"O que nós estamos atualmente a fazer é sentar com este grupo para perceber o porquê da insistência [com a greve]", declarou Daniel Chapo, durante uma reunião, na quinta-feira, com funcionários públicos em Inhambane, província do sul de Moçambique.

Em causa está a greve dos profissionais de saúde moçambicanos que começou na quinta-feira, com um prazo de 30 dias e que pode estender-se caso não se chegue a "acordos concretos" com o Governo.

"A greve (...) vai durar 30 dias, prorrogáveis. [Os turnos dos] finais de semana, noites e feriados não se fazem mais em Moçambique, até que o Governo resolva a situação dos profissionais de saúde", disse, na quinta-feira, à Lusa o presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), Anselmo Muchave.

A APSUSM exige, há três anos, que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, face às necessidades, com os fármacos, em alguns casos, a serem adquiridos pelos próprios pacientes, bem como a compra de camas hospitalares.

Outras reivindicações passam pela resolução da "falta de alimentação", o equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartáveis, cuja ausência vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso", pagamento de horas extraordinárias, além de um melhor enquadramento no âmbito da Tabela Salarial Única (TSU).

Para Chapo, o diálogo é essencial e o executivo está a envidar esforços para pagar salários, num momento em que o país, que foi a eleições gerais em outubro, continua a funcionar com o orçamento do ano anterior.

"Não são todos os funcionários públicos, trata-se de um grupo (...)Nós queremos perceber deste grupo o porquê da insistência, num momento em que os funcionários precisavam do 13.º salário e isso foi pago. Num momento em que havia dívidas de horas extraordinárias tanto na educação como na saúde e estão a ser pagas gradualmente também", declarou o chefe de Estado moçambicano.

A greve vai consistir na alteração dos horários dos profissionais de saúde, que passarão a trabalhar apenas das 07:00 às 15:30 locais, "segundo o horário estabelecido pela lei", com observância de 30 minutos de intervalo.

 A greve tinha sido antes adiada no âmbito das negociações com o Governo, mas os profissionais tinham já alertado para a "impaciência" dos associados.

O ministro da Saúde moçambicano, Ussene Isse, alertou, em 21 de março, que uma eventual greve no setor será "um desastre" e pediu diálogo aos profissionais.

"Greve na saúde é um desastre, autêntico desastre. Imagine só ficar 10 a 15 minutos sem atender um doente na sala de reanimação, um doente crítico, o que vai acontecer? Morte. Já aconteceu aqui várias vezes, familiares de colegas nossos perderam a vida. É ou não uma tragédia", questionou Ussene Isse, garantindo que o Governo se tem "pautado pelo diálogo" com os profissionais da classe com o objetivo de resolver as suas preocupações.

O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e, depois, pela APSUSM, que abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos e que exigem, sobretudo, melhorias das condições de trabalho.

O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.

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