
O presidente do CDS-PP afirmou hoje que a proposta de tetos às rendas defendida pelo BE é da autoria do ditador Salazar, e a bloquista Joana Mortágua acusou o Governo de "cobardia e arrogância" por rejeitar esta medida.
Estas posições foram defendidas por BE e CDS-PP num debate emitido pela RTP no qual a AD se fez representar pelo líder centrista, Nuno Melo, ao invés do primeiro-ministro e líder do PSD, o que levou os bloquistas a indicarem a deputada e cabeça de lista por Setúbal, Joana Mortágua.
O tom foi cordial mas todos os temas separaram os dois protagonistas, a começar pela habitação e, em concreto, a proposta bloquista de colocar tetos às rendas.
Joana Mortágua acusou a AD de ter implementado medidas que aumentaram os preços das casas e argumentou que o país "já não aguenta a lengalenga da construção".
"É verdade que nós precisamos de construção, mas veja bem, eram 26 mil, depois 59 mil, a seguir 130 mil, é o milagre das rosas da construção da habitação, e as pessoas não podem ficar à espera de um milagre", ironizou, insistindo que esta medida funciona nos Países Baixos.
Por seu turno, Nuno Melo defendeu que "a origem do problema" é a falta de oferta de habitação e atirou: "Eu sei que os senhores não acreditam muito nas dinâmicas do mercado mas como não há casas, esse é um problema que tem que ser resolvido através da construção".
"O BE tira agora da cartola esta coisa do teto das rendas como sendo uma grande inovação, que não é. A medida é de 1948, foi introduzida pelo professor Salazar, durante o Estado Novo, saíamos de um surto inflacionário no pós-guerra e não funcionou em Portugal e não funciona fora", argumentou.
Nuno Melo acrescentou ainda que "o Kadaster, que é a entidade responsável pelos registos em Amesterdão, e o presidente do Banco Central da Holanda dizem que a lei tem que ser revertida porque tem levado a uma retirada crescente de investidores no mercado de arrendamento, à erosão do parque habitacional para arrendamento e à redução do número de casas disponíveis para arrendamento".
"O exemplo que dão é falso, mas vendem-no como verdadeiro", acusou.
Na resposta, Joana Mortágua insistiu que a construção é necessária mas vai demorar tempo.
"Eu não sei se é de uma enorme arrogância ou se é de uma enorme cobardia face aos interesses que estão por trás da especulação imobiliária dizer que a Europa inteira está errada. Quando a Europa inteira conseguiu controlar, se não diminuir, preços das casas", atirou.
Na saúde, Nuno Melo recuou à geringonça para responsabilizar o BE pelo agravamento da situação, ao "atirar ideologia para cima dos problemas".
O centrista deu como exemplo o fim das parcerias público-privadas e considerou "quase criminoso" o que se fez no Hospital de Braga. A deputada bloquista respondeu que "ideológico é encerrar urgências para as entregar aos privados".
Quando o debate entrou no tema da imigração, Joana Mortágua acusou o Governo de ter "feito de conta" que limitou a entrada de imigrantes no país e até citou o ex-líder do CDS-PP Paulo Portas.
"Os trabalhadores vão continuar a entrar. E sabe porque é que vão continuar a entrar? Quem explica é Paulo Portas, quando pergunta: quem é que nos vai servir à mesa nos restaurantes? Quem é que vai fazer os quartos dos hotéis? Quem é que vai para as gruas da construção civil? Quem é que faz a entrega das compras 'online'? Portugal precisa de imigração regulada, de imigração regularizada", disse.
A bloquista rejeitou que os imigrantes venham "por encomenda dos empresários" e pediu respeito por estes cidadãos.
Nuno Melo -- que gracejou que ouvir a adversária citar Paulo Portas significa que "nem tudo está perdido" -- acusou o BE de uma "demanda ideológica" que condena os imigrantes "à exploração e à fome".
Na Defesa, o ministro rejeitou que o investimento nesta área seja "um papão" que vai tirar verbas de outros setores, e Joana Mortágua acusou Melo de estar "em negação" ao apoiar a NATO que "é controlada pelo melhor aliado de Putin", Donald Trump.