Nuno Melo em vez de Montenegro, Joana no lugar de Mariana Mortágua: o debate entre a AD e o Bloco foi feito sem os respetivos líderes e isso acabou por ser muito positivo de acordo com a avaliação dos comentadores do Expresso. Média: Nuno Melo - 6, Joana Mortágua 7,6


Expresso



Henrique Raposo

Nuno Melo 7 - Joana Mortágua 8

Olhem: foi o melhor debate até agora, de longe. Porque foi mesmo um debate, e não momentos de propaganda mediadas por um jornalista. Souberam rir um do outro, souberam picar-se com elevação e souberam pegar nas deixas um do outro. Souberam atirar farpas com instinto político, farpas que nascem no momento; e aqui, lamento, ela até foi melhor do que ele. Esta é a melhor Mortágua, de longe; muito melhor do que a irmã. A farpa sobre os baldes de massa e os jovens das jotas do CDS e do PSD foi brilhante e foi isso, para mim, que desempatou. A política vive destes momentos de brilho e carisma aplicados a uma mensagem com substância. Sim, a AD tem feito uma bravata um tanto vazia e inconsequente sobre o número de imigrantes.

Repito, porque isto para mim é uma surpresa: Joana Mortágua é muito melhor do que Mariana, do que Catarina, do que Louçã. Não é política de uma seita, é uma política. Se o BE quer voltar dos mortos e fazer concorrência ou anular o Livre, bom, tem aqui o caminho. É muito menos arrogante, não tem aquela petulância da esquerda que se julga aristocrata. Joana Mortágua parece mais focada em políticas concretas; de esquerda, obviamente, mas há menos grandiloquência vazia e mais sentido prático como se viu no recurso ao exemplo de outros países europeus no controlo de turismo e rendes. Este caminho de política comparada não é nada a escola do BE e por isso é uma surpresa boa. Debater com o BE é ser apelidado de "neoliberal" quando se usa políticas usadas no resto da Europa. Que isto seja um caminho novo.

Mas Nuno Melo não se ficou. Esteve bem ao lembrar o fracasso histórico do congelamento de rendas (não é esse o caminho) e esteve muitíssimo bem ao recordar a responsabilidade do BE na destruição de bons hospitais públicos que eram geridos em PPP. Deu o exemplo de Braga, eu podia dar o que Loures. Sim, foi uma irresponsabilidade inacreditável feita em nome da ideologia e do salvífico SNS, foi uma verdadeira estupidez. Melo tinha o debate na mão por causa disso, mas, na imigração, questão fundamental, Mortágua teve melhor e desmontou bem a bravata que o governo, sobretudo o irritante Leitão Amaro, tem feito sobre os números de imigrantes. Ainda bem que temos imigrantes, porque sem eles o país não funcionava. Há que integrar e aculturar, como até Pedro Nuno Santos já defende, mas isso é outro debate que Melo podia ter conduzido para entalar o BE. Mas não o fez.


Eunice Lourenço

Nuno Melo 6 - Joana Mortágua 7

O debate improvável entre Nuno Melo e Joana Mortágua foi uma boa alternativa a um debate entre Mariana Mortágua e Luís Montenegro. Com uma atitude menos altiva e sobranceira que Mariana, Joana Mortágua revelou-se uma boa debatente com um Melo que teve hoje o seu último debate e que teve o seu ponto mais positivo esta noite no combate que fez ao Chega.

Trocaram acusações sobre a responsabilidade pelo estado do SNS , com ideologia à mistura, debateram soluções para a habitação, com o líder do CDS a atirar Salazar contra o Bloco e Mortágua a invocar o novo governo alemão em apoio do teto às rendas que tanto o BE defende. Mas o momento mais inesperado do amistoso debate foi ouvir a deputada bloquista a citar Paulo Portas sobre imigração “Quando Paulo Portas percebe que a nossa economia precisa de imigrantes é preciso citar-se o bom senso”, afirmou para um Nuno Melo que ficou entre o deleite e o sorriso amarelo.

Até sobre defesa, ainda que sem alteração de fundo, Joana Mortágua pareceu mais razoável do que a coordenadora do BE ao dizer que não põe em causa as necessidades das Forças Armadas portuguesas.

Pedro Candeias

Nuno Melo 5 - Joana Mortágua 7

Se isto fosse futebol, diríamos que os dois partidos foram a jogo com os suplentes da equipa. Não uns suplentes quaisquer, é verdade, pois ambos têm minutos de exposição pública e experiência em diversos momentos das suas carreiras políticas: um deles até é líder do CDS e agora ministro da governação; e o outro era, até entrar em campo, a irmã da coordenadora Nacional do Bloco de Esquerda. Sairia do debate deixando indicações (sim, mais uma metáfora futebolística) de estar pronta para a titularidade.

