Amira tem apenas 1 ano e já teve de lutar pela vida quando adoeceu com sarampo. Foi internada na ala de isolamento que a Médicos Sem Fronteiras (MSF) gere no Hospital Al-Wahda, na cidade de Ma'bar, na província de Dhamar, no Iémen.

“É a única menina dos meus três filhos”, conta o pai de Amira. “Vivemos a duas horas de distância do hospital mais próximo. As pessoas na nossa aldeia disseram-nos que havia um centro para tratar o sarampo no Hospital Al-Wahda, por isso trouxemo-la para aqui. Quando chegámos, ela parecia sem vida. Pensei que ia morrer a qualquer momento.”

Tal como o pai de Amira, muitas pessoas no Iémen vivem numa enorme ansiedade quando os filhos adoecem com sarampo e a saúde das crianças começa a deteriorar-se, ao mesmo tempo que têm de enfrentar grandes dificuldades para conseguir acesso a cuidados de saúde.

Localizado nas terras altas no centro do Iémen, a província de Dhamar está a braços com um grave surto de sarampo desde há meses. Após mais de uma década de conflitos que esgotaram os recursos do país, e com limitações significativas no acesso a cuidados de saúde, as pessoas nesta região ficaram extremamente vulneráveis a doenças que se podem prevenir. As famílias veem os filhos a sofrer com febres elevadas, erupções cutâneas e complicações que poderiam ter sido evitadas com uma assistência médica atempada.

“Primeiro pensei que era tarde demais para a salvar e que talvez fosse melhor simplesmente deixa-la descansar em casa até ao último momento de vida. Mas quando finalmente aqui viemos, os trabalhadores de saúde no centro de isolamento tranquilizaram-me”, recorda o pai de Amira. “Explicaram-me o estado dela e prometeram fazer tudo o que pudessem. Convenceram-me a deixá-la na unidade de isolamento. Agora ela tem uma nova chance de vida – algo que nunca esperei ser possível, depois de tudo o que ela passou. Ficarei para sempre grato à equipa que a trouxe de volta à vida.”

O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que se pode propagar com facilidade em ambientes superpovoados e que leva a complicações graves de saúde, especialmente nas crianças com menos de 5 anos. E é uma doença particularmente perigosa para quem tem já outros problemas ou complicações de saúde.

Apesar de ser potencialmente mortal, o sarampo pode ser prevenido com vacinação, a qual constitui a forma mais eficaz de prevenção e controlo do contágio. As vacinas não só conferem proteção individual às pessoas mas também ajudam a alcançar a imunidade comunitária que é crucial para evitar surtos da doença.

Face ao aumento contínuo de casos de sarampo no Iémen nos meses mais recentes, a MSF está, desde abril passado, a providenciar cuidados médicos muito necessários às crianças afetadas por esta doença em Dhamar.

Uma das principais componentes da resposta da MSF é a equipa móvel de emergência, que tem a capacidade única de agir depressa e de forma direta às necessidades médicas urgentes das comunidades. Esta equipa consegue mobilizar recursos rapidamente, ativar clínicas temporárias e prestar cuidados médicos imediatos a quem deles precisa. Tal capacidade de resposta célere é crucial para o controlo da propagação de doenças infeciosas como o sarampo.

Mohammed Khawamel

A equipa da MSF está atualmente a providenciar tratamento a pacientes na ala de isolamento do Hospital Al-Wahda, dotada de uma capacidade de 40 camas. São também fornecidas consultas médicas em três clínicas móveis que se deslocam por seis distritos da província de Dhamar. E, dadas as dificuldades que as pessoas enfrentam para aceder a cuidados necessários, a MSF está também a fazer o encaminhamento médico e a disponibilizar serviços de transporte de pacientes das clínicas móveis para o centro de isolamento hospitalar, além de transferir os casos graves dessa ala de isolamento para centros médicos mais avançados.

Entre abril e julho deste ano, a equipa da MSF prestou tratamento a mais de 1.400 pacientes com sarampo em Dhamar, nas atividades desenvolvidas no Hospital Al-Wahda e nas clínicas móveis. Mais de 56% dos pacientes eram crianças menores de 5 anos.

É difícil identificar todos os fatores que resultam num aumento dos desafios que se enfrentam na resposta ao sarampo e a outras doenças que têm prevenção, mas seguramente que lacunas substanciais na vacinação de rotina e um acesso limitado a estruturas de cuidados básicos de saúde desempenham um papel importante no aumento elevado do número de pacientes com sarampo.

“O Iémen regista recentemente um aumento preocupante de casos de sarampo”, frisa a diretora da MSF no Iémen, Desma Maina. “Isto surge numa altura em que as necessidades de cuidados de saúde estão a intensificar-se e em que os cidadãos enfrentam dificuldades para lhes aceder – mais de dez anos de guerra e instabilidade resultaram na deterioração dos serviços de saúde no país. E com a recente diminuição do apoio humanitário e do financiamento internacional para o sistema de saúde no Iémen, estamos profundamente apreensivos ao ver as crescentes necessidades médicas que existem nas comunidades”, adianta.

Os surtos de sarampo em províncias iemenitas, incluindo em Dhamar, evocam com clareza a importância da vacinação e a necessidade de prontidão numa ação médica rápida em momentos de crise. Assim como o quanto é preciso fortalecer as medidas de prevenção e a participação comunitária, e providenciar tratamento.

Mohammed Khawamel

Apesar dos muitos esforços das equipas da MSF, a escala das necessidades existentes exige mais esforços concertados e uma resposta abrangente e coordenada por parte de todas as entidades no setor da saúde, de forma a evitar a deterioração da situação atual. A MSF permanece empenhada em apoiar o sistema de saúde no Iémen e em providenciar cuidados médicos às pessoas que deles precisam em diversas zonas do país.