Os serviços de informação ucranianos alertaram, este sábado, para um plano russo para dividir a Ucrânia em três partes e que, embora os objetivos do líder do Kremlin, Vladimir Putin, sejam dinâmicos, passam por mais territórios além dos já reivindicados.
A direção principal dos serviços de informações do Ministério da Defesa da Ucrânia revelou detalhes sobre um documento alegadamente elaborado na Rússia com uma previsão da evolução da situação militar e política no mundo até 2045, que também prevê um plano para dividir o território ucraniano em três, revelou hoje a agência ucraniana Interfax.
De acordo com a "secreta" ucraniana, citada pela agência, os dados do documento alegadamente produzido pelas autoridades militares russas em dezembro de 2023 constituem a base do planeamento para um mínimo de dez anos, apesar de estabelecerem metas até 2045.
O vice-diretor da agência de informações militares ucranianas, Vadym Skibitskyi, disse, em declarações à Interfax, que o conteúdo do documento confidencial está relacionado com futuros desenvolvimentos a nível global e regional e com as ameaças que a Rússia vê para si própria.
"Para ter um poderoso potencial económico, demográfico, territorial e militar, Putin precisa de toda a Ucrânia", salientou Skibitskyi, advertindo que esse "continua a ser o objetivo estratégico da Federação Russa" e o mais depressa possível.
O responsável da "secreta" ucraniana acrescentou que o cenário de uma possível divisão do país seria "já relevante num futuro próximo, para 2026, e talvez até antes", após Putin ter já consagrado como territórios russos as regiões ucranianas parcialmente ocupadas de Lugansk e Donetsk, no leste do país, e de Kherson e Zaporijia, no sul, além da anexação anterior da península da Crimeia (em 2014).
De acordo com o alegado documento, também referido pelo jornal Kyiv Independent, apesar de não ter confirmação da sua autoria, as regiões orientais do país, incluindo os territórios parcial e totalmente ocupados pela Rússia, seriam anexados pela Rússia, conforme já previsto pelo Kremlin (presidência russa).
As regiões ocidentais seriam "territórios disputados", que poderiam ser reivindicados pelos países vizinhos, incluindo a Polónia, a Hungria e a Roménia, e o restante território, incluindo a capital ucraniana, Kiev, tornar-se-ia num "estado fantoche controlado pela Rússia", o que significa que não poderia aderir à NATO.
O documento prevê "a dissolução efetiva do Estado ucraniano independente", segundo o jornal de Kiev, e apresenta ainda quatro cenários de desenvolvimento da ordem mundial global, dois dos quais vistos como favoráveis a Moscovo e dois desvantajosos.
"Dois dos cenários, denominados 'formação de um mundo multipolar e divisão das esferas de influência pelos principais atores' e 'regionalização/caotização', envolvem uma vitória russa na Ucrânia", segundo o Kyiv Independent.
Os outros cenários, "dominação dos Estados Unidos e do Ocidente" e "aquisição pela China do estatuto de principal potência mundial", pressupõem uma derrota militar na Ucrânia.
O documento, prossegue por sua vez o portal Euromaidan, explicita também uma divisão que prevê a aprovação de um governo pró-russo em Kiev, ou necessariamente "neutro", o que significa que o país não poderia aderir à NATO.
"Tudo isto é análise e avaliação feita pelos russos. Podemos ver a rapidez com que podem alterar os seus planos, dependendo dos seus sucessos, da reação da comunidade internacional e da evolução da situação", comentou Skibitsky, frisando que o Kremlin já analisou as ameaças que a Rússia enfrentará até meados do século.
Respondendo à questão de saber se os russos poderiam tentar transferir estes documentos para os Estados Unidos através de outros países, numa fase em que o republicano Donald Trump se prepara para assumir a Casa Branca (presidência norte-americana) e é conhecida a sua posição desfavorável à continuação de apoio militar a Kiev, Skibitsky disse não ter informações nesse sentido, mas que a possibilidade não podia ser descartada.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).