Nos momentos que se seguiram à morte de Odair Nunes, alguns órgãos de comunicação social noticiaram que seguia numa “viatura furtada” e que isso teria sido o motivo para ter fugido à polícia. A família garantiu desde o início que o carro era da vítima e que havia “papéis” para o provarem. A notícia não foi desmentida. Até esta quarta-feira.

“Não sei onde foram buscar essa informação”, disse um dos oficiais numa conferência de imprensa que juntou vários responsáveis da PSP (o diretor nacional, Luís Carrilho, esteve ausente). Mas este desmentido formal vem levantar ainda mais dúvidas sobre o que aconteceu na madrugada de 21 de outubro: o que levou um cozinheiro de 43 anos a fugir da polícia e a reagir violentamente quando foi intercetado?

Pedro Gouveia, diretor nacional adjunto com o pelouro das operações e da segurança, não quis acrescentar nada ao que a PSP revelou logo no dia da morte do morador do Bairro do Zambujal: fugiu da polícia, abalroou uns carros e quando foi intercetado reagiu violentamente, tendo tentado agredir os agentes com uma arma branca. Um deles, “esgotados” os meios de persuasão, acabou por disparar quatro vezes. Duas para o ar e duas na direção de Odair que viria a morrer cerca de duas horas depois num hospital.

O agente que o matou é um jovem com pouco mais de um ano de experiência. Para Pedro Gouveia, isso não é uma questão: “Os elementos policiais que exerciam a sua função têm a formação-base da Escola Prática e podem atuar em todo o território e em todas as circunstâncias. O facto de serem mais novos ou mais velhos não determina a sua capacidade de intervirem e patrulharem áreas mais ou menos críticas”.

A morte de Odair provocou uma onda de protestos e desacatos que duram há três dias e levaram à destruição de autocarros, ferimentos em três polícias e em dois civis, fogos e um veículo da PSP atacado a tiro.

Pedro Gouveia garantiu que a PSP terá “tolerância zero” com “atos de desordem” praticados por “grupos criminosos” contra “pessoas de bem”. Luís Elias, comandante da PSP de Lisboa, garantiu que além dos três suspeitos já detidos “há dezenas de suspeitos identificados que podem ser detidos nos próximos dias”.

Segundo os responsáveis da polícia, os serviços de informação da PSP e da GNR e até do SIS estão a “recolher informações” sobre casos de “incitamento ao ódio contra a Polícia” que pode ser usado “para responsabilização criminal”. “Há mensagens a apelar à morte dos polícias”, disse Elias.