A neurocientista que ensinou ratos a conduzir em 2019 explicou porque o fez, o que aprendeu com isso e como estas descobertas podem estar relacionadas com os humanos.

Uma experiência de 2019 que ensinou ratos a conduzir carrinhos tornou-se viral, dentro e fora dos meios científicos. Agora, Kelly Lambert, neurocientista e professora na Universidade de Richmond, explica os objetivos por trás do estudo, o que aprendeu com os roedores e as possíveis implicações para os humanos.

O objetivo era compreender como os ratos aprendem novas competências.

“Embora os carros feitos para ratos estejam longe de tudo o que encontrariam na natureza, acreditávamos que a condução representava uma forma interessante de estudar como os roedores adquirem novas competências”, explica agora Kelly Lambert , autora do estudo e professora de Neurociência Comportamental na Universidade de Richmond.

Para isso, 11 ratos foram treinados a conduzir pequenos carros em troca de comida. A equipa separou os ratos em dois grupos: seis viveram em gaiolas padrão de laboratório, enquanto os outros cinco estavam em ambientes enriquecidos, com brinquedos e mais estímulos.

Os ratos em ambientes complexos demonstraram melhor desempenho nos testes de condução e continuaram interessados no carro mesmo sem recompensa alimentar.

"Esta descoberta apoiou a ideia de que os ambientes complexos melhoram a neuroplasticidade: a capacidade do cérebro de mudar ao longo da vida em resposta às exigências ambientais", diz Lambert.

Descoberta surpreendente

O projeto continuou no laboratório de Kelly Lambert "com novos e melhorados veículos operados por ratos" - ROV (rat-operated vehicles), concebidos pelo professor de robótica John McManus e pelos seus alunos. Estes ROV elétricos atualizados – com cablagem à prova de ratos, pneus indestrutíveis e manetes de direção ergonómicas – "são como uma versão do Cybertruck da Tesla para roedores", escreve a cientista.

Lambert notou algo inesperado: os ratos treinados corriam ansiosamente para o lado da jaula quando viam os carrinhos, comportamento que comparou ao do seu cão a pedir um passeio.

“Pareciam sentir excitação ou expectativa, talvez pela viagem, mais do que pela recompensa alimentar”, explicou.

Intrigada, a equipa passou a estudar como a antecipação de eventos positivos afeta o cérebro dos ratos.

Os resultados preliminares indicaram que, quando obrigados a esperar por recompensas, os ratos demonstraram um estilo cognitivo mais “otimista”, melhorando o desempenho em tarefas e mostrando maior ousadia na resolução de problemas.

“Foi uma boa ideia ensinar ratos a conduzir”, conclui Lambert.

Com a experiência, os ratos ajudaram os cientistas a perceber mais sobre como a aprendizagem, a motivação e até a estrutura do ambiente influenciam o cérebro – tanto deles como, potencialmente, dos humanos.