Começaram os debates rumo às eleições legislativas de 18 de maio. O candidato da AD, Luís Montenegro, e o da CDU, Paulo Raimundo, encontraram-se, pela primeira vez num frente-a-frente - o primeiro de 28 debates que vão acontecerem nas próximas semanas nas televisões. O comunista fez questão, aliás, de pedir ao adversário que reconsidere a sua presença nos debates com Bloco, PAN e Livre. Na resposta, Montenegro limitou-se a sorrir.

Mas porque o país vai a eleições devido ao caso da empresa da família do primeiro-ministro (agora em gestão), e porque ditou o sorteio que Paulo Raimundo desse o pontapé de saída, vincou que aquilo que Montenegro devia ter feito era demitir-se. Ao fazê-lo daria “grande contributo” à democracia" mas entendeu que “passar por cima desse acontecimento”.

“[Montenegro] esteve numa situação de incompatibilidade e de confusão entre interesses pessoais e do Governo. (…) Esta é uma situação que se vai manter, é apenas a ponta de um problema mais amplo”

Na resposta, Luís Montenegro reiterou que “mesmo do ponto de vista ético, não há nada que se possa imputar à minha conduta (...) Não é verdade que eu tenha usufruído de qualquer benefício de nenhuma empresa enquanto exercia as funções do primeiro-ministro ou líder do PSD. (…) Não posso ser culpado pelo que fiz quando estava fora da atividade política e não posso ser responsabilizado pelo que não faço",

Desafiando o secretário-geral do PCP a apontar-lhe uma decisão política que possa ter sido influenciada pela sua vida profissional, Paulo Raimundo respondeu: “Nós não temos dúvidas, temos certezas. Aquilo que fez foi uma fuga em frente para salvar a sua imagem pessoal mas acima de tudo salvar as oções políticas que defende”.

"Vitimização comigo não. (…) A questão de fundo é outra: é uma profunda promiscuidade entre os interesses económicos e o poder político", apontou o comunista, dando como exemplo a Saúde.

Para que serviu a descida do IRC?

Se as certezas quando ao caso Spinumviva os dividem, o mesmo sucede nas soluções que AD e CDU têm para o setor da saúde, trabalho/impostos, e defesa. Mas foi a descida do IRC - de 21 para 20% - que marcou a discussão.

Paulo Raimundo calculou que a perda de receita daria para, em quatro anos, pagar “uma das urgências nacionais: uma rede pública de creches”. Ora, Montenegro ripostou garantindo que a receita aumentou, mas só “no final de 2025 será possível medir o seu efeito”

"Nós tínhamos inscrito no Orçamento de 2024, pelo PS, uma receita do IRC na casa dos 8 mil milhões de euros. Sabe qual foi a receita do IRC com base no crescimento e no desempenho económico? Foram mais de 10,2 mil milhões de euros. Ou seja, quando nós temos uma economia competitiva e que cria riqueza, nós superámos, em mais de 2 mil milhões de euros, a estimativa da receita do IRC", destacou o candidato da AD- Coligação PSD/CDS.

Mas o comunista - que, um ano depois, se apresenta mais seguro nos debates -, não largou a questão e perguntou ao adversário: “Qual foi a consequência da descida do IRC, dos impostos às empresas nos salários, na vida das pessoas”, dando o próprio a resposta, “isto é um problema de opções, esta é uma questão de fundo”.

“A consequência”, respondeu depois Montenegro, “é libertar tesouraria nas empresas para poderem investir em atracção, equipamentos, e salários, para serem mais competitivas. Se não for assim vamos deixar que o investimento vá para outras geografias. Os trabalhadores são beneficiários da competitividade. Estamos a dar instrumentos às empresas para particarem melhores salários”.

Promessa que “está por cumprir” mas que AD vai manter

Na área da saúde, Luís Montenegro admitiu dificuldades no cumprimento da promessa de atribuição de médico de família a todos os portugueses: "Está por cumprir mas vamos renovar a promessa e vamos renovar o esforço para a poder cumprir", declarou, apelando a que "não se levantem fantasmas" sobre a centralidade do SNS no programa da AD.

Raimundo confrontou depois o adversário com as “sete urgências pediátricas fechadas” no passado fim de semana.

“O grande problema do SNS é a falta de profissionais, o que temos que fazer é dignificar carreiras, aumentar salários. (…) Ou se investe no SNS, fixam-se profissionais ou vamos continuar a transferir recursos públicos para fazer negócios”.

Na área da defesa, a que encerrou o frente-frente, o secretário-geral do PCP recusou qualquer aumento de "dinheiros públicos na guerra" - mas apenas nas Forças Armadas -, recursos que deverão ser usadas, defendeu, para "construir comboios ou produzir medicamentos".

"Nós também não trocamos as políticas sociais para o investimento em defesa. São duas coisas cumulativas. Nós, quando apoiamos, por exemplo, a Ucrânia, apoiamos a defesa dos direitos humanos, apoiamos a democracia", respondeu Montenegro.

Elogios e provocações

Se o secretário-geral do PCP deu os “parabéns à agência de comunicação do Governo” pelo trabalho de propaganda que tem feito, o líder do PSD lembrou os acordos de valorização de 17 carreiras na administração pública para afirmar - em tom irónico - que “é cada vez mais difícil até para um comunista não votar na força política que está a liderar a governação”.