A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e o líder do PCP, Paulo Raimundo, entendem que recorrer aos bombeiros para reforçar a resposta do INEM não resolve os problemas estruturais no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, por outro lado elogia a medida, mas pede respostas ao primeiro-ministro em relação às recentes falhas no instituto.
Mariana Mortágua considera que a medida conhecida esta quinta-feira nada mais é do que um "pequeno penso" face às necessidades dos serviços de urgência pré-hospitalar.
A coordenadora do BE defende que as ambulâncias dos INEM "estão velhas e estão sempre a avariar".
"Em vez de se encarar este problema de frente e em vez de se compreender que é preciso dar condições às pessoas para trabalharem no INEM andam-se a puxar pontas dos bombeiros para o INEM, do INEM para a Cruz Vermelha, da Cruz Vermelha para os bombeiros sem nunca resolver o problema estrutural", acusa.
Diz ainda que "não há plano de inverno" para a Saúde e atira que "cada vez que a ministra [da Saúde] promete um plano sabemos que não há nada".
Volta a questionar em que condições é que o Instituto Nacional de Emergência Médica será privatizado:
"Porque é que estamos sempre a começar tudo de novo em vez de dar condições à estrutura que está montada e que funciona?"
"Hoje 90% do socorro já é prestado pelos bombeiros"
O secretário-geral do PCP acusou também o Governo de não se ter precavido para o inverno no SNS, antecipando que "vai haver problemas", e considerou não haver "nenhuma novidade" no recurso a bombeiros para reforçar a emergência médica.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita a um jardim de infância na Pontinha, em Lisboa, Paulo Raimundo reagiu à notícia do Público que indica que o Ministério da Saúde decidiu criar um Dispositivo Especial de Emergência Pré-Hospitalar, que pode ter até 100 equipas de bombeiros, para funcionar entre dezembro e fevereiro, reforçando a resposta durante o pico da gripe.
Para o secretário-geral do PCP, "não há novidade nenhuma nessa medida".
"Das duas, três: ou não se conhece nada do que se está a falar, ou então está-se a empurrar com a barriga , porque hoje 90% do socorro já é prestado pelos bombeiros", respondeu.
Paulo Raimundo defendeu que o que é necessário é "responder às necessidades do INEM - técnicas, humanas, valorizar as suas carreiras e profissionais" - e, "já que se quer meter os bombeiros ao barulho", cumprir os "protocolos que têm com o INEM e que em grande parte não são cumpridos, desde logo no que diz respeito aos meios que supostamente o INEM entregaria aos bombeiros".
Questionado se considera que o Governo se precaveu para o pico de inverno no Serviço Nacional de Saúde (SNS), Paulo Raimundo respondeu: "Não, o Governo não se precaveu para nada".
"A única forma de prevenir o inverno, o verão, os picos de intensidade, é: mais médicos, mais enfermeiros, mais técnicos no SNS para responder às necessidades das populações. Para isso, é preciso o quê? Mais respeito, mais valorização das carreiras, mais respeito pelas profissões e condições de trabalho. Ora, o Governo não fez nada disso", afirmou.
"Vai haver problemas"
Interrogado se acha que os problemas que se verificam anualmente no inverno no SNS se vão manter, Raimundo respondeu que, "se não mudou nada de estrutural, os problemas vão ser os mesmos", recorrendo a uma expressão da série "A Guerra dos Tronos".
"'Winter is coming'. Eu não digo isto com nenhum agrado, pelo contrário, preferia estar completamente enganado, mas não é isso que vai acontecer: vai haver problemas, dificuldades, exatamente porque o Governo está a precaver os interesses dos grupos económicos e está a precaver muito mal a saúde do nosso povo", afirmou.
Nestas declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo foi ainda questionado sobre porque é que o PCP não vai marcar presença na sessão solene do 25 de Novembro no parlamento, tendo respondido que essa sessão se inscreve "numa grande operação, de larga escala", que tem como objetivo "desvalorizar o 25 de Abril" e equipará-lo ao 25 de Novembro.
IL elogia medida
Já Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, considera que reforço do INEM com 100 ambulância é uma medida positiva, atira, contudo, que as recentes falhas são "demasiado graves".
"Está na altura de o primeiro-ministro se pronunciar sobre esta matéria e apresentar uma visão concreta para o INEM que dê garantias aos portugueses", afirma.
Acredita ainda que o presidente do INEM poderá "sair demitido" da audição em que será ouvido, esta quinta-feira, no Parlamento.
Com Lusa