último título. Quando perguntam a Navas qual o adversário que mais o deixou eriçado ao longo da carreira, responde que foi Roberto Carlos. Acabado de chegar aos 39 anos, é notável o choque geracional que enfrenta face aos jovens que recebeu nos tempos mais recentes no balneário do Sevilha e da seleção.
Não que se tenha tornado antiquado, mas como acontece com qualquer máquina, uma utilização intensa pode danificar as peças. Uma lesão na anca sem reparação possível conduziu-o ao fim. “Quando faço um jogo completo, no dia seguinte é difícil e há dias em que não consigo andar”. A partilha feita ao jornal Marca veio acompanhada da confissão de que o problema o acompanha “há três ou quatro anos” e que se tornou insuportável.
Depois de já se ter despedido do seu Ramón Sánchez Pizjuán, que não conhece ninguém que tenha feito tantos jogos (707) pela sua prezada equipa, o lateral fez no Santiago Bernabéu o último jogo de uma carreira que, excetuando quatro épocas no Manchester City, foi toda ela de devoção ao Sevilha. Nos andaluzes, ganhou quatro vezes a Liga Europa/Taça UEFA, uma vez a Supertaça Europeia, duas vezes a Taça do Rei e uma vez a Supertaça de Espanha. Cada troféu foi uma razão para Monchi, antigo diretor desportivo do Sevilha, o eleger como “o jogador mais importante da história” do clube.
No findar da carreira, fez 25 minutos contra o Real Madrid recebendo do Santiago Bernabéu louvores gerais. Antes do encontro, tomou um duche nas palmas que o encurralaram numa guarda de honra feita pelos jogadores das duas equipas. Afinal, Navas não é só o orgulho de Nervión. O seu nome foi denominador comum nas mais recentes conquistas da seleção espanhola: Mundial 2010, Euro 2012, Liga das Nações 2022/23 e Euro 2024.
“O futebol é algo que fiz durante toda a minha vida. É o que amo, é um sonho e posso dizer que realizei todos os meus sonhos, consegui todas as alegrias, mas acordar e não poder tocar na bola vai ser difícil.” Independentemente daquilo a que se dedicar, nunca deverá ser tão bem-sucedido como foi dentro do campo. Ser o ídolo de uma cidade parece ser a grande obra da sua existência.