Depois de uma época 2024/2025 atribulada no banco de suplentes do SC Braga, com Daniel Sousa a ser recrutado ao Arouca a 24 de maio de 2024, e a ser despedido logo após a primeira jornada e com Carlos Carvalhal na sua terceira passagem pelo clube, chegou ao clube Carlos Vicens, ex-adjunto de Pep Guardiola, e o primeiro treinador estrangeiro da longa regência de António Salvador.

De modo a preparar a época que começa ainda em julho, com as pré-eliminatórias da Europa League, frente ao Levski Sofia, o Braga já realizou cinco amigáveis, frente ao Paços de Ferreira, ainda em solo português e fez um estágio na Áustria, onde defrontou Wolfsberger e Panathinaikos, regressando novamente a solo luso para enfrentar Moreirense e Celta de Vigo, tendo sido televisionados os encontros frente a equipas estrangeiras, sob os quais nos vamos debruçar.

Frente aos terceiros classificados do campeonato austríaco da época passada, o Wolfsberger, Carlos Vicens apresentou o 11 inicial abaixo mostrado.

Embora no papel se tratasse de um 4-2-3-1, na realidade e em organização ofensiva, o sistema tático era um 3-2-5, com o lateral direito, Yanis da Rocha, mais baixo, e na primeira linha de construção. A largura foi dada pelo lateral do lado esquerdo, Chissumba e pelo extremo do lado direito, Kauan Kelvin. No corredor central, um quadrado com quatro médios e com El-Ouazzani na frente de ataque.

O Braga apresentou-se como uma equipa bastante calma na posse de bola e com muita presença nos halfspaces, pelos homens atrás do ponta de lança (João Marques e Thiago Helguera), com o do lado esquerdo com maior liberdade para recuar no terreno de jogo e fazer de terceiro médio, mas também com os médios centro, Diego Rodrigues e Djibril Soumaré, a serem requisitados com bastante amplitude de movimentos, não apenas verticais, mas também laterais, pisando várias vezes a linha à largura em combinçaões. Na frente de ataque, Ouazzani foi bastante requisitado em apoios frontais, com uma taxa de sucesso interessante, mas com poucos contramovimentos, que me parecer ser importantes para o sucesso num futuro próximo.

João Marques marca um golaço, mas não me convenceu nem a mim, nem ao treinador arsenalista, não tendo mais figurado na equipa bracarense.

Mais atrás, não houve grande trabalho para Arrey-Mbi e Vitor Carvalho no eixo da defesa, apesar da solidez da exibição, sem e com bola, tendo sim mais requisitados neste último parâmetro.

Aparentemente de saída, Djibril Soumaré fez uma exibição de encher o olho, parecendo enquadrar-se em todas as missões requisitadas no miolo do terreno.

Na generalidade, a segunda parte manteve algumas das coisas trazidas da temporada anterior, sobretudo pelas escolhas dos homens mais centrados no terreno. Dos reforços, estrearam-se Lagerbielke e Leonardo Lelo, ainda com Dorgeles de fora.

Moutinho esteve, obviamente, com um posicionamento muito mais estático e centrado, evidenciado a amplitude lateral e frontal de movimentos de Gorby, que até apareceu várias vezes em zona de finalização. Lelo manteve a dinâmica de Chissumba, mas foi pouco acionado, tal como Navarro.

Continuam a aparecer na equipa principal belos produtos da formação. Desta vez, o destaque vai para Sandro Vidigal.

Para selar o 2-0, tivemos uma obra de arte de Ricardo Horta.

Frente ao Panathinaikos, se compararmos ambos os onzes das primeiras partes, apenas Arrey-Mbi se manteve, para além da estrutura, é claro.

Se no primeiro encontro foi possível observar alguma rigidez de posicionamentos dos homens das laterais, neste segundo vimos várias permutas na asa esquerda, com Gharbi e Lelo a mostrarem algumas sinergias interessantes e trocas de posição, sobre entre quem dava largura e quem ficava por dentro.

Do outro lado, Lagerbielke estreou-se a titular e fez a sua primeira parte completa, funcionando única e exclusivamente como lateral baixo de construção. Jogando com Sandro Vidigal, as coisas não correram muito bem, porque o jovem extremo beneficiaria de apoio e de ter alguém que lhe oferecesse overlaps e underlaps.

No meio-campo, face a um adversário mais competente e organizado, não gostei da dupla Gorby e Moutinho. Considero ambos vendáveis e passo a explicar o porquê. Embora o francês tenha um raio de ação interessante com e sem bola, conseguindo desdobrar-se em vários tipos de movimentos e sendo bastante forte na generalidade do jogo sem bola, sente algumas dificuldades em assumir a batuta e cumprir os requisitos que Vicens parece privilegiar. O problema de Moutinho é precisamente o oposto, já que cumpre todos os parâmetros com bola, mas, nesta fase da carreira, e é normal que assim seja, mobiliza-se muito pouco e torna o jogo do Braga posicionalmente mais previsível e defensivamente mais vulnerável.

A estratégia da 2.ª parte foi diferente do que temos visto. A ausência de extremos (ainda sem Roger Fernandes para esta partida) e a imensa quantidade de médios levou à obrigatoriedade de ter dois alas largos e de agregar muita gente em corredor lateral. Ainda assim, maior projeção de Chissumba (com alguns movimentos de diagonal para dentro) comparativamente a Yanis da Rocha.

Comparativamente com a primeira partida, o Braga sentiu mais dificuldades no controlo da posse da bola, em ambas as partes. A dupla de centrais formada por Vitor Carvalho e Nuno Matos falhou, como já estava praticamente anunciado.

Com Soumaré e Diego Rodrigues em dupla, que efetuam constantes trocas posicionais no meio-campo, o dinamismo aumentou exponencialmente, mas sem grandes efeitos práticos. Com Ouazzani na frente, há uma maior capacidade de segurar bola de costas para a baliza, aguentar as cargas dos defensores e temporizar, na última linha.

Ainda assim, a generalidade das equipas escolhidas até então, são montadas para desmontar blocos baixos, existindo muito poucas dinâmicas – algo que é normal face ao tempo de treino – e referências para atacar a profundidade.

Uma das imagens de marca tem sido a forma agressiva e intensa como a equipa de Carlos Vicens pressiona no meio-campo adversário, adotando um sistema de 4-4-2, que é, muitas vezes um 4-2-4, em caso de construção a quatro adversária, pronto para capitalizar erros dos adversários. Assim surgiram ambos os golos do Braga nesta partida.

O terceiro teste do Braga, frente ao Celta de Vigo, o adversário mais exigente até então, foi positivo, tendo sido possível ver uma mescla entre as exibições e estruturas anteriores, com uma exibição razoavelmente competente no contexto apresentado.

O posicionamento base foi este, mantendo o 3-4-2-1, apostando em dois alas – médios de origem, de pé trocado -, fomentando as dinâmicas e apontando para uma equipa de cariz maioritariamente ofensivo.

Em organização ofensiva, vimos uma nova dinâmica, com Vitor Carvalho a sair do setor intermédio para o corredor direito, construindo a quatro e permitindo que os alas subam no terreno e ocupem posições mais naturais. O contramovimento interior foi efetuado pelo recuo de Gorby.

A pressão também adotou moldes adaptáveis, variando entre o 4-4-2 já visto, com Ricardo Horta à esquerda de El-Ouazzani, e o 5-3-2, na dinâmica da imagem abaixo, de modo a igualar a construção do oponente.

Sendo Moutinho o único que esteve presente, a tempo total, no setor intermediário, vimos uma equipa que, ao invés de fazer os jogadores locomoverem-se bastante, aparentou ter uma maior variação de passes, procurando muitos passes para a frente e para trás, de forma a alterar constantemente a altura do bloco adversário, usando constantemente os seus jogadores em tabelas frontais.

Ao minuto 21, surge o golo inaugural do jogo. Os pés trocados dos alas propiciam este tipo de passes, como fez Zalazar na pré-assistência a lançar Fran Navarro na frente de ataque, que ajusta bem a bola para depois, Gorby, mostrando sempre boa relação com o golo, finalizar à base da bomba. É verdade que há demérito não apenas de Radu na defesa, mas também na muita passividade de Marcos Alonso e Carl Starfelt na abordagem do lance aéreo.

O segundo golo foi marcado através de uma grande penalidade, que, pessoalmente, me deixou com algumas dúvidas sobre a veracidade da sua marcação, mas que, na verdade, pouco importa para o objetivo do artigo.

Chegaria o intervalo e revolução nas duas equipas. Dorgeles, Zalazar e Lagerbielke teriam direto ainda a 15 minutos extra de jogo, provavelmente com o objetivo de manutenção de forma física. Ainda assim, com o 11 já todo alterado, a montagem de Carlos Vicens, embora tivesse mantido os cinco atrás, teve algumas mudanças posicionais.

Testou a conjugação dos dois laterais esquerdos em simultâneo, deixando a largura para Chissumba e apostando em Lelo como terceiro central pela esquerda. Também foi uma das poucas vezes que vimos dois extremos concomitantemente, com Sandro Vidigal jogando a partir da esquerda, que, embora permutasse com Chissumba, pisaria mais vezes um espaço mais interior, e Roger Fernandes a fornecer largura no corredor direito, com Yanis da Rocha a jogar constantemente invertido, como primeiro homem da fase de construção, junto a Diego Rodrigues, permitindo que Gharbi avançasse no terreno para as zonas onde tem mais sucesso.

Ainda assim, Gharbi sentiu algumas dificuldades em jogar numa zona tão baixa no terreno, podendo-lhe faltar alguma maturidade tática e capacidade organizacional.

Ainda antes de todas as mudanças, o Celta de Vigo reduziu, por intermédio de Jones El-Abdellaoui, após um belo passe de rutura de Hugo Sotelo, naquele curto período em que Dorgeles ainda era ala direito e Yanis da Rocha estava como terceiro central. O Braga afundou em demasia, com Sandro Vidigal a baixar, erradamente, à primeira linha e a abrir muito espaço no setor intermédio. Alaa Bellaarouch também não fica muito bem na fotografia.

Individualmente, o momento alto da noite viria já perto do final da partida, através dos pés de Diego Rodrigues, que não pediu licença antes de atirar para o fundo das redes ainda a uma distância considerável da baliza. Vale ainda ressalvar a recuperação de Gharbi na origem do golo, após perder a posse da bola.

Frente ao Levski Sofia, a contar para o primeiro jogo oficial do Braga na temporada e para a segunda pré-eliminatória da Europa League, ainda com Roger Fernandes a meio gás e com a o sabor amargo da ausência de Djibril Soumaré, prevejo que Carlos Vicens alinhe a equipa da seguinte forma: Horníček; Yanis da Rocha, Lagerbielke, Paulo Oliveira, Arrey-Mbi e Chissumba; João Moutinho e Gorby; Ricardo Horta, Ouazzani e Zalazar.