Sem treinar há quase um ano e meio, Carlos Queiroz afirmou no Fórum de Treinadores da ANTF que ainda tem o futuro totalmente em aberto. O antigo selecionador nacional e treinador do Sporting, de 72 anos, realçou que "há mais coisas a fazer no futebol português" do que apenas treinar, embora tenha salientado que deixou um objetivo de vida cair há pouco tempo. 

"A minha decisão foi fazer um período sabático, de reflexão e descansar um pouco. Tinha em mente o desafio de alcançar um marco único na história do futebol, que era conseguir cinco qualificações durante a minha vida. Mas, quando a FIFA estabeleceu esta alteração de haver mais equipas e mais oportunidades, eu acho que agora o difícil é não se qualificar", explicou Carlos Queiroz, frisando que, apesar desta pausa, "o telefone não tem parado de tocar e é difícil rejeitar as propostas": "Talvez em junho eu decida se quero continuar a treinar ou continue parado, porque há mais coisas a fazer no futebol do que apenas treinar."

Talvez em junho eu decida se quero continuar [a carreira de treinador], porque há mais coisas a fazer no futebol do que apenas treinar
Carlos Queiroz

Antigo selecionador nacional presente no Fórum da ANTF

E prosseguiu com o raciocínio: " Isto tirou-me também um pouco esse desafio, porque, para um treinador como eu, que passei 60 por cento do meu tempo nas seleções, o que interessavam eram as qualificações. Portanto, disputar uma qualificação na Ásia e na África, que não é uma coisa fácil de imaginar, constituía para nós quase como uma Liga dos Campeões", realçou. 

Neste sentido, Carlos Queiroz também teceu um olhar mais detalhado relativamente ao aumento do calendário de jogos, avisando que a condição física dos jogadores pode vir-se a deteriorar mais rapidamente, o que influencia as competições de seleções, que perdem algum relevo. "Há seleções que chegam às fases finais completamente esgotadas. Outras, com quadros de lesões bastante significativos. Isto vai obrigar a uma grande reflexão de como gerir as competições, porque estamos amarrados pelo tempo. Nós temos que crescer, mas até agora temos crescido em quantidade e temos que escolher um caminho de crescer em qualidade, em excelência", vincou, realçando a vertente competitiva da questão: "As próprias seleções estão a enfrentar uma fase um pouco complicada também do ponto de vista da atração e do estímulo dos adeptos, porque os eventos ligados aos clubes e, sobretudo com a ascensão meteórica da Champions League, alterou-se o quadro fundamental. Temos mini-seleções do mundo a jogar em cada clube. Aquilo que era o conceito, onde eu tive o privilégio de participar duas vezes, de ter sido convidado para dirigir o que se chamava o FIFA All-Star Team, onde surgia de vez em quando, é agora todas as semanas."

"É preciso gerar receitas e isso só é possível havendo mais jogos e mais competições. Só que estamos aí num limite do esforço e das capacidades temporais da adaptação e da recuperação dos próprios jogadores. Nós já temos dados específicos, até pelo preço que estamos a pagar em termos de futebol. Os media, o marketing, as televisões, os patrocinadores... Todos têm algo a dizer em relação a isto", apontou Carlos Queiroz.