José Fonseca Fernandes

Luís Norton de Matos reconhece o papel que empresários e intermediários têm no futebol moderno. Para o antigo jogador e treinador, é essencial que existam profissionais a representar os atletas e a fazer a ponte com os clubes. No entanto, sublinha que essa intermediação nem sempre é necessária nos casos mais evidentes.

“Consigo perceber o papel dos empresários e dos intermediários. Tem de haver gente a representar os jogadores e a informar os clubes sobre o valor deste ou daquele jogador. Mas nenhum clube precisa de empresário para saber se o Ronaldo é bom ou se o Gyökeres é bom. Isso está lá.”

O desafio, diz, está em encontrar talento antes que o mercado o descubra.

“O que é difícil é detetar um jogador que não está em nenhum radar e passados uns anos, com trabalho e um determinado enquadramento, vai valer muito dinheiro. Valia zero e passa a valer 10 milhões. Isso, sim, é uma valorização extraordinária.”

José Fonseca Fernandes

Com décadas de experiência na observação de jogadores em contextos diversos, Norton de Matos aponta, no entanto, dificuldades estruturais que vão para além da análise técnica. Em muitos casos, são os próprios clubes que criam barreiras ao talento.

Recorda o caso de um jovem jogador chileno, com potencial evidente, que acabou por chegar à seleção do seu país pouco depois de ter sido identificado. Ainda assim, viu uma oportunidade falhar devido à lógica de negócio.

“Os representantes de um clube chegaram a dizer que o jogador era ótimo, mas não podiam levá-lo. Porquê? Porque o adjunto que tinha ido ver o jogador informou o preço. Custava 600 mil dólares. E esse era o problema. Diziam que o jogador tinha de custar 2 milhões. Ou seja, tem de haver negócio para todos.”

Para Norton de Matos, este é um dos principais entraves à valorização real de jogadores:

“Por vezes, não interessa a qualidade, o potencial ou o rendimento, mas sim o negócio. Os clubes, muitas vezes, não querem o que é de borla porque não há negócio.”

SIC Notícias

O futebol é o ponto de partida nestas conversas sem fronteiras ou destino agendado. Todas as semanas, sempre à quinta-feira, Luís Aguilar entra em campo com um convidado diferente. O jogo começa agora porque Ontem Já Era Tarde.