A vertigem política das últimas semanas levou-nos a novas eleições legislativas. Indesejadas, mas oportunas. Além de vermos o RAP a trabalhar mais, podemos discutir o que fazer neste não muito admirável mundo novo.

Tudo mudou nos últimos meses. Agora, estamos perante um país com um Presidente sem estratégia, mas que procura ser visto como um rei forte. Por cá, somos um conjunto de nações sem rainha ou rei, nem estratégia, mas que tenta jogar ao rei forte. Duas guerras marcam o momento actual: a guerra tarifária; e a guerra na Ucrânia.

Os Estados Unidos acabam de lançar o seu ataque e a União Europeia (EU) responde, fazendo-se de forte, prometendo retaliar na mesma moeda. É um erro! Se no curto prazo mostra força, no longo vai afundar a debilitada economia Europeia.

Numa economia globalizada, o efeito desta guerra não é linear. O impacto das tarifas impostas à UE depende da reação que a procura nos Estados Unidos terá ao aumento do preço. Esta depende do comportamento do consumidor norte-americano e da capacidade de substituir as importações por produção nacional. O impacto vai ser mau, mas não sabemos quão mau. O que sabemos é que impor tarifas aos bens importados vai aumentar a inflação na Europa. Somos nós, cidadãos, que as pagaremos. Mais ninguém.

A melhor resposta é deixar os EUA a falar sozinhos e procurar outros parceiros que tenham genuíno interesse no comércio livre. A Europa pode liderar a construção de um novo bloco global de países que desejem o comércio livre. Perderemos uns mercados, ganharemos outros. A Europa afirma-se, sem se ajoelhar perante ninguém.

Também na Guerra na Ucrânia temos que seguir o nosso caminho, fazendo a coisa certa, tanto no apoio militar à Ucrânia, como no reforço da capacidade militar da Europa, sustentando uma dissuasão que garanta a paz.

Investir mais na defesa é uma inevitabilidade que vai ser discutida já no orçamento de estado para 2026. Acreditar que temos até 2029 para aumentar a despesa para 2% do PIB mostra alheamento da realidade. É claro que o objectivo não é gastar mais dinheiro para atingir determinada percentagem do PIB, pois seria uma lógica muito tonta. O objectivo é identificar as necessidades do País e gastar o necessário com rapidez, determinação e acção. Estas necessidades implicam investir mais em novos sistemas de armas e aumentar o efetivo.

A pequena dimensão do território continental e a ausência de fronteiras terrestres sob ameaça reduzem a necessidade de um exército grande. Temos, sim, necessidade de um exército bem preparado e equipado e com capacidade de projecção internacional com o apoio logístico adequado.

Ao contrário, a dimensão da área marítima e aérea sobre nossa jurisdição, sob ameaça permanente, implica que a Marinha e Força Aérea tenham meios substanciais à disposição.

Aumentar o efetivo militar é um desafio maior do que atrair pessoas para a Saúde e Educação. Além de adequadas condições remuneratórias e de boas condições para o cumprimento das missões, é preciso pensar no futuro destes jovens no dia em que deixarem as forças armadas.

Quem entra para a Força Aérea e para a Marinha sabe que vai ser bem preparado para uma especialidade técnica, cujas competências são fortemente cobiçadas no sector privado. O mesmo não acontece no Exército, cujas saídas profissionais após o serviço militar tendem a ser forças de segurança e proteção civil e motorista de pesados, para não falar de atividades criminosas.

Só Forças Armadas bem preparadas e apetrechadas podem ser empenhadas em estruturas internacionais eficazes na dissuasão. Apesar de tudo, os EUA não são o inimigo. O Coronel Andrew Bernard publicou a 20 de Março último, no Expresso Online, um artigo a vender a ideia que o F-35 é a melhor opção para os aliados portugueses, mostrando que os EUA continuam a ser aliados. A aliança não está em causa.

A Europa tem é sair de casa dos papás e tornar-se adulta no mundo geopolítico. A gravidade excepcional do contexto actual tornam uma campanha centrada na Spinumviva uma tremenda irresponsabilidade e leviandade.

Os novos tempos que vivemos obrigam a mandatar o futuro governo nestes temas, o que requer discussão séria por parte dos políticos, assente numa clara visão estratégica para o papel de Portugal neste novo mundo. Winter is coming.