Nuno Fox

Num ciclo promovido pela Biblioteca Nacional, os investigadores Gil Teixeira e Filipe Saavedra reuniram-se para debater e lançar nova luz sobre um dos aspetos mais enigmáticos da obra de Luís de Camões: as suas cartas.

O oitavo episódio do podcast ‘Camões: 500 anos de História e de Lenda’ contou com a moderação de Luís Fagundes Duarte e as intervenções destacam a importância das cartas — muitas vezes ignoradas ou tratadas com desconfiança — como peças fundamentais para compreender as múltiplas facetas do poeta.

Nuno Fox

As cartas, ora vistas como documentos biográficos, ora como construções literárias, revelam um Camões contraditório: entre o sublime épico e o mundano lisboeta, entre a espiritualidade e a sátira.


“É de facto impossível ser indiferente ao filão das cartas de Camões”, defende Gil Teixeira, mas a crítica divide-se entre abordagens moralizantes e outras mais ousadas, que valorizam a riqueza estilística e a ousadia temática dos textos.

Nuno Fox

Já Filipe Saavedra, responsável pela edição do Epistolário Magno, defende a primazia do trabalho filológico. “Eu tomo todas as cartas como sendo de Camões e não vou entrar nessa parte [da discussão da autoria]”, afirma.

Para o investigador, antes de discutir autoria ou intenções, é essencial editar os textos com rigor. Muitas das cartas chegaram até nós não por serem de Camões, mas pelo seu valor literário intrínseco — e circularam em miscelâneas destinadas à leitura pública. “O que é mais importante hoje para nós era o que era menos importante para quem salvou as cartas, que era a autoria. [...] Elas não foram recolhidas por serem de Camões.”

A sessão termina com um apelo claro de todos: é tempo de regressar ao texto, com olhos atentos e sem preconceitos, para que as futuras gerações possam redescobrir o Camões que ainda hoje nos escapa.

SIC Notícias

Oiça aqui o podcast "Camões: 500 anos de História e de Lenda", gravado na Biblioteca Nacional de Portugal, no âmbito das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões.