
Duas equipas em sentido contrário cruzaram-se no estádio Algarve, na final da Supertaça Cândido de Oliveira. Na primeira parte houve mais Sporting, com maior coesão e melhor aproveitamento dos espaços, que pecou pela incapacidade de levar perigo real à baliza de Trubin (apenas um remate, fraco, enquadrado). No segundo tempo o Benfica entrou melhor, começou a descobrir brechas na muralha leonina, e um remate fortíssimo (50) de Pavlidis (Rui Silva não ficou bem no filme) colocou a equipa de Bruno Lage na frente.
Daí em diante, quiçá surpreendidos pela vantagem encarnada, os leões acusaram demasiado o golpe, e entregaram o melhor futebol aos rivais, que só começaram a defender a vantagem, com unhas e dentes, a partir do minuto 80. Até lá, os da Luz ainda podiam ter marcado (grande defesa de Rui Silva, aos 59 minutos, a um tiraço com selo de golo do ‘bombardeiro’ grego), e quando soou o gongo de Lage para os cuidados defensivos serem redobrados (substituições aos 80 minutos, entrando Florentino para dar coesão ao meio-campo e Prestianni, que foi para a esquerda, para manter viva a chama do contra-ataque e tapar as subidas de Fresneda) o Sporting porfiou, mas não matou caça: embora o assédio fosse intenso, Trubin apenas teve de fazer uma defesa de média dificuldade a uma meia distância de Trincão (75, antes das substituições) e na fase final nunca viu os leões com hipóteses para chegarem ao empate. Se a primeira parte do Benfica, em termos de ligação de jogo, deixou muito a desejar, o sentido de baliza da equipa do Sporting, ao longo dos 90 minutos, não lhe ficou atrás.
PRIMEIRO, O SPORTING
Rui Borges preparou o dérbi com uma tática interessante, que, curiosamente, não andou longe do que Bruno Lage fez. O Sporting atacava em 4x2x3x1, mas a defender armava-se muitas vezes num 3x4x3 ou mesmo num 3x6x1, a fazer lembrar os idos de Amorim. E no que diz respeito às saídas de bola e ao aproveitamento dos espaços, não pode dizer-se que tenha sido um ato falhado. O futebol verde-e-branco foi melhor do que o dos rivais nos primeiros 45 minutos, foi capaz de jogar (exceto nas zonas de finalização) e de não deixar jogar: o Benfica trocou mal a bola, teve dificuldades nas saídas, fosse com Barrenechea (abnegado, deixa tudo em campo) ou com Ríos (jogador de fino recorte, à procura de perceber e ser percebido), e não teve um remate enquadrado às redes de Rui Silva.
Para dificultar o cenário encarnado, porque a defender os benfiquistas optavam por um 4x4x2 com Barreiro perto de Pavlidis, os buracos no meio-campo sucederam-se e especialmente Pedro Gonçalves, nas também Trincão, captaram bolas entre linhas com demasiada facilidade. Quando Fábio Veríssimo apitou para o intervalo, sentiu-se que o descanso funcionava como uma ‘contagem de proteção’ para a equipa de Bruno Lage, que parecia estar à beira do ‘knock out’.
DEPOIS, O BENFICA
Após o descanso, regressaranm os mesmos jogadores, mas as equipas foram outras. Richard Ríos (grande contratação) começou a pegar na batuta, Dedic passou a integrar-se com maior propriedade no ataque, e a equipa, que até então tinha sido Pavlidis e pouco mais, soltou-se como não tinha acontecido nos 45 minutos iniciais. O Sporting pareceu surpreendido por este ‘novo’ Benfica, e o jogo levou uma volta de 180 graus: os encarnados marcaram aos 50 minutos, estiveram perto de aumentar a vantagem aos 59 e foi preciso esperar até aos 68 minutos para Rui Borges mexer na equipa.
Mas, diga-se, não primou pela ousadia, já que as entradas de Kochorashvili, Suárez e Debast não trouxeram novidades táticas ou dinâmicas, apenas contribuíram para um maior refrescamento do onze. Foi preciso esperar mais alguns minutos, para que o técnico leonino começasse a colocar mais alguma carne no assador, primeiro com Quenda no lugar do esgotado Maxi Araújo, e só depois de Bruno Lge ter finalmente mexido na equipa, fazendo entrar Florentino (muito bem ajudado, por Ríos e também, embora com menos atributos técnicos, por Barreiro) e Prestianni.
O Benfica reequilibrava-se, e na verdade Rui Borges só correu riscos aos 85 minutos, quando abdicou de Catamo, passou declaradamente Fresneda para a direita, colocou Esgaio na esquerda, e mandou Quenda para uma missão de franco-atirador, com liberdade de movimentos. Lage, que já estava com a equipa em 5x4x1, apenas respondeu com o refrescamento de Pavlidis por Henrique Araújo e Dedic por Tiago Gouveia (87), aceitando uma investida final do Sporting feita à base de pólvora seca.
A derradeira etapa desta final foi feia, feita de entradas ríspidas, simulações, cartões amarelos e vermelhos para os bancos, num alarde de antijogo que não se deseja ver repetido ao longo da temporada. Sendo verdade que as finais não foram feitas para jogar, mas sim para ganhar, o clima vivido no estádio Algarve, especialmente durante o tempo de compensação foi mais do que escusado.
Contas finais, mais um troféu relevante rumou ao museu Cosme Damião, depois de um jogo em que a maior coesão, fruto da continuidade (chego ao fim da crónica sem falar de Gyokeres, o elefante na sala) por parte do Sporting, foi inofensiva, e acabou vencida pelo potencial que se percebe ter este Benfica, que possui boas unidades, mas ainda está muito longe de ser uma equipa. Para já, Bruno Lage pode colocar ‘check’ na Supertaça, e apontar à eliminatória com o Nice, onde deverá contar com Ivanovic, mas ainda não com um novo extremo, que se vê á légua fazer falta à equipa.