Passam esta quarta-feira dois anos desde que a Argentina venceu o Mundial do Catar, na final frente à França.
De lá para cá, Angel Di María abdicou de jogar na seleção, mas as memórias estão intactas. «Sinto o mesmo que as pessoas sentiam quando eu estava do outro lado: aquela satisfação, aquela alegria de ver a nossa equipa. Uma equipa que, depois de tantas derrotas, dores e críticas ao longo de gerações e gerações, conseguiu transformar-se de tal forma que hoje desperta alegria e entusiasmo em jovens e adultos. Haverá algo mais bonito?», refere à revista argentina Gente, que recebeu na sua casa em Lisboa, confessando que se sentou para ver todos os jogos, ainda que isso implique menos horas de sono antes de um treino do Benfica.
«Sim, vi todos, mesmo de madrugada. É uma grande satisfação ver os meus companheiros jogar, porque, independentemente da forma como está a correr, jogam sempre dispostos a ganhar. Estes rapazes dão-nos orgulho em campo», confessa.
«Representar os 46 milhões de argentinos é algo inigualável, único. Vestir a camisola azul e branca foi o maior orgulho, a melhor coisa que me podia ter acontecido como futebolista. Quando joguei no Real Madrid, Paris Saint Germain, Manchester City, Juventus e agora no Benfica, ver camisolas argentinas nas bancadas de equipas que pertencem a outros países é inacreditável», conta.
Em paz com a decisão e aos 36 anos, já começam a ser feitos balanços: «A verdade é que não me apercebo do muito que fiz ao longo da minha carreira. O futebol é a minha vida. Dá-me prazer entrar em campo, driblar, marcar golos, dar assistências, aprender. E acho que também faço muita gente feliz. Por isso, de certa forma, dá-me satisfação saber que todo o reconhecimento que recebo está relacionado com o que sinto em relação ao futebol.»
O treino e a bola
Disse aprender? «Sim, aos 36 anos, continuo a sentir que cada sessão de treino me ensina, ou pelo menos é esse o meu objetivo. Sinto-me feliz por ter chegado a este ponto. Sempre fui a mesma pessoa, e o facto de reconhecerem tudo o que fiz na minha carreira e o que pude dar ao meu país faz-me sentir à vontade. Foi também por isso que decidi dar aquele passo de deixar a seleção… sinto que dei tudo o que podia dar. Alguns podem pensar que podia dar mais, outros podem pensar que não podia, mas para mim foi o momento. E deixei o caminho aberto para todos os rapazes que estão a perseguir o seu sonho no futebol», conta, falando da sua relação com a bola:
«Sempre que há uma pré-época e começamos só a correr, fico frustrado, porque quero a bola. Graças a Deus, na Europa isso já quase não acontece, mas quando acontece é o pior: treinar sem bola é como treinar outro desporto sem o seu elemento principal, que é o que nos faz feliz... Falar com ela, não, mas garanto-vos que quando chutamos bem ou fazemos um passe preciso, não falamos com ela, sentimos que, com o olhar a levamos para onde queremos que ela vá, e isso de certa forma também é falar com ela.»
Jogou em várias das melhores ligas do mundo, que diferenças encontra entre elas e qual é a melhor? «É difícil definir. Cada um tem as suas particularidades. Gostei de todos eles. Os que joguei pouco e os que joguei muito, como a Espanha e a França, e também Portugal, onde entre os meus primeiros três anos e os últimos dois anos houve um grande número e ganhámos quatro campeonatos. Então, vou dizer-vos o espanhol porque ganhei a Liga dos Campeões e mais cinco títulos, ou o francês porque ganhei 19? Não, todos têm as suas coisas e aprendemos e crescemos graças a todos eles. Além disso, vou guardando sentimentos por cada um deles.»