O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está inclinado a aceitar uma aeronave como presente da família real do Qatar e usá-la como Air Force One, o avião presidencial oficial, informou a imprensa norte-americana.

A cadeia ABC News disse no domingo que o anúncio deverá ser feito esta semana, no âmbito da viagem do Presidente republicano à Arábia Saudita, ao Qatar e aos Emirados Árabes Unidos.

Trump já tinha manifestado frustrações com os atrasos na entrega de dois novos Boeing 747-8 para servir de Air Force One atualizados. Durante o seu primeiro mandato, Trump assinou com a construtora aeronáutica norte-americana a entrega dos aviões em 2024.

Um funcionário da Força Aérea dos Estados Unidos anunciou ao Congresso norte-americano na semana passada que a Boeing estima terminar os aviões até 2027.

O chefe de Estado norte-americano visitou o 747-8, propriedade da família real do Qatar, em fevereiro, quando o aparelho esteve estacionado no Aeroporto Internacional de Palm Beach, na Florida, perto da estância de Trump em Mar-a-Lago. Na altura, a Casa Branca disse que o Presidente o tinha feito para compreender melhor como seriam configurados os Air Force One.

Trump responde às críticas dos democratas

Após a divulgação da notícia este domingo, Trump reagiu às críticas feitas pelo Comité Nacional Democrata: "O facto de o Departamento de Defesa estar a receber um PRESENTE GRATUITO de um avião 747 para substituir o Air Force One, com 40 anos de idade, numa transação muito pública e transparente, perturba os democratas desavergonhados, que insistem em que paguemos um BALÚRDIO pelo avião", escreveu na sua rede social Truth Social.

"Os democratas são uns falhados de classe mundial!!!"

Os democratas e grupos defensores da boa governação defenderam como pouco ético e provavelmente inconstitucional que o Qatar fizesse esta oferta. "Nada diz 'America First' ['América em Primeiro'] como o Air Force One, oferecido pelo Qatar", escreveu o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, na rede social X.

"Não é apenas um suborno, é uma influência estrangeira de primeira classe com espaço extra para as pernas", acrescentou.

No mesmo sentido, a Citizens for Responsibility and Ethics in Washington (CREW), uma organização de boa governação, questionou a legalidade da transferência, sublinhando que a Constituição dos Estados Unidos proíbe os funcionários públicos norte-americanos de aceitarem presentes de governos estrangeiros sem a aprovação do Congresso.

"Isto parece mesmo um país estrangeiro com o qual o Presidente tem negócios pessoais, que lhe oferece um presente de 400 milhões de dólares [356 milhões de euros], antes de [Trump] se encontrar com o seu chefe de Estado", afirmou numa declaração o porta-voz da CREW, Jordan Libowitz.

Organização Trump anunciou recentemente um projeto imobiliário no Qatar

A Organização Trump, o conglomerado empresarial de Donald Trump, anunciou no final de abril que vai começar a desenvolver o seu primeiro projeto imobiliário no Qatar, com a construção de um clube de golfe e moradias na zona costeira de Simaisma, na capital, Doha.

Um porta-voz da família real do Qatar, Ali Al-Ansari, disse ao New York Times que a eventual transferência do avião ainda estava a ser considerada e que "não foi tomada nenhuma decisão", segundo o diário norte-americano.

A ABC News refere que os advogados da Casa Branca e do Departamento de Justiça elaboraram uma análise, que entregaram ao secretário da Defesa, Pete Hegseth, concluindo que é legal o Departamento da Defesa aceitar o avião e depois o entregar ao acervo presidencial de Trump, quando este terminar o seu mandato em 2029, o que lhe permitiria continuar a utilizá-lo como cidadão privado.

A aceitação do avião, ainda segundo a cadeia de notícias, não viola as leis anticorrupção ou a Constituição norte-americana.