Desde sexta-feira, 10 pessoas foram detidas na sequência de protestos anti-imigração. O número foi avançado pela delegada do governo central espanhol na região de Múrcia, Mariola Guevara, numa publicação na rede social X, revelando a detenção do terceiro suspeito da agressão ao homem de 68 anos em Torre Pacheco que motivou o início dos distúrbios em Múrcia e a chamada "caça" aos imigrantes naquela região.

"Com a detenção em Guipuzkoa do presumível agressor no bairro de Torre Pacheco, já são 10 os detidos por este caso e incidentes posteriores", indicou Guevara .

Trata-se de um jovem de 19 anos, de origem magrebina, que foi localizado pela Ertzaintza, a polícia autónoma do País Basco, na estação do comboio de Errenteria (Gipuzkoa).

Quarta noite de tensão sem detidos ou feridos

Cerca de 50 jovens, alguns de rostos cobertos, invadiram esta madrugada as ruas de Torre Pacheco atirando garrafas de vidro aos agentes contra as autoridades. Perante a agressão, a Guardia Civil respondeu com tiros de bolas de borracha, fazendo com que estes recuassem em direcção ao bairro de San Antonio, conhecido pela sua elevada concentração de população magrebina e onde já tinham sido registados incidentes no fim de semana.

Apesar da violência deste episódio, não houve detenções ou feridos, tendo as autoridades classificado este caso como um incidente isolado. Durante a noite, uma barricada feita de contentores, colocada pelos mesmos jovens, também foi rapidamente retirada.

Os distúrbios e os confrontos entre grupos alegadamente de extrema-direita e residentes em Torre Pacheco (região de Múrcia), onde 30% da população de 40 mil pessoas é imigrante ou de origem estrangeira, surgiram após um homem de 68 anos da localidade ter sido agredido por jovens sem razão aparente na quinta-feira passada, segundo contou a própria vítima a meios de comunicação social.

Guardia Civil evitou confrontos em San Antonio

Já em San Antonio, na mesma noite, uma centena de moradores do San Antonio, em Múrcia, na sua maioria marroquinos, saiu à rua. O grupo concentrou-se por volta das 21h00 locais numa das esquinas do bairro que foi previamente cercado por um dispositivo da Guardia Civil. As autoridades - que se tinham preparado com drones e carros blindados para garantir o controlo do local - conseguiram dispersar o grupo.

À quarta noite de tensão, os imãs das quatro mesquitas do município e alguns líderes dos bairros pediram calma, especialmente aos mais jovens, que se preparavam para um confronto com grupos mobilizados na internet para uma "caça" aos imigrantes que acabaria por ser evitado, segundo o jornal espanhol Diario de Santiago.

Telegram na origem de discurso de ódio que motivou "caçada" contra imigrantes

O jornal El País destaca esta terça-feira o grupo de Telegram que motivou a "caça" aos imigrantes. Esta segunda-feira, o grupo foi encerrado, pelas 20h36 locais, por "incitar à violência", mas não sem antes deixar um rasto de ameaças.

De acordo com o jornal espanhol, não era difícil entrar no grupo, não existia sequer um filtro, bastaria um familiar ou amigo enviar o link e poderia entrar livremente com apenas uma mensagem, como se fosse um código de acesso: "Deportem-nos agora".

Dentro desse grupo, era possível escolher entre 17 chats diferentes com mais de 1.700 membros, cada um deles identificado por comunidade autónoma de Espanha. O de Múrcia cresceu exponencialmente, relata o El País, desde o episódio de violência de três indivíduos contra o sexagenário Domingo Tomás Martínez, em Torre Pacheco, naquela região.

As conversas podem resumir-se a ofensas, ameaças de morte e até imagens de Hitler. Foi neste grupo que se organizou a "caçada" a imigrantes, desencadeando uma onda de tumultos que já conta com quatro noites.