Era fácil perceber à partida para onde iriam pender as respostas de Nuno Melo (NM) e de Joana Mortágua (NM): na habitação, Melo apostaria tudo em construir e Mortágua em fixar tetos nas rendas; na Saúde, o centrista apostaria nas PPP e a bloquista na contratação e valorização de mais médicos; na Imigração, Melo falaria em “portas escancaradas” e regulação “com humanismo” e Mortágua diria que o mecanismo da Via Verde iria potenciar redes de imigrantes; e na Defesa, o ministro argumentaria que o país precisa de se armar e a deputada que a corrida às armas é um embuste.

Nenhuma destas respostas seria surpreendente e o guião seguiu escorreito, sem sobressaltos. Assim sendo, interessa então avaliar a forma e o estilo.

Neste dois pontos, Joana Mortágua foi muitíssimo mais eficaz, desenvolta, articulada e acutilante do que Nuno Melo. Também foi mais elástica a devolver interjeições e apartes, soltando bons soundbites. Anotei dois: “Mais quatro anos disto não é uma promessa, é uma ameaça de despejo”; “sem imigrantes, é a juventude centrista que vai assentar tijolo?”

Nuno Melo deitou sorrisos que provavelmente ajudam a disfarçar alguma inabilidade em debater quando as coisas fogem ao que está escrito nas folhas e nos gráficos que põe sobre a mesa. Às vezes, dá a sensação de partir mal-preparado, mal-ensaiado e mal-treinado para tentar algo mais - e isso traduz-se na previsibilidade do seu jogo.

Acabou derrotado.


Paulo Baldaia

Nuno Melo 5 - Joana Mortágua 7

Joana Mortágua ganhou na saúde porque foi ela a introduzir o tema e deixou uma critica que qualquer português percebe, a saúde não está melhor do que estava há um ano. Ganhou na imigração quando foi buscar Paulo Portas para argumentar a favor dos imigrantes, deixando Nuno Melo com um sorriso amarelo. Marcou pontos na habitação quando lembrou que as casas estão mais caras que há um ano e deixou o soundbite do debate quando lembrou ao líder do CDS que a Ad se esqueceu dele, de tal forma que “que o hino não diz deixem o Luís e o Nuno trabalhar”.

Nuno Melo marcou pontos que lhe permitem ter um resultado positivo na habitação ao salientar quer o teto às rendas tem problemas que a própria história comprova. Mas marcou pontos, sobretudo, na pesca ao voto útil, lembrando que o voto no Chega é um voto num partido que “votou muitas vezes ao lado da esquerda”. É um cinco esticado, que se justifica apenas pelo eficaz apelo ao voto útil num canal em sinal aberto.


Rita Ferreira

Nuno Melo 7 - Joana Mortágua 9

Foi uma boa estreia de Joana Mortágua nos debates. Parecia nervosa no arranque, mas depressa assumiu as rédeas da discussão, sendo muito clara e precisa na apresentação das propostas principais do Bloco de Esquerda - como o teto às rendas - e conseguindo sempre responder às farpas que Nuno Melo ia lançando.

Explicou-se, deu exemplos nacionais e internacionais e foi muito rápida a reagir e a rebater as ideias opostas do líder do CDS-PP.

Nuno Melo já não é novo nestas andanças. Manteve um tom calmo e levou os velhinhos gráficos em papel para ilustrar dados sobre habitação e depois sobre imigração. Conseguiu ter algumas respostas prontas preparadas para "encostar" Mortágua - foi Salazar que congelou rendas em 1948, atirou - mas ela foi sempre mais forte e incisiva, desconstruindo essa colagem.

Na saúde, Melo trouxe os números do Governo: mais consultas, mais cirurgias e o atirar de culpas ao Bloco pelo fim das PPP que a AD quer agora recuperar. Mais uma vez, Joana Mortágua conseguiu dar a volta (aliás, foi ela que puxou o tema) e atirou forte: urgências fechadas, problemas no INEM e a pergunta incómoda: a ministra da Saúde não era contestada no Conselho de Ministros?

Nuno Melo quis depois colar o Chega à esquerda, dizendo que o partido de Ventura aprovou muitas medidas do Bloco e deitou abaixo três governos de centro direita no continente e nas regiões autónomas. Joana Mortágua fez o exercício oposto e atacou na imigração, chegando mesmo a citar Paulo Portas quando defende que Portugal precisa de imigrantes, e acusando o Governo de imitar o Chega e acusando o ministro Leitão Amaro de mentir.

Melo explicou o ponto de vista do Governo ao negociar as vias verdes com os empresários e, sabiamente, nem sequer mordeu o isco das declarações de Leitão Amaro de que Portugal era dos países da Europa com maior percentagem de imigrantes (é o 10.º)

Concluindo: Joana Mortágua surpreendeu na estreia - foi melhor a debater do que a coordenadora do partido, Mariana Mortágua - num debate que foi vivo, com algumas picardias sem nunca perder a elevação e sem que os intervenientes se atropelassem. Nuno Melo ficou uns pontos abaixo da combatividade que já lhe vimos noutros debates. Os dois provaram que é possível discordar, debater ideias e até provocar com civilidade e espírito democrata.