O chefe da diplomacia do Irão afastou a hipótese de uma rápida retoma das negociações com os Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano, reiterando que Teerão precisa primeiro de garantir que Washington não lança novos ataques.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insinuou, na semana passada, que poderia manter conversações com o Irão esta semana para reativar o processo negocial. "Não acredito que as negociações sejam retomadas tão rapidamente", disse na segunda-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, quando questionado pela emissora norte-americana CBS.

"Para decidirmos retomar [as negociações], primeiro precisamos de ter a certeza de que os Estados Unidos não nos voltam a atacar com um ataque militar durante as negociações", disse Abbas Araghchi. "Ainda precisamos de tempo", acrescentou o ministro, sublinhando, no entanto, que "as portas da diplomacia nunca se fecharão".

Araghchi foi ainda questionado sobre as declarações do líder da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, que previu que o Irão teria capacidade técnica para retomar o enriquecimento de urânio em "alguns meses". "Não se pode destruir a tecnologia e a ciência do enriquecimento através dos bombardeamentos", afirmou o ministro.

"Se tivermos a vontade de voltar a progredir neste setor, e essa vontade existir, podemos reparar rapidamente os danos e recuperar o tempo perdido", acrescentou Araghchi.

Horas antes, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmaeil Baqaei, tinha acusado o Presidente norte-americano de "mudar constantemente de posições" sobre um potencial acordo sobre o programa nuclear de Teerão, afirmando que o comportamento de Donald Trump faz parte de "um jogo psicológico e mediático".

Nas mesmas declarações, o Governo iraniano negou que esteja em cima da mesa a possibilidade de novos contactos bilaterais com os Estados Unidos. "De manhã ouvimos dizer que vão ser adotadas medidas e à tarde [os Estados Unidos] impõem um novo pacote de sanções. Não se pode confiar nas mudanças de posição e nas flutuações", disse Bagaei, referindo-se ao chefe de Estado norte-americano.

O mesmo porta-voz sublinhou que as posições assumidas por Washington geram dúvidas no executivo iraniano, recordando que os dois países estavam a dialogar quando Israel lançou a ofensiva contra o país, a 13 de junho. "Devem ser consideradas mais no contexto de jogos psicológicos e mediáticos do que como uma declaração séria para o diálogo ou a resolução de conflitos", referiu.

As declarações de Baqaei foram divulgadas poucas horas depois de o chefe de Estado norte-americano ter afirmado que "não vai oferecer nada ao Irão" nas negociações sobre o programa nuclear.

Trump reiterou que os bombardeamentos norte-americanos contra as instalações em Fordo, Esfahan e Natanz, a 22 de junho, destruíram o programa nuclear de Teerão.