
O partido Demokraatit, que defende a independência da Dinamarca, ainda que a longo prazo, venceu as eleições na Gronelândia, num escrutinío que ficou marcado pelo muito repetido interesse do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em anexar a ilha aos Estados Unidos por “razões de segurança nacional”.
Com mais de 90% dos boletins de voto contados, o Demokraatit obteve quase 30% dos votos, segundo as autoridades eleitorais. A lista, encabeçada por Jens-Frederik Nielsen, um jogador de badminton de 33 anos, conseguiu mais do triplo do apoio de há quatro anos, e foi a grande surpresa da noite.
Em segundo lugar, com 25% dos votos, ficou o Naleraq, um partido populista e radicalmente pró-independência, que defende relações mais próximas com os Estados Unidos, e um início imediato do processo de autodeterminação.
O Inuit Ataqatigiit (IA), do primeiro-ministro Mute Egede – também um partido pró-independência de esquerda – aparece em terceiro, com 21%. O que quer dizer que os três partidos mais votados apoiam, com calendários e moldes diferentes, a independência desta que é a maior ilha do mundo, nove vezes maior do que o Reino Unido. E cinco dos seis que concorreram também apoiam a secessão.
O Estatuto de autodeterminação, aprovado em referendo em 2009, já prevê uma autonomia considerável, e Copenhaga é consultada para pouco mais do que assuntos de cariz internacional. A independência da Gronelândia não é um assunto contencioso para a Dinamarca, o panorama político é muito diferente daquele que vemos, por exemplo, na Catalunha.
A lei de 2009 prevê a exploração e gestão dos recursos naturais da região por parte dos habitantes locais. À luz do Direito Internacional e do Direito Constitucional Dinamarquês, é relativamente consensual o direito dos gronelandeses em se tornarem independentes, um dia, quando votarem nesse sentido.
Porém, se a maioria do Inatsisartut (parlamento gronelandês) votasse a favor de dar início ao processo de independência, o primeiro passo seria chegar a acordo com Copenhaga sobre a forma de proceder à separação. Depois haveria um referendo e, num terceiro e final passo, seria necessária a aprovação do parlamento dinamarquês.
As alterações climáticas tornaram este território comercialmente mais apetecível nos últimos anos, uma vez que o degelo polar possibilita a abertura de novas rotas marítimas e também a exploração de mais zonas da ilha e dos seus abundantes recursos naturais (petróleo, gás natural, minérios, pesca, entre outros).
Nos últimos anos, os vários Governos têm-se esforçado por investir mais no ensino superior, para evitar que os jovens tenham de sair para a Dinamarca para estudar, e por lá fiquem. O terreno da ilha é acidentado, gelado, montanhoso em algumas partes e por isso a população não consegue explorar o seu próprio território. O reforço das pistas do aeroporto de Nuuk, a capital, onde agora podem aterrar aviões de grande porte, foi mais um passo importante.
Tudo isto são sinais de que os gronelandeses querem desenvolver mais atividades com o exterior, precisamente porque sem isso a independência não é possível, mas falta de infraestruturas e de recursos humanos ainda não possibilita explorar todo o potencial da ilha. E é aqui que os Estados Unidos podem entrar e também esta ligação pode ser uma linha de apoio à independência. Do outro lado estão as preocupações ambientais: de que forma seriam exploradas estas riquezas é um tema que tem ocupado alguns dos debates políticos.