Podemos encarar esta convergência futebolística levada ao extremo entre rivais citadinos separados por uma via rápida a rebentar cronicamente de trânsito, que se antagonizam por defeito, de variadas formas. Uma será gabar a prova de resistência: se no campeonato tal visão não escasseia, apesar das paredes-meias da vizinhança é bastante raro desde que se respira liberdade em Portugal ver Sporting e Benfica a disputarem até ao fim as duas maiores provas do futebol nacional. A outra, proporcionada pelo fado do calendário e dos pontos, é as memórias nas quais um dérbi lisboeta na penúltima jornada, com poderes de coroar um campeão, pode remexer.

Não que os jogadores, lá dentro, liguem a assombrações do passado, isto serão intangíveis para atormentar adeptos, mas há um lado cinzento da história pronto a espreitar em ambos os lados.

Podendo ser o jogo do título, existe a hipótese de os encarnados serem anfitriões de uma festa que desprezariam, como sucedeu em 2011, quando o FC Porto venceu na Luz, lá se sagrou campeão e fez a festa a cinco jornadas do fecho do campeonato, levando o Benfica a desligar a iluminação do estádio para uma celebração às escuras.

Outra possibilidade é os leões perderem, no próximo sábado, no lar do maior rival, capitulando nas últimas após um êxtase como em moldes parecidos aos de 2005: então também na penúltima jornada, as duas equipas estavam empatadas na liderança da liga, o Sporting tinha vantagem no duelo direto, prestou visita ao rival e perdeu tendo fresca na experiência o golo eufórico de Miguel Garcia em Alkmaar, operação de resgate e salvamento como a realizada por Eduardo Quaresma.

O processo de ressuscitação de qualquer uma destas hipóteses depende da matemática da bola. Estas são as contas dos cenários possíveis de acontecerem no próximo sábado, 10 de maio, dia elevado a provável decisor de quem será campeão nacional e da cor que vai pintar Lisboa.

Se o Sporting ganhar

Terá a consequência mais direta. Em caso de vitória no Estádio da Luz, os leões garantem a conquista do título devido à bagagem que trazem: por ter vencido o jogo da primeira volta, em Alvalade, por 1-0, qualquer resultado que favoreça a equipa de Rui Borges equivale logo a torná-la bicampeã nacional face à vantagem no confronto direto. Será jogo feito, nada mais.

Se o Benfica vencer

Acabar com uma vantagem no marcador não bastará aos encarnados para terem a felicidade de rebentar foguetes na Luz. Face à derrota por 1-0 no dérbi de Alvalade, terão de ganhar, pelo menos, por dois golos de diferença para o título ser deles no sábado. Uma vitória pelo mesmo parcial da primeira volta só confirmará a igualdade no confronto direto e o adiamento, para a última jornada, do apuramento do campeão nacional.

Venha o Benfica a prevalecer por 1-0, a matemática invadirá de novo o cume do campeonato. Aí a turma de Bruno Lage faria 81 pontos contra os 78 do Sporting e carregaria para a derradeira jornada a certeza de que seria campeã, em Braga, caso igualasse qualquer resultado conseguido pelo Sporting, em Alvalade, contra o Vitória. Se, por exemplo, os encarnados perdessem o último jogo e os leões vencessem - igualando-se de novo nos pontos -, teríamos de olhar para registo de cada equipa e consultar os restantes critérios de desempate previstos no regulamento da Liga.

Aí seriam convidados para o baile, por esta ordem, a diferença de golos no campeonato, o número de vitórias e os golos marcados na competição. Se nenhum destes os separasse, certo é que não haveria conjuração possível para vermos algo inédito - a disputa de uma finalíssima, em campo neutro. Apenas seria exequível caso Sporting e Benfica terminassem igualados em tudo, incluindo no número de vitórias, o que já não será possível: os verde e brancos têm 24, os encarnados 25 e qualquer cenário que dê mais uma aos primeiros (seja contra quem for) e nenhuma aos segundos faria o título aterrar em Alvalade.

Se empatarem

Uma igualdade de golos na Luz empurra a separação das águas para a última jornada, onde o Sporting estaria obrigado a fazer, pelo menos, o mesmo resultado que o Benfica para beneficiar do confronto direto, cujo sorriso o continuaria a favorecer. Para os encarnados, teriam sempre de fazer figas por uma derrota do rival contra o Vitória e, pelo menos, saírem de Braga com um ponto.