É num relatório da Guarda Costeira norte-americana, conhecido esta terça-feira, que se concluiu que o submersível Titan, que implodiu em junho de 2023, nunca deveria ter operado. O mesmo foi denunciado por David Lochridge, ex-diretor de operações da Oceangate.

Numa entrevista à BBC, esta quarta-feira, confessa que, quando o submersível Titan desapareceu em 2023, ainda tinha esperança de que os cinco ocupantes fossem encontrados com vida.

“Mas sabia que, se continuassem a operar da forma como estavam a fazer e com aquele equipamento deficiente, acabaria por haver um incidente”, referiu.

Na entrevista, divulgada nas últimas horas, o antigo diretor de operações marítimas da OceanGate vem confirmar as falhas apontadas no relatório da Guarda Costeira norte-americana. Despedido em 2018, depois de levantar dúvidas à segurança do Titan, David Lochridge revela que muita coisa podia ter sido feita de forma diferente.

“Desde o design, à construção, às operações…Venderam uma mentira às pessoas”, disse à BBC.

Lochridge foi um dos primeiros a denunciar as falhas estruturais no casco de fibra de carbono e a pôr em causa a qualidade dos materiais utilizados. Segundo conta à BBC, o Titan tinha fissuras visíveis, peças descoladas e uma janela de observação que não estaria preparada para as pressões do fundo do oceano.

“Só encontrei resistência”, apontou o ex-funcionário.

Já fora da empresa, Lochridge apresentou uma queixa formal à OSHA, a agência para a segurança no trabalho dos EUA.

“Forneci toda a documentação. Falava com eles de poucas em poucas semanas. A OSHA não fez nada.”

Mais tarde, o ex-funcionário e a esposa foram processados pela Oceangate, que exigia ao casal uma indemnização de 10 mil dólares. Exaustos, acabaram por assinar um acordo de confidencialidade.

“Demos tudo o que tínhamos. Ficámos completamente esgotados… Eles esmagaram-nos”, contou.

Segundo a Reuters, o relatório da Guarda Costeira confirma que houve uma falha grave de resposta institucional: o e-mail da OSHA com a denúncia não chegou ao destino e a agência admitiu falhas. “O sistema não funcionou”, disse o responsável pela comissão de inquérito à implosão do Titan.

No relatório agora conhecido, as autoridades revelam que a OceanGate detetou anomalias no casco detetadas em 2022, depois de uma expedição ao Titanic. Mesmo assim, avançou com novas expedições. O documento diz ainda que o submersível não foi armazenado no inverno, antes da viagem de 2023, mantendo-se ao livre.

Foi durante essa expedição que o Titan perdeu o contacto com o navio de apoio. Quatro dias depois, os destroços foram encontrados no mar. A bordo seguiam o CEO da OceanGate, Stockton Rush, o oceanógrafo francês, Paul-Henri Nargeolet, Hamish Harding, dono da Action Aviation, Shahzada Dawood, empresário paquistanês-britânicoe o seu filho de 19 anos, Suleman Dawood.