O Gil Vicente viaja esta quinta-feira para os Açores, onde irá defrontar, no dia seguinte, o Santa Clara pelas 20h45. Segundo o treinador dos gilistas, Bruno Pinheiro, será um encontro que trará algumas adversidades inerentes ao local da partida e até pelo momento de forma dos açorianos. 

"Acima de tudo, vamos ter de ser pacientes, porque claramente o Santa Clara não arrisca muito, joga no erro do adversário e é uma equipa coesa durante os 90 minutos. Também tem tido um Gabriel [Silva] em excelente forma e com uma grande participação nos golos da equipa, seja através do passe, da abertura de espaços ou até do golo", começou por dizer o técnico, de 47 anos, salientando que o Gil Vicente também atravessa um bom momento, com duas vitórias consecutivas: "É isso que esperamos, continuar a ganhar, não sofrer golos, não sairmos derrotados. Apesar de o Santa Clara ser a equipa surpresa do nosso campeonato, sentimo-nos motivados para retirar um bom resultado fora de portas."

Pode ir para a terceira vitória consecutiva. É o melhor momento do Gil Vicente desde que assumiu as rédeas? 

"Em termos de resultados, diria que sim, mas as exibições nem foram assim tão boas. Existe um processo complexo de aprendizagem e de adaptação. Também acredito que os adversários estão mais cautelosos, o que nos obriga a um futebol mais apoiado, exigente, a provocar mais paciência e a aproveitar os espaços que estão cada vez mais reduzidos. Os próprios relvados também não ajudam muito e o Santa Clara não é conhecido por ter um dos melhores da Liga, por exemplo. Pode requerer mais paciências, mas temos de estar preparados mentalmente para o jogo não ser tão bonito, temos de estar focados no resultado. Se tivermos de ganhar por 1-0, que seja assim, queremos é vencer."

O Tidjany marcou um grande golo, mas parece inconsistente. O que lhe falta para atingir outros níveis?

"O Tidjany Touré é um jogador com muito talento ofensivo, confesso que, quando o analisámos nas nossas aplicações, fiquei impressionado com a capacidade dele de um para um. Aí, creio que nunca vi um jogador assim. Mas, agora, precisa de ser um jogador mais completo para atingir outro patamar. O Félix Correia, por exemplo, também joga a extremos esquerdo, mas é um dos jogadores mais completos que eu já tive. Completo no sentido de ter qualidade com bola, capacidade de finalização, assistências, drible e que gosta de ter a bola tanto no pé como procurá-la no espaço. Além disso, acrescenta uma capacidade defensiva grande porque tem essa responsabilidade. O Tidjany se calhar já não gosta tanto da bola no espaço e é inconstante. Ainda não tem a mesma cultura tática e competitividade que deveria ter, tem de trabalhar porque acho que é um autêntico talento. E tem de melhorar no aspeto defensivo."

Tem subido alguns jogadores da formação. Que análise faz das camadas jovens?

"Estou em constante contacto com o coordenador da formação do Gil Vicente e vou acompanhando os jogos quando posso. Mesmo assim, tenho a informação dos jogadores com mais potencial, tenho muitos jogadores nos treinos por causa de lesões ou das seleções, e isso permite-me ter uma opinião mais concreta. Uma coisa é ver noutro contexto, outra é aqui. Neste caso, o João Pinto, que pertence aos sub-23, tem um talento enorme e o Gui Beleza foi uma surpresa muito agradável, porque eu sabia que era equilibrado mas, no meio dos séniores, é competente e capaz de jogar com os mais velhos. Por vezes, o fundamental é conseguir projetar os jogadores de futuro para que tenham espaço para crescer na equipa. O maior desafio é perspetivar o futuro destes jogadores que, daqui a dois anos, podem ser jogadores regulares de 1ª Liga. Quando fecharmos o plantel no futuro, temos de ter cuidado para não darmos contratos mais longos a quem não devemos e tapar o crescimento a esses jogadores. Acho que, sem pressa, é fundamental para existir sucesso num clube."

Que jogadores acredita que, neste momento, têm sido importantes além dos que têm sido falados, como o Fujimoto ou o Félix Correia?

"Não posso dizer todos, mas achava que a lesão do Mory Gbane ia ser difícil de colmatar e a equipa sobreviveu com o Castillo a 6. Além disso, quando o Maxime Dominguez foi vendido, o Castillo foi para 8 e ajudou-nos imenso. O Santi também está bem naquela posição. Jogadores com números são, por norma, os da frente, mas o que tentamos fazer é rentabilizar os jogadores nas posições em que podem fazer a diferença. Temos sempre zonas onde acreditamos que há coisas a fazer melhor e podemos criar estruturas que os permitam ter bola. Existem muitos jogadores sem números que conseguem equilibrar a equipa. Por exemplo, com o Belenenses, mexemos em seis jogadores e a equipa continuou equilibrada, existe uma boa presença. E, apesar de termos 10 golos sofridos no campeonato, todos eles foram praticamente em dois jogos, mantivemos muito a baliza a zeros. Acredito que os mais evidentes foram o Santi García e o Jesús Castillo."

Pontualmente, sente que a equipa está dentro das suas expectativas?

"Quase que me atrevo a dizer que está acima das minhas expectativas, porque tivemos quatro ou cinco adversários no início que irão terminar nos seis primeiros lugares do campeonato. No ponto de trabalho, estamos aquèm do que podíamos estar. Merecíamos mais dois pontos com o Casa Pia e merecíamos mais com o Sp. Braga. Com o Famalicão, por exemplo, já acho que o empate se ajusta. No ponto geral, podiamos ter mais dois ou três pontos, porém, no momento em que assumi o clube, achei que iríamos ter menos. O meu Gil Vicente? Não considero que esteja próximo, mas também tem a ver com o adversário, que se adapta. Hoje em dia estamos a entrar numa fase que as equipas já sabem o que esperar e tenho estado felicíssimo pela qualidade de jogo que os meus jogadores têm apresentado. O Rúben Amorim, por exemplo, vai colocar o Sporting a passear na Liga porque já trabalha com os mesmos jogadores há vários anos, independentemente de ser campeão. É uma realidade, há que haver tempo. Não iremos ter um Gil Vicente fabuloso, mas acho que isto não está fora da realidade. Tem sido mais difícil trazer os três pontos."