
A presidente da empresa que gere a rede elétrica de Espanha, Beatriz Corridor, desvinculou esta quarta-feira a alta penetração de renováveis do apagão de segunda-feira e realçou a resiliência e rápida recuperação do sistema perante um incidente tão grave.
"Relacionar o incidente tão grave de segunda-feira com a penetração das renováveis não é verdade, não é correto", disse a presidente da empresa Red Eléctrica (REE), numa entrevista à rádio Cadena Ser .
Beatriz Corridor realçou que as renováveis funcionam já "de forma estável", com "mecanismos que já lhes permitem operar praticamente como uma tecnologia, digamos, convencional".
"Não há um problema de quanta geração [de renováveis] entra, já operámos o sistema em condições muito mais extremas de renováveis a entrar no sistema sem qualquer problema de segurança", acrescentou.
A presidente da REE destacou que a geração de energia com fontes renováveis tem "índices de penetração excecionais" na Península Ibérica, com dias em que responde a todo o consumo de eletricidade.
"Operamos o sistema em condições de alta penetração das renováveis nos últimos anos de forma habitual", afirmou, antes de realçar que não houve na segunda-feira "nenhuma circunstância diferente das habituais na geração de renováveis e de interconexão".
Beatriz Corridor sublinhou que as renováveis "não são a causa" do apagão e que "o 'mix'" de geração de energia com renováveis "é seguro" e "pode participar em todos os sistemas de segurança do sistema elétrico".
Betriz Corridor desvaloriza relatório sobre renováveis
No último relatório de contas da empresa, enviado em fevereiro à Comissão Nacional do Mercado de Valores de Espanha e agora citado pela imprensa espanhola, a REE alertou par o risco "desconexões severas" devido à elevada penetração de renováveis, por ser uma produção menos estável e que envolve instalações pequenas e de autoconsumo, entre outros aspetos, o que tem como consequência uma menor capacidade de adaptação a perturbações.
Em relação a este relatório, Betriz Corridor, antiga ministra de governos socialistas, disse ser um documento do Conselho de Administração, sem competências técnicas, a quem não cabe fazer alertas de segurança.
A presidente da REE, uma empresa cotada em bolsa com 80% de capital privado, acrescentou que o relatório responde a exigências de prestação de informações sobre todos os riscos e possíveis incidentes num horizonte de 30 a 50 anos, no âmbito da sustentabilidade e da resposta às alterações climáticas.
Causas do apagão estão "mais ou menos localizadas"
Sobre as causas do apagão, disse que continuam a investigar-se, mas que estão "mais ou menos localizadas", sem dar mais detalhes.
Beatriz Corridor reiterou que, em cinco segundos, houve duas "desconexões massivas" antes do apagão, que colocou a zero todo o sistema e as ligações da Península Ibérica com França.
A REE opera em Espanha "o centro de controlo nacional", mas há no país mais 35, na rede de mais baixa tensão, a de distribuição, com "geradores de todo o tipo de tecnologia", tendo sido pedida informação a todos os operadores que está a ser analisada em detalhe.
Beatriz Corridor realçou que se trata de analisar "milésimo a milésimo de segundo o comportamento do sistema para saber que geração em concreto se desligou e quando".
"São milhões de dados, recebem-se sinais a cada milésimo de segundo", insistiu, para explicar o motivo para não haver ainda uma conclusão.
"Temos o melhor sistema de eletricidade" da Europa
A presidente da REE afirmou que o sistema elétrico ibérico funciona com as medidas de segurança mais estritas da Europa e defendeu que mostrou a sua resiliência e segurança neste apagão, uma vez que foi restabelecido rápida e totalmente, sem ter sido detetada qualquer falha.
"O sistema respondeu perfeitamente, sem qualquer elemento da rede a falhar", sublinhou, antes de reconhecer que "a rapidez em termos elétricos não é a mesma de que precisam os cidadãos".
"Não voltará a acontecer. Cidadãos devem ficar tranquilos"
Beatriz Corredor deixou a garantia de que a falha de energia registada na segunda-feira não voltará a acontecer.
"Estamos em condições de dizer que é a primeira vez que isto acontece em 50 anos (...) partir de hoje, não voltará a acontecer, porque aprendemos e temos todas as medidas de segurança para garantir que isso não acontece", disse.
Apesar de tudo, a presidente da Red Eléctrica recusa demitir-se: "Seria como reconhecer que não se atuou corretamente e não é assim".
REE descarta ciberataque
Numa conferência de imprensa na segunda-feira ao final da manhã, o diretor de operações da REE, Eduardo Prieto, afastou a possibilidade de um ciberataque à empresa ter sido a causa do apagão e explicou que foram detetadas duas "perdas de geração" consecutivas no sudoeste de Espanha segundos antes do colapso.
O diretor da REE acrescentou que "é muito possível que a geração [de eletricidade] afetada possa ser solar", mas sublinhou que todas estas conclusões são preliminares e pediu para serem evitadas especulações sobre a origem do apagão inédito na Península Ibérica.
Mais tarde, o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, disse que as causas do apagão continuam a ser investigadas, mas negou que tenha havido "um problema de excesso de renováveis", de "uma sobreprocura sem resposta" ou de "falta de energia nuclear".
Sánchez garantiu que serão pedidas as "responsabilidades pertinentes" aos privados, antes de se ter reunido com os responsáveis pelas empresas energéticas espanholas ou presentes em Espanha, incluindo a Red Eléctrica.
"O Governo de Espanha vai chegar ao fundo deste assunto" e, perante as conclusões, vai fazer reformas e adotar as medidas necessárias "para que não volte a acontecer", assim como "exigir todas as responsabilidades pertinentes aos operadores privados", assegurou.
O apagão de segunda-feira ocorreu às 11:33 de Lisboa e afetou todo o território de Portugal e Espanha continentais e algumas zonas do sul de França.
Com Lusa