Rui Borges insistiu que o Sporting foi melhor e que merecia vencer. Bruno Lage garantiu que o Benfica foi um justo vencedor por ter sido superior. Está mais próximo da resposta certa à pergunta porque marcou um golo e não sofreu nenhum, mas a verdade é que, como já era esperado, nem Benfica nem Sporting são super equipas. Difícil seria que o fossem neste estágio da temporada.

Do impacto das contratações do Benfica no modelo de jogo de Bruno Lage às mudanças ténues que Rui Borges tenta imprimir num Sporting que já não tem Viktor Gyokeres, há muito caminho a percorrer. A Supertaça ajudou a desbravar caminho no que toca a perceber o que já foi feito e o que ainda ficou por fazer.

O Sporting começou por cima e desde cedo que se percebeu que o grande duelo do jogo estava na forma como os leões conseguiriam bater a pressão do Benfica. O lado esquerdo dos leões, com Maxi Araújo mais projetado (tem muito mais valências técnicas que Matheus Reis) e Hidemasa Morita a lateralizar posição esteve em evidência, a procurar enquadrar Pedro Gonçalves e Conrad Harder. Quando resultou, como no bonito lance do golo anulado, os leões foram capazes de descortinar o imenso espaço nas costas da pressão encarnada – que Hjulmand foi desbravando quer pelo passe, quer pelo posicionamento – e acelerar. Faltou outra consistência a Pedro Gonçalves, um fantasma da regularidade anterior, e a Conrad Harder, mais bruto que prático na forma como se relaciona com a bola.

Ao Benfica não foi necessário uma pressão extremamente bem montada para ser capaz de igualar o Sporting. Nesse sentido, há critério nas contratações do Benfica e na forma como oferecem capacidade atlética e física aos encarnados. A mudança no meio-campo é particularmente gritante. Enzo Barrenechea dá coisas que Florentino nunca chegou a dar com bola no controlo do jogo, na gestão de timings e na facilidade no passe, e Richard Ríos uma abrangência de movimentos e de ações importante. O Benfica voltou a ter capacidade para jogar por dentro e, defensivamente, ganhou capacidade para reagir ao erro. Não foram poucas as vezes que a pressão falhou e os médios (Aursnes também a partir da direita) conseguiram compensar e recuperar metros. No que Bruno Lage não foi capaz de resolver, os jogadores do Benfica passaram a ter respostas e é essa a principal nota do início de 2025/26 do Benfica.

Os méritos das duas equipas não apagam os questionamentos a fazer. No Benfica, é estranho como do perfil procurado para o 10 (João Félix ou Thiago Almada) se acaba com um jogador radicalmente diferente como Leandro Barreiro, um médio que funciona melhor sem bola ofensiva e defensivamente. João Veloso deu indicadores interessantes na Eusébio Cup e não teve sequência. A titularidade de Akturkoglu explica-se pelo perfil de ataque ao espaço e de ruturas, de simplificador de ações e de procura fácil da baliza, mas quando o turco não entra no jogo, pouco acrescenta. Há Andreas Schjelderup no banco, mas o extremo tem tido rotações e oscilações difíceis de explicar de fora.

Nas escolhas de Rui Borges, há uma grande interrogação na forma como o treinador tem Geny Catamo acima de Geovany Quenda na corrida pela titularidade. O ala direito vendido ao Chelsea tem mais um ano de Sporting e, mesmo não fazendo parte do futuro, tem mais argumentos e recursos técnicos para fazer parte do presente que o moçambicano, um agitador por natureza. Ainda falta saber como será o encaixe de Vagiannidis, um lateral profundo e diferente do mais baixo Iván Fresneda, e de Luís Suárez. Mostrou bons pormenores em apoio e movimentações inteligentes e terá mais espaço no Sporting.

No Benfica, ficam duas certezas aliadas, numa segunda parte, a duas dúvidas. António Silva voltou a ser destaque depois de ser o melhor jogador das águias no Mundial de Clubes. Fez um jogo em crescendo e esteve assertivo e contundente nos duelos aéreos e pelo chão. Tem apenas 21 anos e uma carreira pela frente para contrariar a imagem de fragilidade que foi construindo nos últimos meses. A outra certeza é Vangelis Pavlidis. O Benfica já joga pelo meio-campo, mas continua a ter no grego um dos seus elementos mais criativos. Não esteve particularmente em destaque, mas foi dando ligações e vias de saída ao Benfica e marcou o golo da vitória. Na ultima época arrancou refém dos golos, mas nesta marcou numa oportunidade plena de oportunismo e de intenção. Conciliando as duas dimensões, pode assumir o lugar do sueco que vai ser fantasma de Alvalade na época como o melhor ponta de lança em Portugal.

Fica uma grande dúvida na forma como será o encaixe de Pavlidis com Ivanovic, o mais recente reforço do Benfica. Pelos valores investidos na contratação, será difícil não imaginar que os dois coabitem no onze e até têm características complementares. Pavlidis pode assumir-se como avançado de ligação, forte nos apoios e deixar o croata a fixar a linha defensiva e a atacar espaços. Faltará então perceber de onde virá a criatividade no Benfica que, com dois na frente, deixará de ter o 10 que quis que João Félix fosse. À direita há uma vaga para render Ángel Di María, mas há também Fredrik Aursnes, um jogador com estatuto a pedir a titularidade. A época é longa e mais do que um onze base, Bruno Lage pode ter 12/13 jogadores a ir dividindo o lugar. Parece claro, ainda assim, que faltam referências criativas na equipa que só o mercado conseguirá colmatar.