
O Presidente da Ucrânia respondeu a Donald Trump com duras críticas à cooperação entre a nova administração em Washington D.C. e a Rússia, afirmando esta quarta-feira que Trump vive “numa bolha de desinformação” e deixando claro que não abandonará o cargo tão cedo.
Os comentários de Volodymyr Zelensky surgiram horas depois de Trump ter admitido encontrar-se com Vladimir Putin, tendo defendido a posição do Kremlin e sugerido que a culpa pelo início do conflito era da Ucrânia. Numa conferência de imprensa, Zelensky lamentou as declarações e, ainda que mantendo “o respeito por ele como um líder de uma nação” que a Ucrânia também respeita, reiterou que o homólogo está a argumentar com base em informações falsas.
“Há muita desinformação vinda da Rússia. (...) Isto é preocupante, tudo o que fazem é tentar tornar a Ucrânia mais fraca”, disse.
Zelensky também respondeu a uma declaração de Trump, referindo que o Presidente ucraniano tem uma taxa de aprovação de 4% e que devia considerar ir a eleições. O líder da Ucrânia esclareceu que não comenta “taxas de popularidade, especialmente as de outros líderes”, mas notou que os seus dados apontam para uma taxa de 58% de aprovação entre os ucranianos.
“Se alguém quiser substituir-me agora, não vai resultar”, avisou Zelensky.
O Presidente ucraniano não ficou por aqui nas respostas a Trump, que defendeu na terça-feira que os Estados Unidos deram 500 mil milhões de dólares em apoio à Ucrânia e deviam ser compensados com acordos de exploração de minerais raros. Zelensky refutou os dados, embora tenha deixado em aberto a possibilidade de conversar sobre um "documento sério" que contenha "garantias de segurança".
"Todos queremos uma vitória, eu quero que Trump ganhe, que a Ucrânia ganhe, que todos tenhamos sucessos. Mas não há nada concreto", disse, acrescentando que está a proteger a Ucrânia e não está disposto a "vender" a liberdade e soberania do país. "Eu não posso vender o nosso Estado", sublinhou.
Zelensky lamenta "branqueamento" da responsabilidade russa
Na terça-feira, Donald Trump disse que Zelensky não fez tudo para evitar o conflito e que a Rússia tinha alguma razão em não autorizar a entrada da Ucrânia na NATO. As palavras do Presidente dos Estados Unidos causaram grande alvoroço e receio na Europa e críticas de aproximação à Rússia (que já tinham sido levantadas durante a campanha presidencial e após a nomeação de dirigentes como Tulsi Gabbard). Mas mais surpreendente que isso, geraram rasgados elogios na Rússia. Esta quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, agradeceu a Trump por "compreender" a posição e relacionar a "imprudente" decisão de Joe Biden em apoiar a Ucrânia.
"Nenhum líder ocidental tinha dito isto, mas ele disse-o várias vezes. Isto já é um sinal de que ele compreende a nossa posição", notou Lavrov.
Zelensky voltou a puxar das estatísticas para garantir que a esmagadora maioria da população ucraniana não está disposta a ceder território à Rússia e repetiu que a Rússia é "a parte culpada" pelo início da guerra. E admoestou Trump, alertando que "não é possível lavá-los como dinheiro" e "branquear" a responsabilidade de Moscovo.
"Kellogg [o enviado de Trump à Ucrânia] vai ver isso hoje. Deixem-no falar com as pessoas, deixem-no perguntar sobre o seu Presidente, sobre Putin, sobre Trump. [Trump] tem o seu enviado aqui e é importante que ele veja o que está a acontecer. Estou pronto a ir à linha da frente com ele", afirmou Zelensky.
Ucrânia agradece apoio europeu
O líder ucraniano deixou ainda palavras de apreço aos líderes europeus que, esta semana, reuniram para falar sobre o apoio da União Europeia e da NATO à Ucrânia e sobre o aumento da despesa em defesa militar. Ainda esta quarta-feira, a União Europeia acordou novas sanções contra a economia russia, e Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, salientou que os Estados-membros estão "comprometidos em manter a pressão sobre o Kremlin".
Zelensky sublinhou a "forte mensagem dada pela Europa à Ucrânia" e considerou que as conversas em Paris mostram que "a Europa está preparada para ajudar a Ucrânia, se houver uma redução da assistência dos EUA ou de outro lado".
Questionado sobre se a Ucrânia continua com intenções de se juntar à aliança transatlântica, Volodymyr Zelensky respondeu que a NATO mantém-se a "garantia mais forte" para a Ucrânia.