Sofia Pontifex era “uma jovem que não tinha nada, só uma receita de cookies e um sonho”. Aos 29 anos, conquistou um lugar na lista '30 Under 30' da Forbes Portugal, que distingue a ambição de jovens talentos que moldam o futuro do país - no seu caso, a gastronomia, fruto do sucesso da Funky Chunky, a marca que criou.

O sonho, como recorda a brasileira natural de São Paulo, nasceu da paixão por cozinhar, sobretudo quando começou a sentir falta, em Portugal, do seu doce favorito: cookies.

Não tinha nenhuma experiência em culinária, mas o ‘bichinho’ já lá estava. Um ‘bichinho’ que se juntava à vontade de ter uma marca própria. Porque de marcas, já na altura, Sofia percebia, por trabalhar na área da publicidade.

“Eu criava conceitos e nomes de marcas. Eu viajei para Moçambique para criar uma marca de pizza e para Paris para criar marcas de indoor cycling . Então pensei, ‘se eu crio tantas marcas para tantas pessoas, será que consigo fazer uma para mim?’”, começa por lembrar Sofia Pontifex, em entrevista à SIC Notícias.

O ‘clique’ deu-se nesse momento, apesar de, no início, ter começado como “um desafio intelectual e algo divertido para se fazer”. Longe de imaginar o sucesso que viria a alcançar, a empreendedora pôs as mãos na massa e começou a criar receitas - mais de 200, confessa.

Numa cookie "imperfeita", deu a "trincada certa"

“A trincada certa”. É assim que descreve o momento em que percebeu que, realmente, queria fundar uma marca. Estava a cozinhar, quando decidiu morder uma das cookies e pensou que era aquilo que queria para o futuro.

"Lembro-me bem dessa noite. Foi quando percebi que queria ir atrás disto. Deitei-me na cama, mas não consegui dormir de tanta animação. Já estava a começar a imaginar tudo”, conta.

A partir desse momento, as “cookies imperfeitas” de Sofia tornaram-se, não por acaso, a imagem de marca da Funky Chunky.

Num “mundo obcecado pela perfeição” - do corpo ao sucesso -, a jovem empresária quis transformar o seu doce favorito num manifesto: cookies imperfeitas, tal como as pessoas.

“Feitas artesanalmente na nossa cozinha, fazemos todos os recheios um a um. E é claro que, por serem feitas à mão e não numa indústria com vários químicos, algumas saem mais crocantes, outras mais moles, umas mais altas, outras mais baixas. Então, nunca se vai comer duas cookies iguais e é isso que as torna únicas, porque o imperfeito é delicioso”, explica.

“Não vais ganhar dinheiro a fazer bolachas”: o aviso (errado) da avó

O “olhar tradicional” da avó sobre o mundo dos negócios não foi suficiente para travar o sonho de Sofia. “Ainda bem”, diz hoje. Agora, é a “maior fã” da neta e reconhece que vender cookies é, sim, um negócio onde a empreendedora se tem destacado desde os 25 anos.

Sofia Pontifex e a avó
Sofia Pontifex e a avó DR

O projeto começou em 2020, na cozinha de casa, com um investimento de poucos euros e as primeiras encomendas a surgirem dos amigos. De forma “muito orgânica”, começaram a aparecer pedidos através do ‘passa-palavra’, pelas redes sociais e, “sem saber muito bem como”, Sofia entregava as caixinhas com as cookies através do Uber.

Foi aí que percebeu que aquele caminho já não iria ser viável por muito tempo. Surgiu, então, a solução: uma ghost kitchen - uma cozinha dedicada exclusivamente a entregas.

“Levava as minhas farinhas e os meus açúcares e fazia lá as cookies. Esperava um pedido cair, preparava, assava e entregava”, descreve a jovem.

Mas, mais uma vez, as encomendas não paravam de crescer e a cozinha partilhada já não chegava. Seguiu-se a maior decisão até então: alugar uma loja. No início, dividia o espaço com uma empresa de catering. Enquanto num lado se faziam cookies, no outro cozinhava-se “um pernil ou um frango assado”.

