Está quase a partir para a estrada a Volta a Portugal e, como se vai tornando habitual, os sinais do fraco estado do ciclismo nacional estão bem à vista. Que muita da lista de participantes ainda esteja por se saber é bom exemplo disso.

O percurso que os ciclistas irão percorrer tem poucas novidades e, mesmo as que tem, nomeadamente as chegadas ao Sameiro e a Montejunto, são cromos repetidos que já vimos noutros momentos. A outra grande novidade, se é que se lhe pode chamar disso, é que a subida à Torre se fará mais tarde que a Senhora da Graça, revertendo a tendência dos últimos anos.

Mas, como já deve ter dado para perceber, muito da corrida será mais do mesmo. Ainda assim, vale a pena destacar dois pontos negativos em específico.

Primeiro, não existe nenhuma etapa em que se veja como garantida uma chegada para velocistas (até na chegada a Santarém após uma etapa completamente plana se arranjou uma subida para lá colocar a meta) e em muito poucas há sequer essa possibilidade. Para mais, o contrarrelógio final soma apenas 16,7 quilómetros, uma distância bastante pequena e que, numa prova com tantas subidas, pode fazer da última etapa completamente irrelevante.

Já quanto aos participantes, o pelotão será diminuto e ficam ausentes equipas de qualidade superior, apresentando-se somente sete equipas estrangeiras, apenas uma delas de classe Pro Team, a Caja Rural – Seguros RGA. Visitantes habituais como a Burgos Burpellet BH ou a Euskaltel-Euskadi ficam desta feita de fora.

A Anicolor – Tien 21 parte como grande favorita a repetir a vitória do ano passado. A contratação de Alexis Guerin tem sido um sucesso, com o francês a dominar muita da época nacional e a entrar na Volta como maior candidato. Com outras boas opções para a Geral como o campeão em título Artem Nych e Rubén Fernández e gregários como Rafael Reis ou Harrison Wood, será difícil deixar escapar a vitória.

O previsível maior adversário vem da APHotels & Resorts/Tavira/SC Farense e tem por nome Jesús David Peña. O colombiano vindo esta época do World Tour tem sido capaz de dar luta ao longo da temporada e o mesmo se espera que aconteça na Volta, onde este especialista da montanha terá muito terreno onde se mostrar. Contudo, terá uma equipa bem modesta em seu redor e será difícil controlar a corrida contra as várias opções da Anicolor.

Nos restantes homens da casa, há ainda nomes a ter em conta para um bom lugar na geral como Maurício Moreira (Efapel) António Carvalho e Byron Munton (Feirense – Beeceler) e Emanuel Duarte (Credibom/LA Alumínios/Marcos Car), caça etapas de qualidade como Nicolás Tivani (Aviludo – Louletano – Loulé) e João Medeiros (Credibom/LA Alumínios/Marcos Car) e o favorito à Juventude, Lucas Lopes (Rádio Popular – Paredes – Boavista). Já João Matias e Leangel Linarez (Tavfer – Ovos Matinados – Mortágua) terão dificuldades em ter um dia de sprint para conseguirem dar uma vitória à sua equipa, a maior especialista nacional em velocidade, mas que vê a organização dificultar-lhe a vida.

Dos visitantes, o destaque maior vai para a Petrolike que com o experiente Jonathan Caicedo (vencedor de uma etapa no Giro d’Italia) e com o jovem promissor Edison Callejas poderá ter uma palavra a dizer para ficar entre os melhores. Para mais, já têm experiência por estas andanças. Em 2024, também marcaram presença e finalizaram com um homem entre os dez melhores.

A Caja Rural – Seguros RGA deverá trazer alguns jovens para voltar a lutar pela camisola branca, enquanto fica a dúvida se com um percurso tão acidentado voltaremos a ver Daniel Babor por terras lusas. Os espanhóis até têm no plantel nomes que poderiam estar na discussão da corrida, mas é pouco provável que os tragam a uma prova de tão pequena dimensão, ainda para mais com a Vuelta tão próxima.

Por fim, há que mencionar o regresso a casa de Daniel Lima (Israel Premier Tech Academy) para fazer a sua estreia na Grandíssima e a sempre oportunista Project Echelon Racing, que conta com vários ciclistas talhados para tentar conquistar etapas.