
Com os incêndios a marcarem o verão, os métodos alternativos de combate entram na discussão. Um exemplo: os meios de combate autónomos podem ser uma alternativa para salvaguardar vidas dos bombeiros. Por isso, uma empresa portuguesa desenvolveu um carro de combate comandado à distância e elétrico, um drone para o combate aos fogos e um robot autónomo para ajudar na gestão das florestas.
Trata-se de uma visão “disruptiva”: é desta forma que Jacinto Reis Oliveira, sócio-gerente, e responsável pela área de inovação da empresa Jacinto, descreve o veículo Eco-Camões. É um camião de combate a incêndios totalmente elétrico e com “zero risco para o operador”. “Se o operador for dentro do veículo e achar que há risco elevado, por exemplo, de explosão de um avião, afasta-se cerca de 500 metros do veículo e deixa o carro a combater”, com ele a controlar à distância.
Com capacidade de 10 mil litros de água e 300 quilómetros de autonomia, este camião consegue bombear água durante quatro horas. “Mesmo ao nível da manutenção, este carro exige muito menos do que um veículo de combate”, realça. Foi desenvolvido para ser um carro de aeroporto e combater os incêndios neste contexto, mas também pode ser usado em contexto urbano e industrial.
O Eco-Camões foi apresentado em 2022 e o objetivo da empresa era que ficasse em Portugal, contudo após vários anos de demonstrações em aeroportos, aeródromos e até infraestruturas militares, aperceberam-se de que estes não estão preparados para receber carros elétricos devido à falta de postos de carregamento. “Todos nos dizem que viemos cedo para aquilo que eles estavam preparados”, confessa Jacinto Reis Oliveira.
A empresa tentou ainda abordar algumas Câmaras Municipais, mas não viram “abertura” para a aquisição deste tipo de veículo de combate a incêndios. “Os carros de bombeiros não andam todos os dias e eles não veem isto como uma prioridade na questão da sustentabilidade ambiental”, explica. Por este motivo, “este ano e o próximo, vamos estar focados em tentar promovê-lo fora de portas”.
Este veículo está dedicado aos incêndios urbanos, mas o projeto SAP desenvolveu também um drone para combate aos incêndios rurais. “Correu bem em espaços e ambientes controlados”, contudo a carga da água fazia o drone destabilizar. Mesmo quando estava ligado a um veículo de bombeava água, o vento poderia prender mangueira do drone nas árvores e levar à sua queda.
Face a esta dificuldade, adaptaram o drone para agir no caso de incêndios habitacionais ou edifícios muito altos e com difícil acesso. “O drone tem uma valência boa de poder subir até onde quisermos”, diz. Ainda assim, num incêndio florestal, “pode ser usado noutras vertentes, como para colocar faixas de contenção com retardante”, o que pouparia tarefas aos bombeiros. Este dispositivo pode ser útil no combate aos incêndios de forma “indireta” ou até na prevenção.
O projeto E-Forest também desenvolveu um robô para a prevenção de incêndios e gestão florestal. “O produto foi pensado em duas vertentes: uma para a recolha da biomassa e limpeza das florestas e outra para dar ao robô a capacidade de extinção de um pequeno foco de incêndio que detetasse”, explica Jacinto Reis Oliveira.
Este robô é transportado por um reboque, equipado com painéis fotovoltaicos, para efetuar o carregamento deste de forma autónoma. Através de sensores e com recurso à inteligência artificial, deteta obstáculos, realiza sozinho as tarefas necessárias e deteta focos de incêndio, apagando-os. É ainda um projeto “muito verde, no sentido em que foi pouco testado ainda”, mas o objetivo é que, no futuro, o robô ajude na limpeza florestal e até possa ser usado pelos municípios.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto Eco-Camões foi financiado em 1,6 milhões de euros através do programa COMPETE 2020, sendo que cerca de 628 mil euros são provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Enquanto o SAP liderado pela empresa Jacinto em conjunto com a Sleeklab, a Categoria Funcional e a ADAI - Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial recebeu o apoio através do mesmo programa cerca de 733 mil euros, dos quais 449 mil euros são do FEDER. Também o projeto E-Forest, desenvolvido com a Bold Robotics e a Universidade de Coimbra, foi financiado pelo COMPETE 2020 em 1,3 milhões de euros, com cerca de 838 mil euros provenientes do FEDER.
Estes projetos dão “notoriedade” à empresa e “ganhámos todos” por existir um desenvolvimento de áreas com as quais não existe tanta familiaridade e há até um desenvolvimento de produtos paralelos. O apoio dos fundos “é uma ajuda, não há dúvida, sem esse apoio, se calhar não avançávamos para determinados projetos”, diz Jacinto Reis Oliveira.
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