José Sócrates acusou o Ministério Público de ter criado uma narrativa "absurda" para sustentar o crime de corrupção alegadamente praticado pelo Grupo Lena - para que o consórcio do qual fez parte no concurso de construção de um troço do TGV recebesse uma indemnização do Estado caso houvesse chumbo do Tribunal de Contas.

No quinto dia de julgamento, o ex-primeiro-ministro usou mais de oito vezes o adjetivo "absurdo" para qualificar o trabalho dos procuradores. A juíza Susana Seca voltou a pedir contenção.

“Já referiu várias vezes que a acusação é um absurdo. Até há o teatro do absurdo ou o número do absurdo. Vamos deixar este tipo de qualificações. Apelava ao Sr. José Sócrates que não as fizesse”, disse a juíza.

Ao que José Sócrates responde: "Mas eu fui vítima disto. Se não se importa..."

"Mas pode dizê-lo sem referir criminoso e outro tipo de epítetos que possam ser entendidos como insultos."

“Farei o meu melhor”, responde o antigo primeiro-ministro.

José Sócrates diz que não teve qualquer intervenção para favorecer o Grupo Lena e lembra que a obra nem chegou a ser feita. "Se eu tivesse alguma intenção de beneficiar a Lena não teria eu próprio destituído um diretor-geral. Se tivesse havido essa 'combinazione', não teria eu mesmo assinado o documento para o afastar."

O Ministério Público fala de pagamentos corruptos de grande volume em 2007 para um projeto que nunca se realizou. Destinavam-se a obter indemnizações do Estado que, até hoje, nunca foram pagas, caso o Tribunal de Contas chumbasse a proposta do consórcio Elos.

O antigo primeiro-ministro diz que a "acusação genérica" de que o seu Governo beneficiou a empresa Lena não é fundamentado em nada "a não ser uma opinião” e que é "tudo desmentido pelos números".

Em tribunal, Sócrates disse, ainda, que Portugal não tem TVG por culpa do Ministério Público.

"Nunca mais se falou de TGV no nosso país. No entretanto, Espanha construiu 1500km. (...) Nós não fizemos nada. O MP lançou suspeitas que o concurso foi manipulado."