Os clientes não paravam de chegar, a marca crescia e a cozinha começava, de novo, a tornar-se pequena. Foi assim que o espaço se tornou exclusivamente da Funky Chunky, até aos dias de hoje. Na altura, a loja parecia “gigante”, mas um ano e meio depois, voltou a não ser suficiente.

Desde então, o ritmo não abrandou. Em 2025, a marca já soma quatro lojas em Lisboa, emprega cerca de 40 pessoas e vende, por mês, uma média de 25 mil cookies. Mas a promessa está feita: a marca quer, agora, chegar a outras cidades de Portugal.

Em exclusivo à SIC Notícias, a CEO da Funky Chunky revela que, brevemente, as “cookies imperfeitas” vão chegar a todo o país. Com o lançamento do novo site, explica que a aposta passa por criar uma alternativa para todos os que vivem fora de Lisboa e desejam experimentar os sabores que tornam a marca num sucesso.

Sofia não esconde, também, a vontade de levar as cookies de volta ao Brasil. Afinal, foi lá que a ideia começou a ganhar forma, ainda num tempo de muitas incertezas, quando a marca era apenas uma “tal de Funky de Chunky, sem grandes certezas no que ia dar”.

Na ida para o país que a viu nascer, levou na bagagem a ideia embrionária das cookies e começou a testar a marca em São Paulo. Durante algum tempo, chegou a gerir dois negócios em paralelo - em São Paulo e Lisboa -, mas acabou por focar-se apenas em Portugal.

Agora, com os olhos postos no futuro, ambiciona levar as suas ‘imperfeitas’ mais longe e que, “sem dúvida”, o Brasil e outros lugares da Península Ibérica estão na lista para atravessar fronteiras.

“Nunca achei que fosse ter perfil de empreendedora, mas cheguei à lista da Forbes”

Sofia nunca achou que tivesse o perfil certo para ter um negócio próprio. Sempre gostou de certezas e, durante muito tempo, acreditou que criar uma marca não era para si. Mas a vida levou-a noutra direção e, de repente, viu-se a lançar sozinha, entre decisões difíceis e grandes responsabilidades, a Funky Chunky.

“É difícil quando se é o único dono do negócio. Quando temos de lidar com as próprias decisões e com os erros”, admite, reconhecendo que, por outro lado, a liberdade de escolha é uma vantagem.

Apesar do apoio da família, Sofia recorda que os primeiros tempos foram solitários, mas tudo mudou com a chegada de Luísa Campos à produção, que hoje assume o cargo de diretora de operações da empresa, e a quem atribui um papel fundamental no crescimento da marca.

Sofia Pontifex e Luísa Campos
Sofia Pontifex e Luísa Campos Reprodução// Instagram Funky Chunky

A empresária confessa que “trabalhar com pessoas é muito complexo”, mas não esconde a “sorte” que diz ter tido ao longo do percurso, não se lembrando de uma única situação em que se tenha sentido discriminada por ser uma jovem empreendedora.

“Continua a sonhar, pequena Sofia”

Entrar na lista dos 30 jovens mais influentes com menos de 30 anos, da Forbes Portugal, também reconhece que foi "sorte", até porque, com 29 anos, "só tinha mais um ano para fazer isto".

Apesar de não ter mudado o seu dia a dia, Sofia admite sentir um 'sabor especial' de ver reconhecido "o duro trabalho" que tem tido ao longo dos últimos anos.

A fundadora da Funky Chunky realça que é muito fácil as pessoas terem uma visão romantizada do empreendedorismo, mas lembra que estar na lista da Forbes “é só um reconhecimento”, o que não significa que já tenha tudo resolvido, sobretudo porque "todos os dias há algo novo para aprender".

Aos 29 anos, se pudesse voltar atrás no tempo para conversar com a criança que já foi, Sofia diria à sua versão mais nova para "continuar a sonhar", porque "cada dia na vida de um empreendedor é um novo desafio", e é isso que lhe dá determinação e resiliência na vida.

Confessa que não mudaria nada no percurso já feito, porque, atualmente, é a soma das experiências boas e más, que a moldaram e tornaram a pessoa que é hoje.