O ministro israelita de extrema-direita Itamar Ben Gvir divulgou ontem um vídeo em que confronta e ameaça, dentro da sua cela, o líder palestiniano Marwan Barghouti, detido desde 2002, ação já condenada pelas autoridades palestinianias.

Nas imagens, publicadas na rede X, o ministro da Segurança Nacional e mais duas pessoas, incluindo um guarda prisional, permanecem de pé diante de Barghouti, encurralando-o num canto da cela.

"Vocês não vão vencer-nos. Quem fizer mal ao povo de Israel, quem matar crianças, quem matar mulheres (...) será apagado", afirmou em hebraico o ministro.

Barghouti, membro eleito do Conselho Legislativo Palestiniano e um dos líderes da Fatah, tenta então responder, mas o ministro interrompe-o: "Não, tem de saber disso, e ao longo de toda a história".

"Esta manhã [sexta-feira], li que vários altos responsáveis da Autoridade [Palestiniana] não gostaram muito do que disse ao terrorista-chefe Marwan Barghouti, que o seu nome seja apagado. Então vou repeti-lo, vezes sem conta, sem pedir desculpa: quem atacar o povo de Israel, quem matar as nossas crianças, quem matar as nossas mulheres, será apagado. Com a ajuda de Deus", acrescentou Ben Gvir, no comentário que acompanhou o vídeo.

Barghouti, antigo dirigente da Fatah que defende uma solução política para o conflito israelo-palestiniano, está preso por Israel desde 2002. É frequentemente apontado como um possível sucessor do Presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, apesar de estar detido.

Apelidado de "Mandela palestiniano" pelos seus apoiantes e tornado, ao longo dos anos, numa figura emblemática da causa palestiniana, foi condenado a prisão perpétua por homicídio, devido ao seu papel em vários atentados anti-israelitas durante a Segunda Intifada ("levantamento", em árabe), entre 2000 e 2005.

O vídeo divulgado pelo ministro não indica o nome da prisão onde Marwan Barghouti se encontra atualmente detido.

Contudo, segundo um elemento próximo do ministro, ouvido pela agência France-Presse (AFP) sob anonimato, o encontro aconteceu "por acaso" na prisão de Ganot, durante uma visita de inspeção de Ben Gvir. A fonte não especificou a data da gravação.

Num comunicado transmitido pela agência de notícias palestiniana Wafa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, no poder na Cisjordânia, denunciou "uma provocação sem precedentes" e qualificou o incidente como "terrorismo de Estado organizado".

Para a Autoridade Palestiniana, o ministro Ben Gvir "invadiu" a cela de Barghouti.

A representação da Autoridade Palestiniana junto da ONU denunciou igualmente "as condições humanitárias extremamente duras" em que o líder palestiniano se encontra "em isolamento", afirmando que Barghouti "perdeu mais de metade do peso devido a negligência médica deliberada e maus-tratos".

"E, ao mesmo tempo, o ministro extremista Ben Gvir continua a ameaçá-lo diretamente numa tentativa de quebrar a sua vontade e resiliência", acusou a representação diplomática na rede X.

O Hamas, pela voz de Izzat Al-Risheq, membro do gabinete político do movimento islamista no poder na Faixa de Gaza, expressou "solidariedade com o irmão e líder Marwan Barghouti".

O grupo islamita denunciou ainda a "brutalidade" do ministro Ben Gvir perante "um líder prisioneiro, algemado e isolado em cela solitária, mal conseguindo manter-se de pé".

Ben Gvir, juntamente com o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, são os membros mais extremistas do Governo liderado por Benjamin Netanyahu. Ambos estão impedidos de viajar para os Países Baixos e Eslovénia, membros da União Europeia, por incitarem à violência dos colonos contra a população palestiniana.

No início do mês, Ben Gvir já tinha protagonizado outra polémica e provocado a ira palestiniana ao rezar na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do Islão, onde os não muçulmanos não são autorizados a rezar.