
Está a decorrer a 109.ª edição da festa madeirense do Santíssimo Sacramento em New Bedford, nos Estados Unidos, a maior festa portuguesa do Mundo.
Em New Bedford, o bom tempo que se fez sentir ontem, no segundo dia de festa, atraiu milhares de pessoas ao Madeira Field, local onde decorre o evento. O espaço conta com cinco palcos para as mais diversas actuações de várias bandas e grupos de folclore.
A marcar presença neste evento está o secretário regional da Agricultura e Pescas, Nuno Maciel, em representação do Governo Regional, acompanhado pelo presidente do Instituto do Vinho e do Artesanato da Madeira, Tiago Freitas.
Neste evento, que conta com mais de 50 barracas, não falta a espetada típica madeirense, o bolo do caco, a poncha, a cerveja Coral e ainda o rei da festa que é o Vinho Madeira.
Este ano, o presidente da comissão de festa é Carl Colangelo e o presidente do Clube Madeirense S.S. é Tim Rodrigues. Também marca presença no evento o embaixador de Portugal nos Estados Unidos da América.
Contexto histórico da festa
A festa do Santíssimo Sacramento iniciou-se em New Bedford em 1915, fruto da iniciativa de uma comissão composta por quatro homens oriundos do concelho da Calheta.
Esta festa tem raízes muito antigas na Madeira, onde é comummente designada por Festa do Senhor, sendo celebrada por toda a ilha, antes ou depois das solenidades em honra dos padroeiros de várias igrejas, organizada pelos irmãos das Confrarias do Santíssimo Sacramento.
Nesse longínquo ano, a festa contou com a presença de 2.000 pessoas e os arredores da igreja foram decorados a preceito, tal como se fazia na ilha, não faltando a iluminação típica dos arraiais madeirenses.
Os quatro primeiros festeiros foram Manuel Santana Duarte, Manuel Agrela Coutinho e Manuel Agrela, naturais da freguesia do Estreito da Calheta, e Manuel Gomes Sebastião, natural da freguesia dos Prazeres.
Domingo há dia forte
Este domingo regista-se o momento alto da Festa do Santíssimo Sacramento, em New Bedford.
São esperadas mais de 350 mil visitantes no 'Madeira Field', recinto principal das festividades.
Longe vão os anos (1915) em que os 4 madeirenses da Calheta começaram a celebrar a Festa do Santíssimo Sacramento. A dimensão é certamente outra, mais pujante, mas o espírito, a cultura e tradição mantém-se, combinando elementos religiosos, culturais e gastronómicos, como outrora.
O Clube Madeirense S.S. Sacramento, fundado em 1953, e responsável pela organização das festividades garante um programa, que começa com a missa solene na Igreja da Imaculada Conceição, seguida de procissão com o Santíssimo Sacramento.
Depois do momento de fé, há espaço para o grande desfile, com ranchos folclóricos, bandas e carros alegóricos, ao estilo das paradas americanas.
Antes da degustação das iguarias tipicamente tradicionais da Madeira, o Clube Madeirense S.S. Sacramento entregará 50 mil dólares em bolsas de estudo, naquele que é também uma tradição da coletividade, em devolver, para benefício da comunidade, os contributos dados por esta, com esforço e devoção, ao Santíssimo Sacramento.
New Bedford é uma cidade norte-americana, situada no estado de Massachusetts, com uma área de cerca de 63 km2 e perto dos 94 mil habitantes, muitos dos quais emigrantes portugueses, dos Açores e da Madeira, que aí fundaram uma vasta comunidade desde o início do século XIX, e que ainda desempenham um papel significativo na vida social e cultural da cidade.
A indústria baleeira foi um factor importante na atração de imigrantes portugueses para a cidade que, actualmente, preserva muitas tradições e costumes portugueses.
A influência portuguesa é evidente na arquitetura, na gastronomia e nas atividades culturais de New Bedford, de que é exemplo a Festa do Santíssimo Sacramento e o Madeirean Heritage Museum.
Essa influência portuguesa é tão marcante em New Bedford, que Portugal consolidou uma presença consular para atender os residentes portugueses e luso-descendentes.
Nuno Maciel aproveitou a presença do embaixador de Portugal nos Estados Unidos, Francisco Duarte Lopes, e do Cônsul Tiago Cabrita de Sousa, para se inteirar da dimensão da comunidade portuguesa em New Bedford, maioritariamente com origem nas Ilhas do Atlântico.
De acordo com o último censo americano, datado de 2009, há um total de 1.447.780 portugueses e luso-americanos a residir nos EUA, sendo que a comunidade madeirense representa 3 a 5% do total de portugueses residentes neste país.
“São números expressivos, que traduzem bem a dimensão que a Madeira dá ao Mundo”, assume o secretário regional de Agricultura e Pescas, que se mostrou impressionado com enraizamento da nossa cultura naquela localidade e na forma como o Estado Português acompanha e acarinha a comunidade, que se afirmou e prosperou naquele continente.
“Ter aqui os serviços consulares de Portugal, é demonstrativo da dimensão e importância que esta comunidade alcançou no Estados Unidos da América, mas é também um motivo de tranquilidade para nós, que estamos longe, e acompanhamos à distância os problemas, os constantes desafios e os sucessos dos nossos conterrâneos. É uma ponte de ligação permanente, que não só nos tranquiliza, como afirma a soberania portuguesa, num território com tão marcante presença de portugueses e luso-descendentes”, assume Nuno Maciel.
Nos Estados Unidos da América existem 343 colectividades portuguesas e luso-americanas, compreendendo associações recreativas e culturais, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, sociedades de beneficência e religiosas e casas regionais, com destaque para a Associação Protetora da União Madeirense, criada em 1911, cujo primeiro presidente foi o madeirense João Gouveia.
Como é do conhecimento público, o continente americano foi o principal destino da emigração madeirense no século XIX, recebendo 98% dos emigrantes saídos da Madeira, principalmente para as Antilhas Inglesas, Brasil, América do Norte e Ilhas do Havai.
A presença portuguesa nos Estados Unidos remonta a 1850, quando muitos portugueses participaram na corrida ao ouro e na fundação de colónias agrícolas, na Califórnia. Os negócios ligados à pesca da baleia contribuíram, igualmente, para uma grande vaga de emigração.
Manuel de Oliveira foi o primeiro madeirense a chegar a este país, tendo sido nomeado administrador da Missão de São Gabriel.