
O deputado do PS Fernando Medina defende que se devia "ter feito mais" para evitar novas eleições antecipadas, responsabilizando o primeiro-ministro pela crise e antevendo que a nova solução governativa possa ter as mesmas "fragilidades políticas".
Na declaração de voto, a que a agência Lusa teve esta quinta-feira acesso e que Fernando Medina anunciou no final da votação da moção de confiança que, na terça-feira, ditou a queda do Governo, o antigo ministro socialista lamentou a "convocação das terceiras eleições legislativas em quatro anos e às quartas eleições legislativas em seis anos".
"Devia-se ter feito mais para as evitar", considerou, avisando que esta situação é "prejudicial ao país" porque não se consegue uma governação coerente com executivos que duram em média menos de dois anos.
Para o socialista "esta era uma crise política claramente evitável" e resulta, no essencial, de decisões do primeiro-ministro, Luís Montenegro, quer quando tomou posse quer "depois ao longo deste último mês", tendo em conta a manutenção da empresa, o timing e forma e conteúdo da comunicação.
"Quer, sobretudo, quanto à decisão de avançar com uma moção de confiança num quadro que sabia ser da sua rejeição", criticou.
Na opinião de Fernando Medina, um político com a experiência de Montenegro "não ignoraria que uma vez nomeado seria sujeito ao escrutínio mais profundo e necessário numa democracia", além das "acusações e ataques mais injustos e indignos", considerando que "a ambos teria de saber dar resposta".
"Neste concreto, as eleições não substituem a resposta às questões, a todas as questões, das mais legítimas e necessárias às mais absurdas e mal-intencionadas", avisou.
Não sendo possível antecipar os resultados das eleições legislativas antecipadas, que foram esta quinta-feira marcadas para 18 de maio, para o deputado do PS "é razoável antever que as relações entre blocos direita/esquerda, no parlamento, possa não sofrer alteração significativa".
"O que levará a que a nova solução governativa que emergirá possa continuar a enfermar de profundas fragilidades políticas ou, pior, fique nas mãos da extrema-direita", alertou.
Para o antigo ministro de António Costa, a crise política veio mostrar "como o debate político assente em suposições, insinuações e até calúnias continua a ganhar relevância" e corrói "alicerces fundamentais da convivência e disputa democrática".
"Está nas ações concretas de cada um reverter este caminho", apelou.
Medina deixou ainda um outro aviso sobre os perigos dos "mini-ciclos" de governação.
"Leva diretamente à concentração da ação política no que tende a ser mais popular, de maior efeito e de menor dificuldade, na tentativa permanente de melhoria da posição do governo nas sondagens, posição vista como o melhor antídoto para atrasar a sua queda", apontou.