"A grande diferença em relação à primeira vaga é o número de doentes que entram por dia e nós não nos podemos ver livres, entre aspas, dos doentes que já cá estão", diz à agência Lusa o diretor do Serviço de Medicina II, António Pais Lacerda.

Desde o início da pandemia em março que este serviço recebe os doentes com infeção SARS-CoV-2. À medida que foi necessário, o número de camas foi aumentando e poderá ainda aumentar "à custa de não haver tantas camas" para doentes não-covid-19.

Cada doente tem um tempo demorado de estadia no hospital: "Nunca são doentes para estar uma semana", mas 15 dias, três semanas, dependendo das complicações que vão tendo.

A nova norma de critérios de cura da Direção-Geral da Saúde veio beneficiar "um pouco" porque já não obriga os doentes a ter uma análise negativa para ter alta.

Os doentes que já estão sem sintomas, sem febre e sem necessidade de oxigénio, apesar de ainda poderem ter testes positivos, já não estão infecciosos e podem ir para outra zona do hospital, para casa ou para alguma instituição, explica António Pais Lacerda.

Nos casos em que a situação do doente piora, é transferido para o Serviço de Medicina Intensiva, onde atualmente "há um pouco menos de doentes internados" relativamente à primeira fase da pandemia, segundo o presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que integra o Hospital Santa Maria.

"Não sabemos se o crescimento irá ou não ultrapassar aquilo que foi a primeira fase, mas estamos preparados para isso quer do ponto de vista da enfermaria, quer do ponto de vista de cuidados críticos", assegura Daniel Ferro, adiantando que, no dia da reportagem da Lusa, realizada na terça-feira, estavam internados no hospital 60 doentes e que são internados diariamente três ou quatro doentes.

No Serviço de Medicina Intensiva, imperam as mesmas regras do início da pandemia, mas com os profissionais mais preparados com o conhecimento que adquiriram ao longos de meses a acompanhar doentes que estão entre a vida e a morte.

Todos os dias, os profissionais travam ali duas batalhas: responder à mínima alteração detetada nos doentes e vestir e despir o equipamento de proteção individual que obriga a um ritual rigoroso.

Dos doentes internados, apenas um estava em coma induzido, os restantes estavam conscientes, mas todos entubados e ligados a máquinas de onde sai um emaranhado de fios.

O diretor do serviço, João Ribeiro, não quis falar de números, afirmando que, neste momento, "as grandes preocupações que devem presidir" são "a proteção do cidadão e do sistema de saúde".

"Essa é a grande obrigação do Estado e de todos os seus agentes que vai desde a tutela aos diretores dos serviços de ação médica", sublinha o intensivista.

Neste momento, vinca, "os problemas são realmente muito distintos e ultrapassam muito a dimensão estritamente clínica e que estão relacionados com o impacto de uma doença que tem esta expressão pandémica".

"É fundamental tomarmos consciência que há um imperativo obviamente científico (...) mas depois há um imperativo que em termos muito globais é da sociedade naquilo que é a sua plenitude", afirmou.

Para João Ribeiro, "há uma responsabilização que é absolutamente transversal e que tem de se exprimir", defendendo que "se houver uma resposta sincronizada" haverá "melhores condições de conseguir os melhores resultados possíveis".

"Não vamos conseguir de todo controlar em absoluto a expressão da pandemia, mas podemos alterar e mediar um pouco aquilo que é a sua expressão na sociedade", considerou, desenvolvendo conceitos para conseguir o "achatamento da curva" epidémica, essencial para proteger o cidadão e o SNS.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 44,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 2.428 pessoas dos 132.616 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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