Pedro Nuno Santos reafirma, no Jornal da Noite da SIC, que o Partido Socialista vai votar contra a moção de confiança, que considera um "pedido de demissão cobarde" de Montenegro. O líder do PS diz que só há uma forma de evitar eleições: o primeiro-ministro retirar a moção.

A entrevista do secretário-geral do PS acontece na véspera de um dia decisivo para Portugal: a votação de uma moção de confiança que pode levar à queda do Governo.

"Só há uma forma de evitarmos as eleições e essa forma depende do primeiro-ministro e da retirada da moção de confiança ", afirma Pedro Nuno Santos, em entrevista na SIC.

A moção de confiança é "pedido de demissão cobarde" porque Luís Montenegro sabia de "antemão" que seria chumbada pelo PS, que sempre o deixou claro. Posto isto, Pedro Nuno Santos não volta atrás e reafirma que,perante as suspeitas "graves" em relação à empresa familiar de Luís Montenegro, um primeiro-ministro "sem ética", o voto será contra.

"É impensável que agora, perante a moção de confiança, eu faça o contrário do que disse há uma semana no debate de censura do PCP e há duas semanas no debate de censura do Chega", diz.

O PS tem compromisso de "apuramento da verdade", mas também foi dizendo ao longo de um ano que chumbaria uma moção de confiança. Nesse sentido, tem o "dever de ser coerente".

Em relação à comissão parlamentar de inquérito, Pedro Nuno Santos justifica que o PS quer ter acesso a "prova documental", como o "mapa de horas dedicado ao trabalho, emails, interações", ou seja, as provas de que há trabalho que justifique as avenças.

"Neste momento já não há resposta escrita ou oral que resolva a suspeita. Só é resolvida se conseguirmos ter acesso às provas, aos documentos que comprovam que o trabalho foi realizado e que o preço pago é o preço justo."

Questionado sobre os riscos que Pedro Nuno Santos corre com novas legislativas, cita Francisco Sá Carneiro:

"A política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha."

Governo não retira moção de confiança

O ministro da Presidência garantiu esta segunda-feira que o Governo não vai retirar a moção de confiança, uma garantia que também foi dada, horas depois, pelo primeiro-ministro numa entrevista à TVI.

Perante isto, o Governo de Montenegro cai esta terça-feira, caso o PS vote mesmo contra a moção de confiança. O Chega já confirmou que vai chumbar a moção por considerar que se mantém as suspeitas "graves" sobre o primeiro-ministro.

O PS está reunido esta segunda-feira à noite, depois da entrevista de Pedro Nuno Santos na SIC.

Se o Governo cair, serão as terceiras eleições legislativas em três anos.

Montenegro (e a empresa de família) no centro da polémica

A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou esta semana apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.

Depois de mais de duas semanas de notícias - incluindo a do Expresso de que a empresa Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva - de duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e do anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou no dia 5 de março a apresentação de uma moção de confiança.