
O Presidente da República agradeceu hoje o esforço da população no combate aos incêndios e deixou críticas à prevenção, defendendo que o Governo se deve substituir aos privados.
Marcelo Rebelo de Sousa marcou presença, hoje, no funeral do homem que morreu atropelado por uma máquina de rasto, enquanto fazia trabalhos de rescaldo no incêndio de Mirandela. O chefe de Estado salientou em declarações aos jornalistas que "as populações foram excecionais", assim como todas as forças que estiveram e estão a combater incêndios.
No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "é preciso fazer melhor" e defendeu que o Estado, mais concretamente as autarquias, se devem substituir aos privados quando estes não têm condições para limpar os terrenos.
"Cadastro é uma realidade que é fundamental. Tem de ser acelerado e depois garantir que quem pode, limpa, e quem não pode, garantir que alguém limpe por ele e têm de ser entidades públicas, a começar pelas autarquias, e que tenham dinheiro para isso", reiterou.
Para isso é preciso "sensibilizar" que da mesma maneira que são investidos "100, 200, 300, 400 milhões de euros" em mobilidade nas grandes cidades, também é "urgente investir 100, 200 ou 300 milhões na prevenção dos fogos". "Aqueles sapadores florestais ganham uma centena de euros e todo o ano estão a prevenir e é verdade que em Portugal os salários não são muito altos", apontou.
Além disso, quer que seja criado um "plano de longo prazo", apostando "a sério" no reforço de meios em todo o país, e também que seja criado um quadro de medidas que se apliquem a "todos os fogos", para que o Governo possa ir "imediatamente, às corporações entregar aquilo que pagaram e que têm agora falta em termos financeiros, mas também às famílias das vítimas e àquelas que têm danos".
Também disse que os fogos "são sempre diferentes, mais difíceis de prevenir e de enfrentar", mas considerou que "as entidades devem refletir". "O que se passa é que no período longo de intervalo entre o fim da época de fogos e o começo da época de fogos é um tema que deixa de ser nacional", criticou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que há duas realidades em Portugal, o drama daqueles que vivem os incêndios em zonas isoladas, onde muitas vezes é difícil o combate ao incêndio, acabando por serem "deixadas à sua sorte", e aqueles que vivem em "metrópoles" e têm dificuldade em perceber o que se passa no resto do país.
O incêndio de Mirandela deflagrou no domingo e consumiu milhares de hectares até quarta-feira, alastrando-se aos concelhos de Vila Flor e de Alfândega da Fé.
Já numa fase de rescaldo, na terça-feira, um homem, de 65 anos, acabou por morrer, atropelado pela máquina de rasto que manobrava. O funeral realizou-se, hoje, em Contins, Mirandela, de onde era natural, e contou com a presença do Presidente da República, ministro da Agricultura, autarcas, Proteção Civil, autoridades e Instituto da Conservação da Natureza e Florestas.