
Num jogo de tirar o fôlego a qualquer um, só Dembélé fez a diferença. O PSG venceu o Arsenal em Londres e leva para Paris uma vantagem de um golo nas meias-finais da UEFA Champions League
Não é como se o Arsenal não tivesse tido hipóteses de chegar ao empate. A equipa de Arteta mostrou, em vários momentos do jogo, ser extremamente competente e, não fosse Donnarumma parar os remates de Martinelli, no fim da primeira parte, e de Trossard, no início da segunda, e o resultado seria diferente do 1-0. Mas olhar para o final do jogo dá algumas luzes daquilo que sucedeu em campo: aos 90'+4. uma combinação entre Trossard e Nwaneri deixou o inglês na cara do golo. Mas quando teve tempo para armar o remate, já tinha quatro adversários em cima.
Assim foi durante todo o jogo. A solidariedade da equipa de Luis Enrique, que contou com Nuno Mendes, Vitinha e João Neves de início e Gonçalo Ramos a entrar na segunda parte, foi sufocante para o Arsenal, que praticamente apenas nestes dois lances conseguiu criar grande perigo — ambos pelo lado de Hakimi, que mostrou algumas lacunas no momento de fechar por dentro e recuperar a posição. Na primeira parte, a equipa francesa preferiu dar espaço de pressão aos gunners para, depois, em campo inteiro, criar perigo. Assim surgiu o golo: a bola rodou pela defesa, abriu espaço no meio e Dembélé recebeu de Nuno Mendes, progrediu, deu em Kvaratskhelia, recebeu de novo e rematou de forma colocadíssima.
A equipa do Arsenal já mostrou, porém, que a capacidade de adaptação coletiva cresceu e, sob a batuta de Declan Rice, mais uma vez o melhor dos da casa, tal como em ambos os jogos com o Real Madrid, lá conseguiu esquivar-se à pressão adversária. Foi crescendo e, à meia hora, já era dono do jogo e o protagonismo do inglês só aumentava, com capacidade de sair na pressão, transportar jogo e dar equilíbrio. Só que, quando chegava a Saka, lá estava Nuno Mendes com Kvaratskhelia a dobrar. Se estava em Odegaard, Pacho, Fabián e Vitinha iam tomando atenção. E pela esquerda, novamente o português a fazer (quase) sempre o que Hakimi não fazia quando era apanhado em contra-pé. Ainda assim, a defesa não era totalmente impermeável. Mas é nessas alturas que vale a pena ter João Neves: aos 38', o português teve um dos momentos da noite, ao conseguir, de forma milimétrica, impedir que Merino rematasse.
Um João Neves, 30 pulmões
A partida de João Neves deve, aliás, ser alvo de análise, porque não é normal aquilo que o internacional português faz. As estatísticas, que nem sempre dizem tudo, não mentem neste caso: em 89 minutos, fez quatro cortes bem sucedidos (dois deles decisivos, no limite), ganhou sete dos 11 duelos que disputou, fez dois passes para finalização e ainda teve 86% de acerto no passe. Ainda há o que os números não traduzem: o posicionamento, a pressão, as ajudas defensivas. Tudo isto numa meia-final da UEFA Champions League, a primeira que disputa e para a qual muito contribuiu.
Na altura em que o ex-Benfica fez o segundo corte decisivo da partida, novamente frente a Merino, já o Arsenal tinha marcado. Havia sido o próprio espanhol a faturar, na sequência de uma das bolas paradas com marca de água do Arsenal e cobrada de forma exímia por Rice, mas o lance foi invalidado por fora de jogo. A partir daí, com exceção para o lance em que Trossard permitiu defesa de Donnarumma, os gunners até foram mais perigosos, mas a teia coletiva dos comandados de Luis Enrique conseguiu sempre gerir e até esteve perto de aumentar a vantagem, não fosse Barcola atirar ao lado aos 84' e Gonçalo Ramos acertar, no minuto seguinte, com estrondo na trave.
O Arsenal tentou mais, até pelo que o resultado alterado cedo obrigou, mas o PSG acabou por ser melhor a defender que os londrinos a atacar. A evolução do Paris Saint-Germain desde que, na fase de liga, perdeu no Estádio Emirates por 0-2 é gritante. Mas ainda nada está fechado: para a semana, o Parque dos Príncipes recebe a realeza do futebol coletivo europeu. Até porque este Arsenal já mostrou que pode chegar à final.