A Revista da Armada está a ser tema de polémica por, na edição de dezembro, ser dedicada quase na totalidade a um balanço positivo dos três anos de mandato do almirante Gouveia e Melo. O maior destaque está a ser uma ilustração em que o chefe do Estado-Maior da Armada aparece equiparado ao rei D. João II, conhecido como o “Príncipe Perfeito”.
A ilustração em causa vem em grande relevo na publicação da Marinha e mostra o almirante Gouveia e Melo ao lado do rei D. João II, um dos grandes responsáveis pela expansão marítima nacional.
Na legenda da ilustração da revista, é possível ler que "se D. João II visse os drones, a Inteligência Artificial e a tecnologia" que a Marinha tem atualmente, "certamente não hesitaria em trocar ideias com o Almirante CEMA e AMN sobre os novos desafios e a conquista económica do nosso mar, como o expoente do nosso desenvolvimento".
A revista conta também com um texto do próprio almirante sobre aquilo que alcançou durante o tempo que ocupou cargo.
“Sinto-me tranquilo e confiante porque vou deixar o navio pronto, focado, útil, significativo e tecnologicamente mais preparado para enfrentar uma nova navegação", escreve o almirante.
A candidatura a Belém e o apoio de Isaltino
O mandato de Gouveia e Melo como chefe do Estado-Maior da Armada termina a 27 de dezembro. O almirante não vai ser reconduzido no cargo, por vontade do próprio, que tem sido apontado como forte candidato as eleições para a Presidência da República, em janeiro de 2026.
A SIC sabe que Henrique Gouveia e Melo pretenderá apresentar a candidatura a Belém já em março do próximo ano.
Uma candidatura que, apesar de ainda não estar oficializada, conta já com um apoiante na pessoa de Isaltino Morais.
O autarca de Oeiras adiantou, em entrevista ao Observador, que vai apoiar Gouveia e Melo na corrida a Belém e que acredita que ele será mesmo o próximo Presidente da República.
"Usar meios do Estado" para "ode" a Gouveia e Melo
A ilustração em destaque na Revista da Armada está já a gerar anticorpos e reações entre os atores políticos.
Em declarações à agência Lusa, a líder parlamentar da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão, criticou a existência de "aproveitamento para enaltecer a figura do almirante".
"Considerando que já sabemos que ele está de saída e que, muito provavelmente, vai apresentar uma candidatura à Presidência da República, é óbvio que se exige um bocadinho mais de contenção", defendeu.
Para a Iniciativa Liberal, está em causa a utilização "de meios do Estado para promover" a imagem do almirante Henrique Gouveia e Melo, numa "espécie de ode".
Também o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, defendeu, nas redes sociais, que “a publicação oficial da Marinha Portuguesa não devia ser reduzida a panfleto de pré-campanha presidencial de Gouveia e Melo”.
O deputado do Livre Paulo Muacho recorreu igualmente à rede social X para perguntar se o que está em causa “é a Revista da Armada ou é já um folheto de pré-campanha”.
Já o ex-ministro da Cultura, do anterior governo do PS, Pedro Adão e Silva, criticou o recuo “ao século XV”.