"A assistência humanitária está a beneficiar 715 mil pessoas que se encontram nos centros transitórios de acomodação e nas famílias acolhedoras na cidade de Pemba e nos distritos circunvizinhos", assim como em Palma, depois do ataque armado de 24 de março àquela vila, referiu Carlos Agostinho do Rosário.

As vítimas da violência armada em Cabo Delgado (norte do país) têm recebido abrigos temporários, bens alimentares e não alimentares e assistência sanitária, acrescentou o primeiro-ministro moçambicano, depois de uma pergunta da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) sobre o ponto de situação da ajuda humanitária.

Organizações humanitárias e os próprios deslocados têm classificado a distribuição de ajuda como insuficiente, queixando-se de fome e falta de abrigos, entre outros problemas.

Na última semana, o Programa Alimentar Mundial (PAM) fez o mais recente eco dessas limitações ao lançar um apelo aos doadores no valor de 82 milhões de dólares (68 milhões de euros) para dar assistência a 750.000 pessoas, 78% das 950.000 pessoas que segundo o PAM enfrentam fome severa, entre deslocados e famílias de acolhimento.

Na região centro de Moçambique, prosseguiu o primeiro-ministro, cerca de oito mil pessoas também estão a receber assistência humanitária devido à emergência provocada pelos ataques armados da Junta Militar, uma dissidência da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição.

No total, o primeiro-ministro assinalou que, atualmente, o país regista 723 mil pessoas deslocadas devido à violência armada no norte e centro do país, o correspondente a 157 mil famílias.

Carlos Agostinho do Rosário frisou que o aumento do fluxo de deslocados levou o Governo a criar um grupo de trabalho que elaborou um plano de ação para o reforço da assistência humanitária, criação de condições para a rápida normalização da vida das pessoas afetadas e retoma da atividade produtiva.

O primeiro-ministro moçambicano reiterou a já conhecida posição do executivo de que o combate ao "terrorismo" em Cabo Delgado "é responsabilidade primária dos moçambicanos", mas essa luta só terá sucesso com cooperação internacional, dado o caráter transnacional dos grupos armados que atuam na região.

"É neste âmbito que o nosso país acolheu, recentemente, a reunião da Dupla Troika da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] que visa delinear estratégias conjuntas para prevenção e combate ao terrorismo, que representa uma ameaça para a região, no quadro da do Pacto de Defesa Mútua da SADC", frisou Carlos Agostinho do Rosário.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

Na região centro, a Junta Militar da Renamo contesta a liderança da organização e as condições para a desmobilização decorrentes do acordo de paz, sendo apontada pelas autoridades como a responsável pelos ataques armados na zona que já mataram, pelo menos, 30 pessoas desde 2019.

PMA // JH

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