O principal arguido e ex-marido de Gisèle Pelicot, Dominique Pelicot, condenado a 20 anos de prisão por violação agravada, admite recorrer da sentença do Tribunal de Avignon, disse esta quinta-feira a sua advogada, Béatrice Zavarro.

"A única coisa que podemos fazer é recorrer e vamos aproveitar os dez dias que temos pela frente para determinar se queremos voltar a um julgamento com um júri popular", disse a advogada à imprensa minutos depois de tomar conhecimento da sentença proferida no tribunal do sul de França.

Dominique Pelicot, que admitiu ter violado e drogado com ansiolíticos a vítima durante anos para ser violada por dezenas de desconhecidos recrutados na Internet, foi condenado com a pena máxima em França, a primeira sentença do caso proferida contra 51 arguidos, com idades compreendidas entre os 27 e os 74 anos, acusados de agressão sexual e violação.

O presidente do tribunal criminal, Roger Arata, indicou que no final de cumprir a pena a situação de Dominique Pelicot "será sujeita a uma revisão para avaliar a sua segurança" e que este será também registado no arquivo nacional francês de agressores sexuais.

"O meu cliente sai deste processo com responsabilidade assumida e Gisèle Pelicot com dignidade", afirmou.

Béatrice Zavarro deu a entender a sua insatisfação com as sentenças proferidas pelo tribunal do sul de França, que fazem do seu cliente, de 72 anos, o "maestro da orquestra" e dos outros 50 arguidos "músicos" secundários.

"O tribunal diferenciou o meu cliente dos restantes músicos", afirmou a advogada, que se disse satisfeita com a forma serena como o julgamento decorreu.

Dominique Pelicot foi condenado a 20 anos de prisão, dois terços dos quais sem possibilidade de liberdade condicional, enquanto que para os restantes arguidos as sentenças foram inferiores às exigidas pelo Ministério Público, que pedia no mínimo 10 anos de prisão.

O tribunal proferiu penas que vão desde 3 anos de prisão, 2 dos quais suspensos, em que quatro arguidos foram condenados a 5 anos de prisão, parcialmente suspensos, por violação ou tentativa de violação.

Apesar de todos terem sido considerados culpados pelos juízes, seis deles serão libertados porque as suas penas estão isentas ou porque cumpriram parte das suas penas em prisão preventiva. Com 18 arguidos que já se encontravam detidos a serem mantidos em prisão preventiva.

Dos 32 arguidos que compareciam em liberdade, foram emitidos 23 mandados de prisão com efeito imediato e foram emitidos três mandados de prisão preventiva devido ao estado de saúde de três arguidos que serão encarcerados em instalações adequadas.

No total, a Procuradoria tinha pedido 652 anos de prisão para os 51 arguidos, que acabaram por ser condenados a 428 anos atrás das grades, segundo a agência France-Presse.

Todas as partes têm dez dias para decidir se recorrem da sentença, o que implicaria um novo julgamento no Tribunal de Recurso de Nimes com um júri popular.

No fim da audiência, os filhos do casal Pelicot declararam estar "desiludidos" com as penas aplicadas aos arguidos, considerando-as demasiado "baixas", segundo um membro da família Pelicot, que pediu o anonimato.

No lado de fora do tribunal, várias ativistas feministas que foram apoiar Gisèle Pelicot manifestaram a sua desilusão com as sentenças ao gritar "que vergonha para a justiça", segundo o jornal Le Monde.

Ao longo do processo, Gisèle Pelicot afirmou-se como um ícone feminista mundial ao decidir tornar o julgamento público e assistir às sessões com o rosto descoberto "para que a vergonha mude de lado".

"Obrigada Gisèle pela sua coragem. Este julgamento histórico quebrou tabus na sociedade e marcou um ponto de viragem na luta contra a cultura da violação", afirmou a líder do partido Ecologistas, Marine Tondelier, na rede social X na sequência da decisão dos juízes, acrescentando que "a vergonha mudará de lado".