Não deve haver lugar no planeta que possua mais talento por metro quadrado que no Brasil e a Copinha é a prova disso. Seja em que equipa for, é possível ver talento na sua forma mais pura, embora saibamos que muitos desses provavelmente nunca chegarão ao futebol profissional e outros tantos não chegarão à primeira prateleira do futebol mundial.

Ainda assim, este artigo visa apresentar alguns talentos escondidos em equipas mais modestas e discretas, que poderiam ser opções de mais-valia para clubes portugueses de classe média, tentando fugir aos já tradicionais formadores como Palmeiras, Flamengo, Fluminense, etc.

Thiago Tinoco

Thiago Tinoco é um extremo que, embora possa atuar de ambos os lados, rende mais à direita e que foi parte integrante da equipa campeã gaúcha sub-20 do São José-RS que bateu diretamente Internacional e Grêmio, por duas vezes, embora já faça parte do plantel principal desde 2023.

É um jogador de baixo centro de gravidade, com 172 centímetros, dotado de muita agilidade e velocidade, seja na condução de bola ou quando requisitado no espaço.

Na Copinha 2025, embora só tenha apontado um golo – e que golo foi -, mostrou argumentos como extremo de faixa, gostando de cortar para dentro e visar a baliza, necessitando de maior consistência.

Apesar do seu físico pouco desenvolvido, compensa com técnica, conseguindo fugir a impactos que não o beneficiam e fugindo por espaços mais curtos.

Gustavo Bagatini

Ainda no Rio Grande do Sul e na equipa do Zeca, tem Gustavo Bagatini. Médio centro/ofensivo de nacionalidade italo-brasileira que vai ganhando espaço na equipa principal do São José e com formação no Internacional e no Grêmio.

Destaca-se pela forma como desequilibra vendo o jogo de frente, com bastante calibre ao nível do passe longo e alguns argumentos em condução de bola. Para além disso, é um médio com muito boa chegada ao último terço, seja em condução, com bastante uso da pedalada, ou a romper na área e que atira bem à baliza.

Preferindo orquestrar os ataques do que receber de costas para o jogo, demonstra também capacidade de descair nos flancos para criar passes de morte para os seus colegas de equipa. Com as devidas distâncias, podemos fazer uma comparação de perfil a Orkun Kokçu.

Cauã Tavares

Confesso que não percebo como é que é Cauã Tavares, depois desta Copinha, não conseguiu melhor do que se transferir, com todo o respeito, para o Maringá, da Série D do futebol brasileiro.

Este defesa-central, que representou o Oeste nos últimos dois anos, combina as caraterísticas de um defesa-central à moda antiga com as de um defesa-central moderno. Imensamente maduro para correr riscos com e sem bola, ambidestro, rápido, agressivo, nem sempre positivamente, sendo esse o seu ponto a melhorar para dar o salto qualitativo, e muito imponente através do jogo aéreo.

É comum vemo-lo a sair em conduções desde trás, com enorme risco e confiança, mas com segurança na maioria dos casos, sabendo que o transfer para a Liga Portuguesa aumentará a dificuldade.

Curiosamente, já cá esteve, representando os juniores do Länk FC Vilaverdense em 2022/2023, apontando curiosos seis golos em 17 partidas.

Arthur Schilling

Apesar de canhoto, Schilling atuou, na maioria das vezes, como médio centro do lado direito, na equipa da Ferroviária, tendo algumas dificuldades em usar o seu pé direito.

É, acima de tudo, um organizador de jogo com boa gestão de ritmos e com capacidade de colocar passes a várias distâncias, exibindo-se mais no passe longo, com exímia colocação de bolas no espaço livre para os velocistas aproveitarem.

Valoriza muito a bola, sabendo escondê-la, mais através da técnica do que físico.

No plano defensivo, não sendo o seu ponto forte, cumpre, tendo recursos para a recuperação.

Igor Carvalho

Nos dias que correm, para ser um bom guarda-redes, mais do que ser um bom shot-stopper, é preciso ser-se diferenciado em tudo o que envolve as saídas da baliza.

Aí, Apesar de não ser um dos guarda-redes mais experientes na teoria, Igor Carvalho surpreendeu e foi um dos responsáveis pela passagem da Ferroviária aos quartos de final.

Se a Locomotiva atacou com a veemência que se viu, foi porque tinha na baliza um guarda-redes corajoso, proativo nas suas ações e que dava garantias no controlo da profundidade e na defesa a cruzamentos. Cheio de personalidade e com três jogos sem sofrer golos na Copinha, foi o meu favorito na competição.

Fortunato

Fortunato apontou três golos em quatro partidas e foi um dos principais pela chegada do América-RJ (clube que tem Romário como dono) às fases a eliminar, tendo sido eliminado pelo Cruzeiro nas grandes penalidades.

Partindo da esquerda, é um extremo praticamente autossuficiente, que conjuga força física com técnica, velocidade e uma enorme capacidade de remate partindo de fora para dentro, que causa dores de cabeça a qualquer lateral.

Tem também uma personalidade forte e muita frieza.

Kauan Silva

Kauan Silva foi, por larga distância, o jogador mais destacado da equipa do São Carlos, embora tenha jogado apenas 153 minutos ao longo de três encontros.

Iniciou a Copinha como suplente, resolveu os dois primeiros jogos partindo do banco, marcando todos os três golos da equipa, que, ainda assim, não foram suficientes para assegurar a passagem para as fases a eliminar.

É um avançado que, quanto a mim, pode fazer qualquer função do ataque e que apresenta muita técnica para virar jogos, como o fez.

Para além disso, é móvel, gosta de descair nos corredores, tem boa velocidade e possui um belo instinto finalizador, perto ou longe da baliza.

João Marcelo

O Guarani até caiu para a Série C do Brasil, mas o que João Marcelo fez na Copinha e vem fazendo no Campeonato Paulista pode ajudar o Guarani a retornar à Série B ou efetuar uma boa venda.

Não tem a mobilidade e a velocidade de outros e por isso sempre será mal-amado, mas já leva três golos e duas assistências com a camisola principal do Guarani, sendo, provavelmente, um dos que melhor fez a transição da formação para o profissional.

Ele é um daqueles pontas de lança que podem ser referência no jogo direto, segurando a bola, oferecendo pausa ao jogo, mas ainda assim ser imprevisível, já que é forte nas combinações e tem a particularidade de se virar rapidamente e chutar com espontaneidade.

Também tem sido solução como uma espécie de avançado interior a partir da esquerda e com sucesso.

O torneio é imenso e o talento das diversas gerações é ainda maior. Ainda assim, há muitas equipas brasileiras que não aproveitam as suas jóias como deveriam e, por isso, os clubes portugueses devem continuar a fazê-lo.