A agência Associated Press (AP) recorda que um júri tinha considerado, em fevereiro, Hadi Matar, de 27 anos, culpado de tentativa de homicídio e de agressão.

Salman Rushdie não esteve hoje em tribunal para ouvir a sentença do seu agressor, mas apresentou uma declaração de 'impacto na vítima'.

O escritor, de 77 anos foi a testemunha principal do caso, tendo durante o julgamento descrito como acreditou que estava a morrer, quando um homem mascarado lhe espetou uma faca na cabeça e no corpo mais de uma dúzia de vezes.

Salman Rushdie perdeu o olho direito e sofreu danos permanentes nos nervos da mão, decorrentes deste esfaqueamento.

No ano passado editou o livro de memórias "Faca -- Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio", no qual recorda os acontecimentos daquele ataque e o longo processo de recuperação.

Antes de conhecer a sentença, Hadi Matar fez uma declaração alegando liberdade de expressão, na qual apelidou Salman Rushdie de hipócrita.

"Salman Rushdie quer desrespeitar as outras pessoas. Ele quer ser um 'bully', ele quer fazer 'bullying' sobre outros. Não concordo com isso", afirmou, citado pela AP.

Hadi Matar foi condenado à pena máxima de 25 anos pela tentativa de homicídio do escritor e a sete anos por ter ferido o moderador da palestra de Rushdie, Ralph Henry Reese, que estava no palco com ele.

De acordo com o procurador público Jason Schmidt, do condado de Chautauqua, onde aconteceu o ataque, as duas penas serão cumpridas em simultâneo, uma vez que ambas as vítimas ficaram feridas na mesma ocasião.

Hadi Matar será agora julgado num tribunal federal, por suspeitas de crimes de terrorismo, por alegadamente ter fornecido ajuda material à milícia xiita libanesa Hezbollah.

Nascido em Bombaim, em 1947, Salman Rushdie é autor de romances, contos para a juventude e ensaios, e recebeu em 1981 o Prémio Booker pelo livro "Os filhos da Meia-Noite".

Rushdie incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação da obra "Versículos Satânicos", em 1988, que levou o fundador da República Islâmica, o aiatola Ruhollah Khomeini, a emitir uma 'fatwa' (sentença de morte), contra o escritor.

Depois disso, passou anos escondido e com proteção policial, mas regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da sentença, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de o matar, embora a 'fatwa' nunca tenha sido oficialmente revogada.

O romance mais recente de Salman Rushdie, "Cidade da Vitória", concluído um mês antes do atentado, foi editado em 2023 e também está publicado em Portugal.

No ano passado, quando publicou "Faca - Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio", justificou a a obra: "Compreendi que tinha de escrever este livro [...] antes de poder passar a qualquer outra coisa. Escrever seria a minha maneira de possuir o que acontecera, assumir o seu controlo, torná-lo meu, recusar-me a ser uma mera vítima. Responderia à violência com a arte."

JRS (SS) // MAG

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