
Durante 30 minutos, o socialista e a bloquista debateram vários temas mas sempre - ou quase - em desacordo. Da defesa à habitação, passando pela imigração, são diferentes as posições de Partido Socialista (PS) e Bloco de Esquerda (BE). Mas se para Mariana “há sempre” disponibilidade para um acordo, para Pedro Nuno, o objetivo está definido e não passa por alguma espécie de geringonça.
“Precisamos de vencer as eleições”, afirmou, pedindo que “não se dispersem votos. Hoje podíamos ter um governo do PS, se não tivesse havido dispersão de votos”.
Na resposta, Mariana Mortágua avisou o adversário: “O primeiro lugar não determina nada”, disso é prova, prosseguiu, o exemplo recente do PSD que “ficou à frente e isso não impediu instabilidade. Aquilo que Pedro Nuno Santos diz quando quer ser o mais votado é que tem uma bala de prata que é Luís Montenegro”.
“Está à espera de governar com o apoio ou a viabilização de Luís Montenegro, de governar com um programa que não tem nenhuma medida diferente daquela que foi tentada até agora na habitação, e está à espera que a pessoa, Luís Montenegro, que Pedro Nuno Santos diz todos os dias que não é confiável, lhe dê confiança para governar com base no seu apoio. É preciso dizer a verdade ao país”, criticou a bloquista.
Aumento na defesa, eis a (não) questão
Foi o tema de arranque do frente-a-frente na SIC. E se o candidato socialista sugere “uma mutualização da dívida” e um “aumento progressivo, que não ponha em causa o Estado social”, a adversária não hesita: “Se queremos proteger as democracias é aí que temos de gastar o dinheiro”.
"É mentira que precisamos de gastar mais dinheiro em armas, é propaganda que está a desviar recursos da saúde, educação, habitação mas também para as alterações climáticas que são a emergência dos nossos tempos"
Mas Pedro Nuno Santos não deixou Mortágua sem resposta, acusando o Bloco de Esquerda de “só pode dar-se ao luxo de ter esta posição porque não arrisca ter responsabilidades governativas”.
"Temos de participar nas negociações e ver a melhor maneira de corresponder ao esforço europeu", declarou.
A crise na habitação e a imigração
Recuando aos tempos em que foi ministro da Habitação, o socialista não hesitou em afirmar que lançou um dos ”maiores programas de construção pública e que casas agora inauguradas por Montenegro e Pinto Luz" foram lançadas por ele quando era governante. Quanto às medidas propostas pelo BE, vincou que "há medidas que no papel soam bem, mas depois tem problemas de aplicabilidade".
E, acrescentou, mesmo que tivessem o sucesso que Mortágua apregoa, não resolvia o problema da falta de casas para arrendar: “A solução do BE é errada”. “Portugal constrói hoje muito pouco. É possível construirmos mais e mais rápido”, insistiu.
Ora, para a bloquista, há um grande problema na construção pública: o tempo.
“O ritmo não é compatível com as necessidades da população” e se a solução é esperar pela construção "é o mesmo que dizer às pessoas: desistam, porque não vão conseguir".
Também na imigração, e apesar de admitir que apesar de "a AIMA ter sido um desastre administrativo, a lei está correta", a coordenadora do BE alerta para os perigos das vias paralelas à verde, designadamente "a via amarela - de angariadores que fazem entrar pessoas pela porta do cavalo - e a via vermelha - que é a máfia".
O foco do líder do PS voltou a ser, nesta questão, o Governo por ter, disse, “atravessado a linha do aceitável” e ter feito uma "ação de propaganda e de ataque" ao falar, precisamente, esta terça-feira do aumento da imigração.
Resposta a Trump, o ponto comum
Só na questão da polémica recente gerada pelas tarifas aplicadas ao mundo pela administração Trump, Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua parecem concordar na ideia de que é preciso agir, mas quanto à forma, sugeriram caminhos diferentes.
O líder do PS quer uma política de proteção da indústria e, aproveitou, para voltar a critica a falta de estratégia do Governo: "Precisamos de uma estratégia, o quanto antes, para diversificar as nossas exportações", através de uma diversificação de mercados - América do Sul, África, onde há países de língua portuguesa, ou Ásia, sugeriu.
Para Mariana Mortágua, "a resposta não pode ser generalizada" mas sim direcionada a setores que vão ter ao eleitorado de Trump. Pensar quais as exportações que podem ser substítuidas", como por exemplo, destacou, a indústria farmacêutica, "apoiar a tesouraria das empresas que podem vir a sofrer um impacto" com as tarifas, e "apoiar a industrialização".
[Notícia atualizada às 22h53]