O Papa Leão XIV encorajou hoje uma maior inclusão das pessoas LGBTQ+ na Igreja Católica, dando continuidade à política do antecessor, anunciou o jesuíta James Martin após uma reunião com o líder católico no Vaticano.

"Ouvi do Papa Leão a mesma mensagem que ouvi do Papa Francisco, que é o desejo de acolher todas as pessoas, incluindo as pessoas LGBTQ", disse Martin, um dos mais proeminentes defensores da inclusão de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Queer.

A audiência, de meia hora, foi oficialmente anunciada pelo Vaticano, num sinal de que Leão queria que fosse tornada pública.

"Foi maravilhoso. Foi muito consolador e muito encorajador e, francamente, muito divertido", descreveu o autor e editor jesuíta radicado em Nova Iorque em declarações à agência de notícias Associated Press (AP).

A audiência ocorreu poucos dias antes de uma peregrinação do Ano Santo ao Vaticano por católicos LGBTQ+.

Francisco, mais do que qualquer outro papa, trabalhou para tornar a igreja um lugar mais acolhedor para os católicos LGBTQ+.

Desde a frase de 2013 "quem sou eu para julgar?", sobre um padre supostamente 'gay', até à decisão de permitir que os padres abençoassem casais do mesmo sexo, Francisco distinguiu-se com uma mensagem de acolhimento.

Durante o papado de 12 anos, de 2013 a 2025, reuniu-se várias vezes com Martin e nomeou-o conselheiro do departamento de comunicação do Vaticano, bem como membro da reunião plurianual sobre o futuro da Igreja.

Ainda assim, o papa argentino nunca mudou o ensinamento da Igreja Católica de que os atos homossexuais são "intrinsecamente desordenados".

A posição de Leão sobre os católicos LGBTQ+ foi questionada logo após ter sido eleito em maio.

Na altura, surgiram comentários de 2012 em que o então sacerdote Robert Prevost criticava o "estilo de vida homossexual" e o papel da comunicação social na promoção da aceitação de relações entre pessoas do mesmo sexo, o que entrava em conflito com a doutrina católica.

Quando se tornou cardeal em 2023, a Catholic News Service perguntou a Prevost se tinha mudado de opinião, com o futuro papa a reconhecer o apelo de Francisco para uma igreja mais inclusiva.

Francisco "deixou muito claro que não quer que as pessoas sejam excluídas simplesmente com base nas escolhas que fazem, seja no estilo de vida, no trabalho, na forma de se vestir ou em qualquer outra coisa", respondeu.

Prevost disse então que a doutrina não tinha mudado, mas a igreja procurava ser mais acolhedora e mais aberta.

Martin, que conhecia Prevost desde quando trabalharam juntos no sínodo sobre o futuro da Igreja, disse que não estava preocupado com as opiniões de Leão, porque sempre o considerou "uma pessoa muito aberta, acolhedora e inclusiva".

"Mas é maravilhoso ouvir esta continuação", afirmou.

Martin contou que Leão lhe disse que tem como prioridade trabalhar pela paz e pela unidade, citando em particular os conflitos na Ucrânia, Faixa de Gaza e Myanmar (antiga Birmânia).

"Mas ele também quis lembrar às pessoas que esta é uma igreja para 'todos, todos, todos'", afirmou, citando a famosa frase de Francisco sobre como a igreja está aberta a todas as pessoas.

Martin ajudou a fundar a Outreach, uma organização que promove a aceitação LGBTQ+.

A Outreach vai participar na peregrinação do Ano Santo na sexta-feira e no sábado, patrocinada pelo grupo católico LGBTQ+ italiano Jonathan's Tent.

A peregrinação não é oficialmente patrocinada pelo Vaticano, mas figura no respetivo calendário do Ano Santo.

A peregrinação e a audiência enviam um sinal que é consistente com o ensinamento da igreja de que "Jesus estende a mão às pessoas marginalizadas", afirmou Martin.

A mensagem que disse ter recebido foi a de que "se as pessoas estavam felizes com a abordagem do Papa Francisco aos católicos LGBTQ, elas ficarão felizes com a abordagem do Papa Leão".

"E pediu-me para continuar o que estou a fazer, o que foi muito encorajador" acrescentou.