O relatório conclui que o Hamas conseguiu realizar naquela data o ataque mais mortífero da história de Israel, porque o Exército avaliou mal as intenções do grupo islamita palestiniano e subestimou as suas capacidades, indica o documento.

A investigação militar interna israelita descreve que os ataques ocorreram em três vagas sucessivas e que mais de cinco mil pessoas atravessaram a fronteira da Faixa de Gaza para o sul de Israel naquele dia.

"A primeira vaga [...] incluiu mais de mil terroristas da Nukhba [unidade de elite do Hamas] que se infiltraram sob a cobertura de fogo pesado", referiu um resumo da investigação fornecido pelo Exército.

A segunda vaga incluiu dois mil combatentes e a terceira foi caracterizada pela chegada de outras centenas, bem como de vários milhares de civis.

"No total, aproximadamente cinco mil terroristas infiltraram-se em território israelita durante os ataques", referiu a investigação interna.

O Exército "não podia imaginar" um cenário como o de 07 de outubro, comentou um dos seus oficiais à agência France-Presse (AFP) a propósito das conclusões hoje reveladas.

O mesmo oficial disse que os combatentes palestinianos liderados pelo Hamas apanharam Israel de surpresa, não só pela escala e alcance dos ataques, mas também pela sua brutalidade.

"Muitos civis morreram nesse dia a perguntar-se no seu coração ou em voz alta onde estava o Exército israelita", acrescentou.

As conclusões do documento podem pressionar o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a iniciar um inquérito mais alargado, respondendo a amplas exigências em Israel sobre a tomada de decisões políticas no âmbito dos ataques do Hamas.

Muitos israelitas acreditam que os fracassos de 07 de outubro de 2023 vão além do Exército e culpam Netanyahu por uma política falhada de dissuasão e contenção nos anos que antecederam os ataques.

Esta abordagem, sustentam estas posições, permitiu que o Qatar enviasse malas de dinheiro para a Faixa de Gaza e a marginalização do rival do Hamas, a Autoridade Palestiniana, que é reconhecida internacionalmente.

As principais revelações militares destacam que as forças mais poderosas e bem preparadas de Israel na região interpretaram mal as intenções do Hamas e estavam totalmente despreparados para os ataques de surpresa de milhares de combatentes fortemente armados às primeiras horas da manhã de um importante feriado judaico.

Um equívoco central era de que o Hamas, que tomou o controlo da Faixa de Gaza em 2007, estava mais interessado em manter o território do que em lutar contra Israel.

Os analistas militares previram que, na pior das hipóteses, o Hamas poderia organizar uma invasão terrestre no máximo de oito pontos fronteiriços, segundo uma autoridade do Exército citada pela agência AP, quando, na verdade, o grupo armado palestiniano tinha mais de 60 rotas de ataque.

Dados dos serviços de informações israelitas obtidos após os ataques mostraram que o Hamas esteve perto de organizar a ofensiva em três ocasiões anteriores, mas adiou-a por razões desconhecidas, referiu também a autoridade.

A mesma fonte assinalou que, nas horas que antecederam a invasão terrestre, houve sinais de que algo estava errado, como a introdução de cartões SIM israelitas nos telemóveis dos combatentes palestinianos.

A perceção de que o Hamas não queria a guerra fez com que os decisores políticos evitassem tomar medidas que pudessem ter frustrado os ataques.

O responsável militar israelita realçou que as informações mostram que Yahya Sinwar, um dos mentores do 07 de outubro e que foi morto em outubro passado, começou a planear a ofensiva em 2017.

O primeiro-ministro não assumiu responsabilidades, dizendo que só responderá a perguntas difíceis depois da atual guerra na Faixa de Gaza.

Apesar da pressão pública, incluindo das famílias das cerca de 1.200 pessoas mortas nos ataques de 07 de outubro e das 251 feitas reféns, Netanyahu resistiu aos apelos para uma comissão de inquérito.

Já hoje, o chefe do Governo acusou o Exército de lhe esconder os resultados das suas investigações.

"Estas investigações foram apresentadas ao ministro da Defesa, à liderança das FDI [Forças de Defesa de Israel] e a vários jornalistas. Surpreendentemente, apenas uma parte não recebeu as investigações: o primeiro-ministro", lamenta o chefe de gabinete de Netanyahu, Tzachi Braverman, numa carta às autoridades militares citada pela agência France-Presse.

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