"Infelizmente, nesta semana em referência, o destaque vai para o crime de rapto ocorrido na manhã de ontem na província de Maputo, no bairro de Matlemele, onde foi vítima um cidadão de 22 anos de idade, de nacionalidade chinesa", disse hoje o porta-voz do comando-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Leonel Muchina.

Em conferência de imprensa em Maputo, a polícia moçambicana avançou que durante o rapto a mãe da vítima foi baleada num pé quando tentava socorrer o filho.

O Procurador-Geral da República de Moçambique (PGR), Américo Letela, admitiu em 29 de abril dificuldades para identificar e neutralizar os mandantes dos crimes de raptos, denunciando o envolvimento de membros da polícia e de magistrados no crime.

"Continuamos a registar situações de algumas pessoas com responsabilidade na prevenção e combate deste crime, como por exemplo alguns agentes da Polícia da República de Moçambique, que se envolvem na preparação, facilitação e execução de raptos, bem como magistrados que, motivados por esquemas de corrupção, garantem a impunidade ou favorecem os infratores, por via das suas decisões", apontou Américo Letela.

Os dados apresentados pelo Ministério Público indicam que em 2024 foram instaurados 32 processos relativos a este tipo de crime, com o resgate de pelo menos 13 vítimas e detenção de 21 suspeitos, apreensão de seis armas de fogo e desmantelamento de três cativeiros.

Em 10 de abril, o ministro do Interior de Moçambique admitiu que o crime de rapto é complexo, organizado e transnacional, e propicia a fuga de capitais, além de criar sentimentos de "insegurança", apelando à sociedade para denunciar suspeitos de envolvimento.

A polícia moçambicana registou desde 2011 a março deste ano pelo menos 205 crimes de rapto, avançou o Governo, que admite "desafios" para travar estes acontecimentos.

Em conexão com os casos, a polícia moçambicana deteve pelo menos 302 pessoas, tendo sido desativados diversos locais usados como cativeiros e apreendidas armas de fogo, incluindo bens móveis e imóveis.

Desde 2011, uma onda de raptos afeta Moçambique e as vítimas são, sobretudo, empresários e os seus familiares, principalmente pessoas de ascendência asiática, um grupo que domina o comércio nos centros urbanos das capitais provinciais no país.

Cerca de 150 empresários foram raptados em Moçambique nos últimos 12 anos e uma centena deixou o país por receio, segundo números divulgados em julho pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique, que defendeu ser tempo de o Governo tomar medidas para combater este tipo de crime.

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